Takahashi Teegul Sky Patrol II

Montagem equatorial alemã

A Teegul Sky Patrol II é uma das mais pequenas montagens equatoriais actualmente disponíveis no mercado. Apesar das suas reduzidas dimensões, a capacidade de carga aconselhada pelo fabricante e que na prática é a efectiva, permite a utilização de telescópios e acessórios até 3 kg tanto em utilização visual como em astrofotografia, o que a torna ideal para ser utilizada com telescópios refratores e catadióptricos até 100mm de abertura.

TG-SP II
Takahashi Teegul Sky Patrol II

À semelhança do que acontece nos telescópios, cuja a utilização é geralmente inversamente proporcional à sua abertura, também nas montagens poderá ser verdade esta tendência, resultando numa maior utilização em relação a outras montagens maiores e mais pesadas. Na realidade nesse aspecto não restam grandes desculpas para a não utilização desta montagem.

Uma das principais razões, senão a única, para se adquirir uma montagem deste tamanho é sem dúvida a sua grande portabilidade. É verdadeiramente notável o seu pequeno tamanho, só sendo mesmo possível apreciar tal facto vendo uma delas "ao vivo". Mas apesar do seu diminuto tamanho, apresenta uma qualidade de construção e de materiais em tudo semelhante às bem maiores e robustas montagens da marca, tendo entre outras, a característica cor de assinatura Takahashi verde-lima rugoso "industrial" assim como a sua qualidade de acabamento e materiais.

Especificações

Referência: TG-SP II

A Teegul Sky Patrol II é uma montagem do tipo equatorial alemã com um motor passo-a-passo controlado por relógio de quartzo no eixo de em ascensão direita. O eixo de declinação é rodado manualmente.

Descrição

Numa primeira análise esta montagem evidencia desde logo um excelente e bem pensado design combinado com uma construção sólida, quase de especificação industrial, ou por outras palavras, com a qualidade e robustez para suportar trabalhos intensivos em condições menos propícias. Eu considero este aspecto um pré-requisito para equipamento que tem que suportar as condições agrestes que vão desde extrema humidade, temperaturas extremas e vento que por muitas vezes sucedem nas (geralmente boas) sessões de observação astronómica realizadas no campo.

TG-SP II
Takahashi Teegul Sky Patrol II
4 vistas da montagem salientando o seu design equilibrado e apelativo.

A montagem é constituída por três blocos e uma placa em duro-alumínio. O bloco que alberga o motor executa o movimento de ascensão direita, podendo este eixo ser também movido manualmente através de um manípulo. Neste bloco estão também as duas rodas dentadas dentadas gémeas que transmitem ao sem-fim (interno) o movimento Ascensão Direita (A.D). Este bloco do motor está inteligentemente situado numa posição que permite também que sirva de contra-peso.
O bloco da declinação apenas pode ser rodado manualmente através de um manípulo. Ambos os blocos são fixados numa placa que serve de eixo sendo ainda a este aparafusado o veio dos contrapesos. Os manípulos são as únicas peças em plástico presentes nesta montagem mas no entanto enganam bem à primeira vista.

Cada um destes blocos estão unidos por apenas dois parafusos interiores que usando uma chave de Allen de 2mm, se pode apertar dois pernes que entram nas cavidades respectivas do bloco da declinação que entram em dois buracos na caixa do motor.

Este modo de ligação aparentemente pouco fiável tem-se revelado no entanto eficaz, isto é, desde que não se exagere muito no peso da carga. É no entanto um importante pormenor a ter em conta porque pode causar a perda de ortogonalidade, ou por outras palavras, a perda do perfeito alinhamento entre os dois eixos que irá causar efeitos particularmente nefastos num posterior alinhamento polar.
É na prática obrigatório a verificação do bom alinhamento entre os dois blocos, especialmente se se pretende fazer astrofotografia e usar cargas maiores que as especificadas pelo o fabricante.

vTG-SP II
Takahashi Teegul Sky Patrol II
Montar e desmontar a Teegul é uma questão de alguns minutos, sendo apenas necessário apertar 4 roscas.
As 4 peças maiores permitem arrumá-la num estojo com a dimensão mínima menor que 20 cm

Base de montagem

TG-SP II
Adaptador 40° (TG-SV)
Este adaptador (opcional) pode-se montar num qualquer tripé fotográfico e proporciona uma inclinação de 40° necessária para a Teegul poder trabalhar em modo equatorial (obviamente em locais com a latitude perto desse valor).
Existe também disponível um outro adaptador opcional (TG-SH) que permite uma ajustar para uma inclinação variável.

É frequente as montagens equatoriais alemãs possuírem um base que torna possível ajustar em altitude e azimute os eixos de declinação e ascensão de modo a tenha a correcta na direcção do Pólo Celeste.
A Teegul simplesmente não possui essa base . A montagem tem que obrigatoriamente ser fixada num suporte com a inclinação da latitude do local de observação ou de preferência numa qualquer plataforma equatorial que permita estes ajustamentos.

A fixação da montagem é feita através de um parafuso de 1/4" que é a medida standard das roscas das câmaras fotográficas de 35mm, sendo portanto possível usar qualquer tripé fotográfico. Não se pode considerar que seja uma forma segura e durável de fixação mas no entanto não se tem revelado problemático com excepção quando se encontra sobrecarregada.

A razão da escolha de tão pequena rosca foi com certeza a compatibilidade com tripés fotográficos de pequeno porte, mas considero que deveria ser mais adequada a medida da também standard rosca de 3/8" que é a medida de rosca dos tripés fotográficos de médio e grande porte, sendo estes bem mais adequados para uma montagem com este peso.
Sem dúvida que esta medida de rosca inspiraria mais confiança e fiabilidade, especialmente quando o peso total pode chegar perto dos 7 ou 8 kg, sobretudo porque tem que ter sempre em consideração tanto o peso da montagem, como também o peso dos instrumentos e acessórios tais como telescópios, câmaras e objectivas e ainda restantes acessórios.

TG-SP II
Base equatorial improvisada
Para se poder obter um rigoroso alinhamento polar, que é obrigatóriopara a astrofotografia, é necessária uma plataforma ajustável em altitude e em azimute.
A cabeça equatorial da foto acima foi adaptada de um tripé da Meade para o ETX90, tendo sido feita uma placa em alumínio para a fixação da Teegul. Não é a solução perfeita mas no entanto tem servido
TG-SP II
Base equatorial improvisada
Apesar do aspecto sólido, o facto de ter apenas um ponto de fixação obriga a utilização de uma anilha para aumentar a aderência entre a montagem e a placa para evitar o escorregamento. É lamentável a rosca ter uma medida tão pequena porque evitaria esta situação garantidamente

Comando de Mão

O comando de mão tem uma aparência espartana mas no entanto funcional. Tem o aspecto característico e típico do equipamento Takahashi, que aliás aprecio bastante. Não podia ser mais simples. Um botão para parar o motor (azul) e outro para acelerar a motor de ascensão direita para o dobro da velocidade (vermelho) e um outro para ligar e desligar o motor que possui um LED vermelho que pisca se a bateria estiver com pouca carga.

Ao contrário da grande maioria dos comandos, a função destes botões não é propriamente para centrar os alvos a observar, mas sim efectuar correcções quando se está a executar um seguimento de uma fotografia ou então para efectuar pequenos ajustes em observações com grandes magnificações.

Numa montagem rigorosamente alinhada pelo o eixo de rotacional da Terra apenas seria necessário corrigir as variações inerentes aos motores e engrenagens ou alguma flexão (erro periódico e falta de balanceamento e refracção atmosférica), que podem causar atrasos ou adiantamentos em relação à velocidade sideral, sendo apenas necessário parar o motor quando se adianta, ou então acelerar quando se atrasa, daí a necessidade de apenas possuir estes dois botões.

Tudo isto seria suficiente se o alinhamento polar fosse sempre perfeito. Normalmente um alinhamento polar usando o método da deriva estelar ("star-drift") poderá ser executado em cerca de meia hora ou então demorar até mais de uma hora, consoante o rigor exigido para a distância focal e tempo pretendido para fotografar. Para quem não tem a sorte de possuir um observatório com a montagem fixada permanentemente, o procedimento de alinhamento polar é sempre obrigatório e incontornável independentemente do tamanho da montagem.

TG-SP II
Comando de mão

A falta de qualquer ajuste eléctrico remoto da declinação apenas poderá ser considerado inconveniente por ter de ser substituído por um bom alinhamento polar. Com um alinhamento polar rigoroso não será necessário corrigir a declinação excepto para compensar a refracção atmosférica. Mas no entanto uma eventual correcção de declinação é sempre possível de executar usando o ajuste manual de declinação, que tem precisão e suavidade suficiente para que com algum cuidado e prática ser possível fazer correções em declinação com apenas alguns segundos de arco.

Motor e Engrenagens

As montagens equatoriais são conceptualmente simples de desenhar e fabricar, sendo o seu maior problema a precisão de fabrico requerida para as engrenagens que são responsáveis por compensar o melhor possível o movimento do nosso planeta.

No caso da Teegul é utilizado um motor passo-a-passo com resolução de 24 passos e uma desmultiplicação de 1:500. Isto resulta numa rotação de roda dentada com 40mm de diâmetro e 50 dentes em cada 17 minutos e meio. Esta por sua vez está engrenada a uma outra idêntica roda dentada que para além de transmitir movimento permite a utilização o manípulo manual.

As engrenagens
As engrenagens

Não posso garantir que tem um sem-fim na base de rotação em ascensão direita porque ainda não tive a coragem de desmontar essa bloco da montagem (ainda não foi necessário). Mas no entanto adivinha-se, porque apresenta um período bem definido e demarcado como o teste de erro periódico realizado demonstra.

A configuração
A configuração

Usando uma webcam e a opção de "Autoguiding" do programa IRIS é possível gerar um ficheiro ascii onde são guardadas as correções DEC/RA ao longo do tempo. Foi utilizado um Takahashi FC-60 juntamente com uma Powermate 2.5x resultando numa amostragem de 1 pixel por segundo de arco.

Gamma Andrómedae
Gamma (γ) Andromedae

Por razões de conveniência (CCD pequeno e pouco sensível) foi utilizada uma estrela dupla brilhante para determinar a escala em pixel/", sendo esta a bonita Gamma (γ) Andromedae (Almach) tendo depois usado a separação (9,57") publicada no "Tycho Double Star Catalogue# (TDSC) (Fabricius+ 2002). A estrela teste foi alfa Ceti (Menkar) com declinação de 4° para minimizar algum provável mau alinhamento, tendo esta transitado o meridiano durante o teste.

Erro Periódico
Erro Periódico
O gráfico evidencia um erro periódico de +-15 segundos de arco com alguns picos durante os 26 minutos decorridos neste teste.
A curva é ajusta-se bastante a uma curva sinudoisal denotando comportamento previsível sem qualquer sobressalto.
Também é óbvio um período de ~8.5 minutos.
Gráfico foi normalizado tendo sido subtraído um pequeno desvio constante causado provavelmente por o movimento do motor não ter exactamente a velocidade sideral e/ou alguma falta de balanceamento
Erro Periódico
Erro Periódico
Neste gráfico baseado numa secção do gráfico anterior verifica-se um erro periódico de +-4 segundos de arco num período de 1 minuto.
O aspecto "espinhudo" é devido à turbulência atmosférica.
A Teegul desmantelada
A Teegul desmantelada
Reparar nas ferramentas necessárias para desmontar o motor, engrenagens e comando,apenas uma chave de allen de 2mm e uma pequena chave de fendas.
O número de peças é pequeno. Existem "Legos " bem mais complicados de montar...

Observando uma estrela a 250x é possível reparar no quase imediato tempo resposta do motor e das engrenagens quando se acelerava para 2x a velocidade sideral ou então quando se parava o motor, mesmo quando carregada com 4 ou 5 quilos.
Mas no entanto, o próprio motor apresenta uma folga que se torna bem perceptível quando se roda manualmente o eixo de A.R. Folga essa que demora uma boa dúzia de segundos a ser compensada, tendo que se ter em conta quando se pretende centrar uma estrela para a guiamento.

Para quem conheça valores típicos de erros periódicos em montagens, pode interrogar-se porque razão engrenagens tão pequenas e com tão poucos dentes ainda conseguem ter erros periódicos que não se podem considerar nada maus. Numa palavra: Precisão.

O diâmetro das rodas dentadas e o seu número de dentes só pode ser considerado como vantagem em rodas dentadas construídas como o mesmo grau de precisão. As rodas dentadas da Teegul embora pequenas e com poucos dentes, têm um rigor de construção muito alto daí a sua performance, ficando também explicada a performance puramente mecânica das montagens maiores como é o caso da EM-10, EM-200 e por aí acima (maiores e com mais dentes e mesma qualidade).

É notável as performances destas montagens sem qualquer auxilio a circuitos electrónicos de correcção como o PEC (Periodic Error Correction), embora a sua utilização em montagens com engrenagens com estes padrões de qualidade as torne absolutamente perfeitas.

Mas retornando à Teegul, esta não possui circuito de PEC e nem sequer possibilidade de ser corrigida electronicamente por um CCD guia. É uma montagem bastante simples e básica, puramente mecânica, mas no entanto volto a salientar com qualidade. Qualidade essa que permite com alguma perseverança e dedicação poder executar observações e tarefas que para as quais não foi realmente concebida.

Energia

Mala de transporte
Mala de transporte
Esta mala foi concebida para proteger e transportar material fotográfico, portanto mais que adequada para o também sensível material óptico e mecânico de Astronomia.
O estojo é da marca LowePro sendo o modelo Photo-Trekker AW.
Este modelo pode ser mochila e ainda carregar um tripé se necessário, tendo ainda a vantagem de poder ser bagagem de mão em aviões.

Graças à pouca electrónica e do pequeno motor passo-a-passo, as suas necessidades energéticas também são pequenas, resultando numa grande autonomia.

Com apenas quatro pilhas tipo A alcalinas de 1.5V (das maiores) são proporcionadas para mais de 20 horas de utilização contínua segundo o fabricante, mas no entanto é fácil construir um cabo e substituir por uma bateria de 7amph que proporciona virtualmente uma autonomia de meses em utilização regular, com a vantagem adicional de ser menos imune às temperaturas baixas que as baterias normais, podendo ainda ser utilizada simultaneamente para as resistências anti-humidade e outros acessórios. O led do comando monitoriza a carga da bateria, piscando caso esteja fraca.

Transporte e estojo

A portabilidade e autonomia é um dos factores mais atraentes, sendo possível colocar toda a montagem, telescópio, oculares e diversos acessórios numa mala de fotografia tal como a foto abaixo mostra.

Aplicações

Visual

É a aplicação mais óbvia e de longe a mais usada. O peso máximo de 2,5 quilos poderá ser excedido em observação visual desde que devidamente compensado com contra-pesos. Tenho conhecimento de utilizadores montarem telescópios com 3 e 4 kg para observação visual. O pequeno motor tem força suficiente para carregar sem aparentemente fazer qualquer esforço. Os únicos problemas que poderão surgir são o da não existência de suficiente aderência na base da montagem ou a perda de ortogonalidade dos eixos devido às razões já acima escritas na secção da "Descrição".

Configuração "leve"
Configuração "leve"
Um bom tripé basta para muitas das tarefas, como observação solar, eclipses e planetas.

Em observação visual praticamente só utilizo e considero geralmente suficiente, um tripé médio de fotografia, nomeadamente o Gitzo G1224 com a placa de base inclinada a 40°, inclinação que está suficientemente perto da latitude dos meus locais habituais de observação (39°30' N).

Acho tripé adequado mesmo em observação em grande magnificação +200x. Se houver vento moderado ou forte, ou se for utilizada em local público geralmente utilizo o excelente tripé de madeira Berlebach para maior estabilidade e segurança.

Astrofotografia afocal

Uma das minhas utilizações mais frequentes é a fotografia solar em modo afocal. Este tipo de fotografia por ser muito rápida (tipicamente 1/500 s ou mais rápido) não requere alinhamento preciso, bastando apontar a montagem na direcção geral do Norte, não sendo sequer necessária a utilização do motor de A.D, exceptuando o caso de se pretender que montagem siga o Sol em dias muito nublados. Também neste tipo observação, um bom tripé de fotografia será suficiente.

Lunar Eclipse
Eclipse lunar
exposição de 8 s

Em fotografia lunar e de céu profundo já será aconselhado a utilização de um tripé mais robusto e possibilidade de alinhamento polar pelo menos aproximado, devido a que as exposições obrigatoriamente mais longas assim o obrigam, assim como a utilização de adaptadores (mais peso) para segurar mais convenientemente a câmara à ocular.

As exigências da fotografia afocal são iguais senão maiores que na fotografia em foco primário, o único inconveniente é mesmo o de geralmente não ser possível retirar as objectivas às câmaras digitais compactas (leia-se baratas), mas entretanto já começam a surgir SLR digitais a preços bem mais acessíveis, que permitem fotografia em foco primário, tal como nas câmaras SLR tradicionais.

Astrofotografia "às cavalitas"

Esta é a forma de fazer fotografia mais adequada para esta montagem. O termo "piggyback" pode-se-á traduzir livremente como "às cavalitas".

Geralmente entende-se que a câmara (ou até outro telescópio) está "às cavalitas" do telescópio, mas no caso da Teegul geralmente a câmara é colocada "às cavalitas" da montagem e não do telescópio. Sendo uma montagem tão pequena, é desejável que a própria câmara e objectiva sirva de contra-peso para reduzir ao máximo o peso total do aparato, mas no entanto esta configuração tem o inconveniente de não permitir qualquer eventual correcção em declinação da câmara.
A configuração habitual consiste em pôr o telescópio a seguir uma estrela em alta magnificação (250x), fazendo correções ao longo da exposição. O limite é apenas a paciência do fotógrafo ou quando já não sente os dedos dos pés, mas pessoalmente raramente ultrapassa os 10 minutos.

O equipamento normalmente utilizado é o seguinte:

"às cavalitas"
"às cavalitas"
Esta é a configuração habitual para astrofotografia de 300mm de distância focal.
É na prática o (meu) limite máximo para a Teegul em astrofotografia.

Esta será talvez a forma mais desconfortável de fazer astrofotografia.
Seguir visualmente uma estrela a mais de 200x durante 5, 10, 20 minutos muitas vezes no meio do mato, com frio, humidade e vento durante todo esse tempo não se pode considerar propriamente uma actividade confortável.

Mas apesar de tudo é extremamente gratificante quando uma ou outra foto sai bem, porque são fotos muito pessoais, sem praticamente qualquer auxilio exceptuando o conhecimento e dedicação do seu autor ajudado apenas por um comando de dois botões que fazem parar e arrancar um pequeno motor na tentativa de acompanhar a rotação do nosso planeta o melhor possível. Essas imagens por muito pouco profundas, desfocadas ou pouco expostas que sejam, têm um valor mais pelo o esforço pessoal , do que propriamente a técnica, que geralmente se perde no meio das baterias, computadores, autoguiders e CCDs. É como beber vinho pisado com os nossos próprios pés - tem outro sabor... mesmo que mau...

La Palma
La Palma
50mm f/4 5' em Fuji Superia 1600
Messier 35 em Gémeos
Messier 35 em Gémeos
Exposição de 5' com objectiva de 300mm a f/4.5

À semelhança de outras montagens, comportamento do motor quando sobe ou desce é diferente, especialmente quando o tubo está em posições extremas, sendo muitas ocasiões praticamente impossível balancear. Onde me parece mais certa é quando o alvo a fotografar está em +- 15 graus de transitar o meridiano local.

Obviamente que nos tempos que correm com a (algo avultada) quantia certa de dinheiro é possível evitar todos estes inconvenientes e comprar equipamento e observatórios que permitem fazer bem mais confortavelmente imagens que são simplesmente impossíveis de se executar com uma montagem tão simples e manual. Na verdade tirar boas fotografias usando uma Teegul por ser absolutamente manual é garantidamente mais trabalhoso e mais difícil...

Astrofotografia de pequena e média e grande distância focal

A fotografia planetária com webcam também se pode executar com relativo conforto, mesmo com comprimentos focais superiores a 3 metros, bastando a montagem estar alinhada até com uma bússola. Os comandos manuais são o suficientemente sensíveis para trabalhar com essas distâncias focais comodamente. Embora seja aconselhada a utilização de um tripé robusto para a aquisição de imagens a grande comprimento focal é possível obter imagens facilmente utilizando um bom tripé fotográfico e alinhando "a olho".

"webcam"
"webcam"
Imagens planetárias com webcam e um ETX90 a trabalhar a f/35 (3,15 metros)
Marte
Saturno
Júpiter
Marte, Saturno e Júpiter
Meade ETX90 + Powermate 2.5x (f/35)

Utilização

Usando a montagem

Esta montagem é absolutamente básica.

Não tem "go-to", nem círculos digitais, nem buscador polar verdadeiramente funcional (ver abaixo) e nem sequer uma base equatorial ajustável, e por tal requere algum conhecimento do céu para se poder efectivamente utilizar.

Esta falta de atributos "modernos" no entanto não deverão impedir um iniciante verdadeiramente interessado de a poder utilizar sem dificuldades demais e até mesmo fazer umas fotografias. Mesmo aquele que não saiba ler Japonês que é a único idioma do manual.

Tendo sido esta a primeira montagem equatorial que alguma vez tivesse usado, achei no início o seu manejo um pouco desconcertante, especialmente para observações no Nascente e Poente, mas nada que algum tempo de utilização não remediasse, isto apesar de se poder soltar ambos os eixos e ser possível apontar o telescópio facilmente como no modo altazimutal.
Em comparação com montagens maiores, não se pode dizer que esta tenha movimentos suaves tipo "manteiga", mas mais do tipo "justo e apertado", podendo até quando sobrecarregada dar pequenos saltos, tipo vibração saltitante quando rodada manualmente e bruscamente . Este comportamento algo brusco é devido em grande parte ao seu tamanho e pouca massa.

Os parafusos para fixar ou soltar os eixos são bastante pequenos o que torna esse procedimento por vezes um pouco desesperante , ficando os eixos por vezes soltos mesmo depois de apertar. É necessário adquirir o aperto "mágico" , ou seja, de modo que não seja nem demasiado apertado nem insuficientemente apertado.

Existe também um detalhe aborrecido com a posição do parafuso de aperto da ascensão direita que não permite rodar a montagem 360° nesse eixo, pois a placa de protecção das engrenagens bate no parafuso/manípulo. Isto obriga por vezes a desapertar a montagem da base para rodar de modo a que não tenha obstrução.

Também achei necessário acrescentar um anel para aumentar a distância do tubo à base da montagem. Esse anel em alumínio (que é visível na foto acima "às cavalitas"), impede que o tubo possa bater eventualmente nas pernas do tripé se se soltar, para além de ainda permitir e facilitar observações no zénite .

Após 6 meses de utilização...

Mais do que impressões sobre um equipamento novo, considero mais relevantes de como esse equipamento suportou o uso durante um período de tempo alargado de utilização.

Na realidade mesmo com apenas 6 meses, esta montagem não sendo de "galinheiro", já suportou (à semelhança do seu dono) algumas centenas de horas de utilização efectiva nas mais diversas condições , que vão desde temperaturas negativas a temperaturas muito altas, a ter ficado completamente encharcada por diversas vezes, sessões seguidas com duração superior a 10 horas, chuva, vento, tempestades solares etc...

Com (o meu) material de qualidade sou geralmente exigente e duro, mas não descuidado, mas mesmo com o seu correcto uso, não deixa de ser um uso intensivo e é por vezes natural acontecerem mossas, riscos para além do normal desgaste. A minha Teegul ostenta algumas dessas marcas, que podem ser consideradas de cicatrizes "de guerra", que apesar de não interferirem no seu normal funcionamento, seriam suficientes para donos mais atenciosos irem logo a correr comprar uma latinha de tinta para tapar o toque (curiosidade: a Takahashi vende latinhas com as cores originais para retoques).

Takahashi Teegul Sky Patrol II
Takahashi Teegul Sky Patrol II
Na palma de uma mão

Mas no entanto mecanicamente está como nova. Não existem folgas (exceptuando a folga inicial do motor que sempre teve), nem ferrugem, nem peças partidas, nem parece estar em vias de acontecer tais avarias e defeitos - Considero este facto verdadeiramente admirável, especialmente sabendo os abusos que sofreu. Electricamente também está tudo como novo.
A única vez em que houve necessidade de a desmontar foi para poder tirar as fotos acima...
A único desgaste visível apenas foi o arrancar da tinta na base na qual se fixa a montagem, é bastante notório na foto mosaico mais acima e que foi causado por ter escorregado por falta de aderência causada por peso excessivo. De resto está impecável e nunca me deixou ficar mal em nenhum aspecto.

Pode parecer algo exagerado, mas a sua notável fiabilidade torna-a numa verdadeira montagem de combate, que parece ter sido feita para aguentar as condições mais adversas e uso intensivo e abusivo se necessário.

Em resumo

O aspecto mais importante de uma montagem com algumas pretensões a astrofotografia é sem dúvida a sua precisão de seguimento. Uma montagem que não segue bem para as suas especificações de carga, simplesmente está a falhar na sua mais importante e principal função, isto independentemente do preço. Como em tudo o resto, as necessidades ditam o preço a pagar para as funções e cargas pretendidas. A Teegul foi concebida para utilização visual com (muito) pequenos telescópios e fotografia de curta/média exposição com objectivas fotográficas de comprimento focal entre 100-200mm, podendo até ser considerada quase perfeita para essas especificações.

Na realidade a performance desta montagem pode ser considerada excelente tendo em conta de que é possível duplicar a carga e comprimento focal e conseguir resultados bastante satisfatórios. Que mais se pode pedir a um fabricante ? talvez que as fabrique mais baratas mas com a mesma qualidade...

Não se pode pedir a uma bicicleta que rode a 300 km/h - nem mesmo ao melhor e mais sofisticado modelo, portanto não se pode pedir à Teegul que faça as fotos com a profundidade que geralmente populam websites e revistas de astronomia. Esta montagem não é seguramente para astrofotógrafos de céu profundo, ou pretendentes a tal, excepto se tiverem tendências um pouco masoquistas.
Utilizando outro equipamento (certamente mais caro e bem mais pesado) e com bem menos trabalho e dificuldades se conseguem fazer imagens em filme ou CCD com melhores resultados e especialmente com menos frustração.

Se se utilizar esta montagem para executar as tarefas para as quais foi desenhada num pacote leve e portátil tem nesta montagem talvez a melhor oferta possível. Para o meu caso particular (observador visual móvel) que gosta de fazer umas imagens de vez em quando, serve quase na perfeição.

A marca Takahashi é sinónimo de qualidade, mas também é sinónimo de muito caro e a Teegul obviamente não iria ser a excepção - em ambos os casos. Os cerca de 1000 € que custa (sem tripé e sem buscador polar) custam um bocado a dar por uma montagem tão pequena e tão básica, mas é esse o preço da não só qualidade, mas sim da qualidade garantida. Esta montagem está a funcionar a 100% desde que saiu da caixa. Não foram necessárias afinações nem lubrificações nem intermináveis buscas na Net para resolver problemas que não deveriam existir.

O preço no entanto pode-se considerar escandaloso, especialmente tendo um conta que se pode adquirir uma EQ6 com tripé e tudo por menos dinheiro. Mas depois de adicionarmos as contas do médico por causa das hérnias causadas pelo o transporte de por exemplo uma EQ6 talvez não seja assim tão barata :) para além de se ter a sorte de calhar uma que seja aceitável na rifa. Na realidade não se pode comparar esta montagem a praticamente nenhuma outra deste calibre, pelo menos em tamanho e peso que tenha conhecimento apenas existe a Eq-1 da Orion, mas como nunca vi nenhuma não devo comparar.

Considero obrigatório medir-se muito bem as razões para se querer uma montagem deste género, é a maior portabilidade ao maior custo. Como em tudo, trata-se de um compromisso entre custo, qualidade e utilização. Obviamente que gostaria por vezes ter uma montagem maior e com mais precisão, mas por outro lado, outras ocasiões não - bem, mas é melhor ir juntando dinheiro para comprar uma "irmã" maior...

Galeria de imagens

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Apontadores para outros comentários

Buscador polar

Um dos acessórios opcionais trata-se do buscador polar, que embora seja bem construído não se pode considerar nem muito prático nem muito preciso. Em fotos anteriores é possível reparar no local onde é fixado o buscador, que para além de marcar e raspar a tinta, é praticamente impossível colocá-lo exactamente na mesma posição uma vez retirado, ficando quase sempre sempre desalinhado em relação à montagem.

A posição do buscador também não ajuda muito, sendo mesmo impossível utilizá-lo com a montagem num tripé ou plataforma equatorial porque as pernas do tripé simplesmente impedem de espreitar. É de estranhar terem disponibilizado este acessório sabendo à partida que não seria nada prático utilizá-lo. Pelo o preço que custou bem que podia ser iluminado.

Mas contudo se utilizado uma vez devidamente alinhado garante uma precisão de 30 minutos de arco, que é adequada a observação visual e fotografia de 50mm ou menos de curta exposição.

Buscador polar
Buscador polar
Este pequeno buscador tem 10mm de abertura com 12° de campo e magnificação de 3x, o relevo ocular é pequeno, não sendo possível usar óculos.
Pesa 115 gramas.

Mas existe outra maneira mais conveniente e preciso de utilizar este buscador. Tendo arranjado uma pequena barra em alumínio com a forma "L" maquinada com precisão, tornou-se possível alinhar o buscador no seu suporte usando os 6 pontos de afinação (parafusos), numa posição bem mais cómoda.
Na prática apenas utilizo o buscador polar neste suporte e quando necessito de um alinhamento mais preciso para fotografia de curta duração (8 segundos máx.).

Buscador polar
Buscador polar
Depois da montagem rigorosamente alinhada pelo método da deriva coloca-se este adaptador e alinha-se o buscador com o seu suporte

São necessários simultaneamente os dois olhos para alinhar com este buscador. Um para olhar para a estrela polar através do buscador e o outro para traçar uma recta imaginária entre duas conhecidas constelações, a Ursa Maior e a Cassiopeia, mais precisamente entre duas das suas estrelas. As constelações são quase na sua totalidade circumpolares na latitude de Portugal Continental (37°-40°), portanto sempre visíveis ao longo do ano mas contudo desde que se tenha livre uma grande área de céu para o quadrante norte o que por vezes pode não suceder.

O retículo do buscador é constituído por 3 circunferências concêntricas, sobre as quais se deve colocar a Estrela Polar ou a sigma octantis no caso de se estar no hemisfério Sul.

Retículo
Retículo
Basta colocar a estrela Polar sobre a circunferência correspondente, se fosse iluminado seria bem mais fácil.
Para remediar uso a lanterna vermelha junto ao olho quando espreito.
Retículo
Como usar o retículo
Luís Carreira, Abril de 2004