O eclipse solar total
além de ter suscitado muitos sentimentos de
medo e admiração ao longo da História,
serviu como meio de estudos científicos.
Eclipses solares totais já foram e
ainda estão a ser usados em
várias pesquisas científicas, além
da monitorização das vizinhanças do
Sol, aproveitando o contraste gerado
pela umbra lunar.
Através do eclipse solar total foi possível
comprovar um dos aspectos da teoria
da relatividade de Einstein em que
corpos de grande massa como o Sol
podem deflectir a luz dado que o Sol
cria uma deformação na teia
espaço-tempo. A Relatividade Geral
de Einstein liga a presença de massa
à geometria local do espaço-tempo.
Não se diz que a massa "exerce força
gravitacional", tal como defendia
Newton, mas que as partículas,
ou mesmo a luz, se deslocam
livremente pelo espaço-tempo,
segundo geodésicas (isto é, linhas
segundo as quais a distância entre
dois dados pontos é mínima). O
espaço-tempo (que é
quadridimensional) sofre uma
curvatura, devido à presença da
massa, por exemplo, do Sol. Nas
proximidades dele, a curvatura é
mais acentuada. Isso faz com que a
luz das estrelas, ao percorrer
a geodésica, se desvie da recta.
Devido a este fenómeno, as posições
aparentes das estrelas, vistas por
um observador na superfície
terrestre, são significativamente
modificadas, quando estas se
encontram próximas do disco solar no
céu. Como o brilho excessivo do céu
próximo do Sol dificulta a
observação dessas estrelas, a
situação ideal para fotografá-las é
a de um eclipse solar total.
Comparando as suas posições com as
que já se conhecem (ou seja, quando
estão longe do disco solar),
calcula-se um desvio que concorda
excepcionalmente com as previsões
teóricas da Relatividade Geral.
Actualmente, imagens em vários
comprimentos de onda das coroas
internas e externas têm sido usadas
para se compreender melhor os
complexos processos
magneto-hidrodinâmicos que
contribuem para o aquecimento do
plasma da coroa solar a temperaturas
até 1 ou 2 milhões de graus Celsius.
Por sua vez, registos
espectroscópicos têm informado os
cientistas sobre a composição e
temperatura das regiões mais
externas do Sol. O "flash
spectrum", por exemplo, obtido
quando a fotosfera já está
totalmente ocultada pelo disco
lunar, mostra a composição da
cromosfera. Alguns pesquisadores têm
usado mapas da actividade da
fotosfera para prever qual o aspecto
da coroa solar
durante eclipses. Tais correlações
são importantes para determinação
dos efeitos dos buracos coronais,
helmet streamers, flares,
proeminências, manchas solares entre
outros, sobre as características
observadas da coroa solar. Há um
fenómeno muito curioso conhecido
como
efeito de Allais no qual se
verifica supostamente uma oscilação
anómal num pêndulo aquando o
decorrer de um eclipse solar total,
cujas causas não estão devidamente
esclarecidas.
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Outro aspecto importante e que
despertará o interesse neste eclipse
solar total serão os hipotéticos...
vulcanóides.
Segundo artigo veiculado na Sky &
Telescope de Janeiro 2006, o que se passa é que nos próximos
eclipses solares totais vai haver
busca por vulcanóides - possíveis
asteróides residentes entre a órbita
de Mercúrio e a estrela Sol.
Recentes modelos elaborados por Neil
Evans (Universidade de Oxford) e
Serge Tabachnik (do Observatório da
Universidade de Princeton) sugerem
que os asteróides vulcanóides, se
de facto existirem, residirão
numa banda estreita e estável entre
os 0,08 UA e 0,18 UA. A menos de
0,08 UA estariam sujeitos a maior
força gravitacional, além do
aquecimento extremo do Sol, a mais
de 0,18 UA seriam ejectados...
Vistos da Terrra, eles não deverão
ter mais de 10,5º de separação
angular em relação ao Sol. Suspeitas
incidem na maior probabilidade de
residirem a 0,08 UA o que torna
ainda mais difícil a busca, além do
mais a interacção da gravidade de
Mercúrio e mesmo de outros planetas
poderão deslocar estes asteróides a
pouco mais de 10º em relação ao
plano da eclíptica. Já se tentou
procurar os vulcanóides em 2000 (a
busca é mais precoce ainda...
Suspeitas dos asteróides em questão já tiveram início em
1859 por Le Verrier.. que mais
pensava, na verdade, de um planeta
Vulcano que poderia explicar
eventualmente o movimento anómalo de
Mercúrio.) Daí, que a partir de
agora, os
eclipses solares totais servirão para ir em
busca desses vulcanóides. É preciso
uma câmara CCD e registar por alguns
intervalos de tempo a zona em redor
do Sol aquando a totalidade. Convém
usar filtros Wratten para
filtrar o comprimento de onda verde
da coroa, isto porque se suspeita
que os vulcanóides sejam um pouco em
termos de cor tal qual o planeta Mercúrio... o
uso de filtros é com objectivo de
aumentar o contraste e facilitar a
busca dos asteróides vulcanóides.
Além desta importância, registos
históricos de eclipses solares
totais têm sido usados para a
determinação de variações na
velocidade de rotação da Terra e
cálculo da diferença
ΔT, entre
o Tempo Uniforme (TDT) e o tempo
baseado na rotação da Terra (TU ou
TU1). Os eclipses solares já foram
usados (e ainda continuam a sê-lo)
para a determinação de alguns
parâmetros astrométricos, como o
raio lunar médio (principalmente
durante eclipses onde os raios
aparentes do Sol e da Lua
praticamente coincidem ou nas áreas
onde o eclipse é visto como rasante)
e também como teste de programas de
previsão desses eventos. Outras
pesquisas focam as
mudanças atmosféricas e
meteorológicas, incluindo o
interessante fenómeno
das bandas de sombra e a
difusão da luz residual do Sol, e a
visibilidade de astros. Biólogos
têm estudado o comportamento dos
animais e plantas durante a passagem
da umbra lunar. E, naturalmente,
existem muitos outros estudos mais
complexos, relativos a pesquisas de
Astrofísica. |