Takahashi FC-60

refrator apocromático de 60mm f/8.33 (500mm)
Takahashi FC-60

Descrição

Este é o dos mais pequenos refratores apocromáticos correntemente oferecidos pela Takahashi, utilizando uma objectiva com dois elementos sendo o elemento interior de fluorito (fluoreto de cálcio). Segundo o fabricante todas as superfícies têm multi-tratamento, inclusive as de fluorito. Este telescópio tem o número de série 02003 - que se pode traduzir no número de 3 (003) do ano de produção de 2002 (02).

O tubo é construído num metal leve (presumo que alumínio) pintado/lacado a branco, com as extremidades que possuem roscas (à frente para o pára-sol e atrás para o sistema de focagem) num liga metálica mais pesada e dura pintada num verde pálido que é uma cor típica dos refratores japoneses, sendo todos os anéis e adaptadores posteriores ao tubo de focagem pintados num negro opaco tanto no exterior como interior. Também se pode desenroscar a objectiva.
O tubo têm um diâmetro de 68mm com um comprimento total com diagonal e pára-sol de 54 cm podendo ficar reduzido para apenas 42 cm desenroscando as atrás mencionadas peças. A altura máxima é pouco mais de 12cm.

O peso total do tubo (1200 gramas), braçadeira (420 gramas ), diagonal (140 gramas) e uma ocular é inferior a dois quilogramas. Menos metade do ETX90EC.

O pára-sol tem um comprimento (e diâmetro) ligeiramente maior que abertura, que de resto é o que manda a regra, sendo o seu interior escurecido com uma tinta preta fosca não-reflectiva. Revelou-se bastante eficaz em isolar as objectivas de todas as luzes parasitas do meu pátio, onde foram realizadas praticamente todas as sessões, tendo também a função de proteger do pó e humidade.

O tubo de focagem, também ele em alumínio mas com maior espessura, desliza suave e uniformemente, com grande precisão em ambos os sentidos, dando a sensação de "escorregar em manteiga", que aliás é uma das características pela qual a Takahashi é famosa, podendo a fricção ser regulada através de um grande parafuso (no topo). A precisão de focagem é notável, sendo uma característica desejável tanto no "campo" quando montado em montagens pouco sólidas (pouco tempo a focar), como futuramente na astrofotografia (folgas e peso das câmaras e adaptadores). NOTA: Este sistema de focagem tem menor diâmetro que os da série FS, portanto ter algum cuidado nos acessórios a adquirir.

A título de curiosidade, até num mero buscador 6x30 que uso com o meu Dobson de 20cm, a regulação de focagem tem o famoso "escorregar", o que demonstra a atenção à imagem de marca do fabricante.

Takahashi FC-60
O sistema de focagem e adaptador para oculares de 1,25" com anel de compressão
A diagonal prismática também possui anel de compressão

O interior do tubo é completamente negro fosco. Com ajuda do flash da máquina a menos de 20cm consegue-se adivinhar pelos menos 3 "baffles", que sem dúvida devem contribuir grandemente para o isolamento do eixo óptico de todas luzes parasitas, resultando assim num bom contraste.

Takahashi FC-60
Uma foto com flash ao interior do tubo. Note-se os "baffles"

A opcional (mas indispensável) braçadeira é feita numa liga não magnética maciça e pesada tendo o interior forrado num luxuoso feltro verde (tipo mesa de jogos) para prevenir qualquer risco ou vinco na pintura do tubo. Esta braçadeira tem rosca standard para tripé fotográfico (1/4") e ainda dois furos para montagem da própria marca, para os quais são fornecidos dois grossos parafusos.

No tubo de focagem enroscam então um adaptador, onde se pode enroscar (ou não) um extensor (que é fornecido) que permite a focagem das oculares directamente no tubo sem a diagonal, seguido de um adaptador com anel de compressão para o porta-oculares/oculares de 1.25", que por sua vez usa também um anel de compressão para a fixação das oculares. Este anel de compressão requere algum tempo de habituação tanto funcional como psicológica, pois no início fica-se sempre na dúvida se a ocular está bem segura, mas funciona muito bem. Este anéis também se podem encontrar em diagonais topo de gama da Astrophysics e Televue.

A quantidade de anéis e acessórios que se pode montar/combinar é verdadeiramente incrível para um telescópio tão pequeno, só vendo a "System Chart" é que dá para acreditar.

Takahashi FC-60
A requintada e sólida braçadeira forrada a feltro verde

Para finalizar esta descrição convém mencionar ainda a tampinha em alumínio maquinado de 1.25" com logótipo que tapa a extremidade anterior do tubo ou então o orifício do porta-oculares se montado. Por outro lado, a lente primária é tapada com uma vulgar tampa de plástico que serve para a função mas destoa... (tss, tss).
O manual é todo em japonês e serve para toda a série FC de telescópios. Como o meu japonês está um bocado enferrujado só deu para perceber os números, os esquemas (system charts) e que não devia apontar o telescópio para o Sol.
A embalagem inspirou confiança e é exemplar - sendo uma dupla caixa de cartão grosso com muitos sacos de espuma/esferovite que aconchegava completamente o telescópio, ficando como que em suspensão.

Em termos estéticos é um dos telescópios mais bem acabados e de qualidade irrepreensível que já ocasião de ver (os olhos também comem).

O teste

Os acessórios utilizados foram os seguintes:

Takahashi FC-60
O filtro Baader na sua célula feita de tubo de escoamento de águas da chuva
E o anel para o Quickfinder também ele usado para fixar os tubos de águas à parede - forrado no interior para não macular o tubo.
Takahashi FC-60
O anel do quickfinder montado
Deste modo é possível apontar sem dificuldade para o zénite
Takahashi FC-60
O filtro solar Baader na sua célula
Reparar no bocado velcro para ficar bem justo ao pára-sol

Primeira Luz (Diurna)

Como é habitual, quando se recebe qualquer equipamento astronómico, as condições meteorológicas impedirão a Primeira Luz Nocturna, mas não a Primeira Luz diurna.
Montando o telescópio num tripé de fotografia (cuja cabeça era pouco adequada para aguentar com o peso), fui testar a resolução e aberração cromática, apontando para umas antenas em que o Sol (nessa altura a pino) incidia. Aberração cromática praticamente não existia, e digo praticamente, porque era insignificante (e tinha de olhar em ângulos pouco ortodoxos ) e tenho quase a certeza de ser causado pelas oculares devido a ser amarela (?) e também pelo o extremo brilho do alvo. E isto é se pôr o "picuínhometro" a máximo, pois para todos os efeitos não existe virtualmente cor residual nenhuma em todas as magnificações que testei que foram das 15x (plossl 32mm) até às 143x (Nagler 7mm + Barlow ultima 2x). As imagens simplesmente eram perfeitas.

Takahashi FC-60
Foto usando a plossl de 32mm

Querendo aproveitar ainda o Sol, ajudei o meu irmão (que tem jeito para essas coisas) a construir um filtro solar com uma folha Baader que já tinha comprado há algum tempo com um bocado de tubo de escoamento de águas que cabia quase como uma luva no pára-sol do telescópio.

Depois de me certificar que o filtro estava em boas condições, sem buracos ou brechas lá fui estrear o Takahashi com a estrela mais importante - o nosso Sol.

A altura do dia (depois de almoço) e local (pátio rodeado de telhados) não foram os mais propícios, mas a expectativa era grande e o Sol foi mesmo o primeiro astro a ser observado pelo pequeno refrator.
Fiquei sinceramente impressionado com o detalhe observado no Sol com apenas 60mm - manchas com detalhes finos (umbra, penumbra), faculaes, e a ligeira impressão da textura granulada do Sol. O filtro solar Baader (que tem um brilho bem mais intenso que o 1000 Oaks type 2+ que uso com o ETX90), tinha um muito bom contraste, pois era bem mais fácil de observar as faculaes, que no ETX90+1000 Oaks acho menos evidentes.

Takahashi FC-60
O arranjo típico para observação
O saco do telescópio é de um skate.
É almofadado, mas ainda reforcei o seu interior com espuma e tem uma correia para se poder transportar como uma mochila, sendo muito útil para não deixar o telescópio no carro ao Sol ou à mercê de outra coisa qualquer...
Takahashi FC-60
Foto Baader+Radian 14mm+barlow
Takahashi FC-60
Foto Baader+Radian 14mm+barlow
recorte do jpg original.
Esta mancha foi uma das mais espectaculares de 2002.
Note-se o as faculae e o detalhe da mancha

Em ambas as oculares que utilizei nesta primeira observação, uma Televue Radian de 14mm (36x, 1º41'), Televue Nagler de 9mm tipo 6 (56x 1º29') e a Televue Nagler de 7mm tipo 1 (71x 1º09') com e sem Barlow (Ultima 2x), se notava um ligeiro fio amarelo na borda do Sol, que era tanto menor quanto a magnificação utilizada. Este aberração cromática também é visível no ETX90 que deveriA imune, daí atribuí-la em grande parte às oculares e ao intenso brilho (maior que o da Lua Cheia seguramente).

Eu não posso pedir melhor resolução, nitidez e contraste de um telescópio de abertura tão pequena. Mesmo a 140x (Nag7+Barlow) e da turbulência causada pelas ondas de calor a nitidez era espantosa.

Primeira Luz (nocturna)

Apesar da intensa nebulosidade, lá consegui apanhar umas boas abertas para fazer o "star-test" preliminar.
A primeira estrela a ser observada foi a Vega (Alpha Lyrae), sem que tenha notado alguma aberração cromática, com a excepção do seu natural brilho azulado. Logo abaixo estava a dupla-dupla (Epsilon Lyrae) em Lira foi separada com algum esforço a 71x, ambas mostrando claramente (mas não à vontade) as suas estrelas componentes.

Apesar da atmosfera não estar propriamente estável realizei o teste preliminar com a Nagler 7mm (71x, 30x/polegada), com a qual era possível observar vários anéis de difração no foco conjuntamente com o disco de Airy, sendo o in-focus e out-focus praticamente simétricos, com a luz uniformemente distribuída por todos eles, portanto sem detectar visualmente qualquer sub/sobre-correcção. Também vi nenhum sinal evidente de astigmatismo ou rugosidade de superfície. Se consultarem as imagens no livro do Suiter , são aquelas que correspondem às "perfect optics" não-obstruídas.

De seguida, passei para a nebulosa planetária Messier 57 quer já se evidenciava bem das estrelas a 16x, sendo possível observar sem dificuldade o seu centro mais escuro com uma magnificação de 55x. Passando de relance pelo enxame globular Messier 56, compreendi porque que é que Messier o colocou na sua lista de falsos cometas, pois a 16x parecia uma pequena e ténue nebulosidade, sem qualquer resolução. Descendo ligeiramente cheguei à Albireo (beta cygni), que é para mim é o mais bonito par de estrelas do firmamento, mostrando um amarelo e um azul extremamente vivos. Depois as nuvens taparam de vez o céu e ficou por ali a sessão.

Takahashi FC-60
O sessão típica no pátio
Geralmente observo sentado, com as pernas do tripé meio recolhidas.
É só preciso uma viagem para levar tudo.
Em 15 minutos o pequeno Takahashi já está praticamente pronto a dar 100%.

Na segunda sessão já foi possível observar mais alguns objectos que conheço bem. Comecei por Vénus que mostrava a sua fase de 60º bem delineada embora já com a imagem muito ondulante por estar abaixo dos 20º de altitude.
A Lua estava com uma fase superior a 80% portanto, o contraste para céu profundo não era dos melhores. Aproveitei no entanto para fazer um "tour" ao longo do terminador, tirando algumas fotografias pelo caminho.
A Lua a 214x (84x/polegada), utilizando uma Nagler 7mm conjuntamente com uma Barlow 2x (Ultima) antes da diagonal (funcionando deste modo com um factor de 3x), praticamente não quebrou na nitidez e detalhe, só baixando como aliás é normal o seu brilho (o que na Lua por vezes é desejável). Suspeito que ainda podia suportar mais magnificação... e aberração cromática (do telescópio) continua a não aparecer.

Rupes Recta (Rukl 27)
Rupes Recta (Rukl 27)
Takahashi FC-60
Saturno
Takakahashi FC-60 com barlow (2.4x) e toucam pro
Comprimento focal de 1200mm
Beta Cygni (Albireo)
Beta Cygni (Albireo)
Takahashi FC-60 + Extender-Q 1.6x f/12.4 (745mm) + Atik-1HS 1,6" 0%
exp: LRGB 1+1+1+1.5 seg. mag. visual 4
Nota: filtros planetários baader
Takahashi FC-60
A Lua a 2° 14'
Fotografia "widefield"
Plossl de 32mm 16x

Se por princípio tinha algumas dúvidas sobre a performance da diagonal prismática (opcional), depois desta sessão ficaram desvanecidas - considero-a praticamente transparente. O prisma ilumina completamente o campo de qualquer ocular de 1.25" e parece aguentar-se bem nas grandes magnificações, isso para além de ter uma construção impecável e usar um anel rotativo de compressão para fixar as oculares.

O enxame globular Messier 13 em Hércules assemelhava-se um montinho indefinido de estrelas, com algumas das estrelas a resolver momentaneamente, o mesmo se passando com Messier 92 da mesma constelação e Messier 3 em Cães de Caça, embora neste último me parecesse ver mais algumas estrelas. Também nesta constelação a Cor Coroli (alfa) mostrava as cores amarela e azul das suas duas estrelas componentes. A nebulosa planetária Messier 27 em Raposa (Vulpecula) dava leves indícios da sua forma de maçã roída à volta. O enxame aberto Messier 29 em Cisne, estava extraordinariamente demarcado da confusão de estrelas típica desta área a apenas 26x e ainda com a Deneb no Campo.

Por esta altura já tinha seleccionado as minhas oculares preferidas, a Panoptic 19mm que com os seus 2 graus e meio de campo real servia de ocular buscadora, e sem sombra para dúvidas a Nagler 9mm - simplesmente nítida e pontual em _todo_ o seu campo, que mesmo a 56x ainda tem uns confortáveis grau e meio - realmente um par excelente quando usada com este refrator.

Takahashi FC-60
Duplo enxame de Perseu (NGC 869 e NGC 884)
Foto única com 4 seg. f/2.0 zoom 1x (~34mm) ISO 400.
Takfc60+ortoscópica 25mm+G1.
Campo real 1 ° 20' e magnitude 11.

Numa terceira (e curta) sessão, andei a testar combinações com as Barlow e algumas oculares na Lua que se encontrava com a fase quase cheia. Para além de conseguir focar todas as combinações, cheguei a uma bastante aceitável magnificação de 302x (Barlow 3x+ Barlow 1.8x+Nagler 9mm) que é uma estupidificante magnificação de 128x por polegada. Espantosamente, mesmo a mais de 300x não notei quebra notória no detalhe ou nitidez, mas os "floaters" do olho começaram a ser incomodativos tendo também o tripé fotográfico também acabado por acusar a sua portabilidade.

Takahashi FC-60
O sessão de imagem planetária no pátio
Takahashi FC-60
Sessão de céu profundo
Messier 16, IC 4703 "Nebulosa da Águia"
Messier 16, IC 4703 "Nebulosa da Águia"
Takahashi FC-60 f/8.3 (500mm) + ATIK-1HS 2.3"
exp: 17 min. (17x60 seg.)
Takahashi FC-60
Redutor dedicado - fica com 360mm de focal
Takahashi FC-60
Apenas tem foco para imagem

É também inevitável a minha comparação com o ETX90.
Ambos os telescópios são demasiadamente diferentes para ser facilmente comparáveis, mas o Takahashi ganha no contraste e na mecânica, podendo chegar ao limite, enquanto o ETX tem vantagem possibilidade de maior resolução e um pouco de mais brilho (mas não muito mais).

Utilização diurna

E finalmente, não poderia deixar de realçar a também excelente performance em observação e fotografia diurna que proporciona imagens de grande definição e claridade. Para além da observação da Natureza, também o utilizo em eventos desportivos como vela e outros desportos observáveis a grandes distâncias.

Conclusão

Por mero acaso obtive uma opinião de alguém muito experiente no teste de telescópios na Astrofesta 2002, em que afirmou que já viu melhor e pior - tendo atirado em valor de 1/5 de onda no que diz respeito à correcção e afirmado a cor residual virtualmente inexistente - que equivale a uma classificação média para refratores apocromáticos.
Após algumas dezenas de horas de utilização visual e fotográfica, posso afirmar que tem um qualidade mecânica à prova de bala - sistema de focagem continua preciso e suave sem quaisquer folgas.

Este telescópio, apesar de ter um abertura de 60mm não é de modo algum para iniciantes, não só pelo seu elevado preço, mas porque acho sinceramente, que o mínimo de abertura para se iniciar é de pelo menos 15cm (6") - de longe bem mais fácil encontrar e observar e barato , especialmente se for um reflector dobsoniano.
Embora outros possam ter a opinião que 60 mm nem sequer são suficientes para um binóculo, tal nem sequer é comparável, pois os binóculos são (geralmente) de magnificação fixa, de menor qualidade óptica, com prováveis e caras excepções (Zeiss etc.), e bem menos versáteis (astrofotografia, magnificação etc..).
Neste caso as desculpas (válidas ou não) que dei a mim próprio para me convencer a dar tanto dinheiro por um telescópio com esta abertura foram as seguintes:

Menos bom: