Missão Ratatouille (2007-10-06 a 2007-10-13)

 

Observatório da Associação Astroqueyras, Pic du Chateau Renard (3000m)

 

 

“O ratatouille é uma receita do século 18 e pode ser servida quente ou fria, sozinha ou como acompanhamento”. (Wikipédia)

“RAT (Ribeiro Alves Thizy) atouille”

 

A nossa missão começa em St. Véran, a aldeia mais alta da Europa, após um percurso de 1900 km para os portugueses. Lá esperava-nos o Olivier Thizy e uma magnífica refeição de Tartifléte, um prato à base de queijo e batatas.

 

 

A subida de 900m de altitude até ao observatório no Pic du Chateau Renard efectuou-se por um caminho sinuoso talhado na montanha. A única dificuldade na subida aconteceu junto à casa do pastor, tendo-nos obrigado ao uso de correntes de neve para vencermos a inclinação.

 

 

O caminho visto de cima:

 

 

Chegados ao observatório esperava-nos um acolhimento caloroso por parte dos astrónomos da missão anterior, incansáveis na explicação do funcionamento de todos os sistemas da estação.

 

 

 Uma ameaça de trovoada obrigou ao procedimento de desligar todos os cabos eléctricos. Felizmente foi falso alarme, uma trovoada num local destes a 3000 m  de altitude é sempre perigosa.

 

Monte Viso em Itália, visto de um local próximo do observatório

 

 No dia seguinte, com a partida dos colegas da missão anterior, ficámos então por nossa conta. Pela tarde juntou-se a nós o holandês Jan Lameer, um repórter freelancer, que se dedicou à captura de imagens timelapse.

 

 Edelweiss

Objectivos da missão

 

Eram vários os objectivos desta missão. Para os portugueses, um dos objectivos era o de aprender a usar os telescópios e os sistemas de apoio da estação, com vista a futuras missões, objectivo esse perfeitamente atingido graças ao Olivier, um expert do local.

Em termos de astronomia, os objectivos eram:

-Espectros de baixa resolução (300 l/mm) no T62 em nebulosas planetárias, para estudo comparativo.

-Espectro-Martografia

-Espectros de baixa resolução no exoplaneta HD189733-b em trânsito e fora deste, para estudo comparativo.

-Espectros de alta resolução (1200 l/mm) na estrela Wolt-Rayet 140, um compromisso nosso com o grupo alemão a que pertence o nosso amigo Ernst Pollmann.

-Espectros de alta resolução nas linhas Halfa, OIII e SII em várias zonas de M1 com vista a determinar as respectivas velocidades radiais em cada zona, e mapear a nebulosa.

-Espectros de alta resolução (2400 l/mm) de estrelas Be, entre as quais alvos CoRoT e colaborações Koubsky e Neiner.

-Espectros de alta resolução de HD189733-b durante a sua aproximação e afastamento, com vista a estudo comparativo.

-Experiências com Tomografia Doppler

-Imagens de campo plano do céu profundo com o telescópio ASA do Filipe.

-Imagens de campo plano do céu profundo com a câmara flat-field FCC 4.0/760 da Lichtenckeker.

-Imagens de grande campo com a ST10 e objectiva de 50mm.

 

 

 

 

Resultados

 

É claro que com tantos objectivos, muitos ficaram para trás. Das sete noites esperadas, aproveitámos quatro, uma vez que nas outras o céu encobriu. E durante uma dessas noites observáveis, um esticão num cabo da SBIG obrigou-nos a toda uma recalibração do sistema no espectroscópio, tendo perdido a oportunidade de estudar o HD189733-b.

Também não foi possível, por falta de tempo trabalhar com a grelha de difracção de 1200 l/mm, pelo que a WR140 ficou por fazer.

O mapeamento de M1 foi considerado impraticável devido à grande dimensão deste remanescente de supernova, face ao reduzido campo de trabalho.

A noite que íamos dedicar às experiências de Tomografia Doppler em 75Peg acabou por encobrir ao fim dos primeiros espectros desta estrela.

Devido a problemas técnicos, o ASA não pôde ser utilizado.

O Filipe ainda teve o trabalho adicional de pôr em estação a montagem Titan da segunda cúpula, com recurso à função PAC do Gemini, uma vez que a montagem não dispunha de luneta polar.

 

 

Algumas das rotinas nocturnas, na sala de controlo e na cúpula do T62

 

 

 

Durante as noites, houve sempre tempo para umas jantaradas, onde não faltou a bacalhauzada com grão e tintol alentejano

Da esq. para a Dta.: Olivier Thizy, Filipe Alves, Jose Ribeiro, Jan Lameer

 

Os resultados obtidos foram então os seguintes:

-Espectros de baixa resolução na zona azul das nebulosas planetárias Blinky, Blue Snowball e Saturn.

-Espectro-Martografia

-Estrelas Be (20): 13 Tau, 17 Tau, 23 Tau, BU Tau, eta Tau, 16 Peg, 31Peg, ups Sgr, 60 Cyg, HD22780, HD171219, Hd175869, HD181231, ome Ori, tet Ari, 12 Aur, bet CMi, DU Eri, lam Eri, e omi And.(ver estrelas Be)

-Variável espectroscópica bet Aur, 9 capturas.

-Timelapse do cometa Loneos, capturado na 2ª cúpula, publicado no Spaceweather dos dias 13, 14 e 15 de Outubro de 2007.

-Captura do raio azul ao nascer do Sol, publicado no Spaceweather do dia 16 de Outubro de 2007 (Jan Lameer). É de notar que fomos sempre brindados com este fenómeno todas as manhãs.

-Três imagens LRGB de grande campo das zonas de Cisne, de Cefeu e de Orionte, com a ST10 e uma objectiva de 50mm.

 

 

-Quatro imagens LRGB na câmara flat-field, controlada pelo Filipe, de Barnard 30, de NGC 891, de IC410 e de M78.

 

 

 

Sobre a Estação

 

A estação está pronta à prática de todas as áreas na astronomia, desde as lúdicas às científicas. No que respeita à habitabilidade, as condições são perfeitamente aceitáveis dada a zona inóspita, mas bela, onde se encontra.

Alguns melhoramentos, no entanto, seriam desejáveis (opinião pessoal de JR).

T62:

-Resolver o backlash em declinação.

-Motorizar a rotação da cúpula. A manivela dá-nos a sensação de sermos remadores das galeras romanas:

-O interruptor de abertura da cúpula (não ter de carregar permanentemente).

-Colocação de câmara num buscador, por forma a apontar o telescópio a partir da sala de controlo.

-Melhorar o modelo do Goto.

-Autoguiagem do T62, que de momento não é possível.

-O software de controlo da montagem deve permitir velocidades menores na guiagem manual.

-A guiagem manual deveria mover o telescópio quando se clica com o rato, parando-o imediatamente quando se deixa de clicar. (subjectivo)

2ª cúpula:

-Motorização da rotação da cúpula.

-Isolamento térmico do chão metálico na zona do astrónomo, pois o frio que vem debaixo torna-se insuportável.

Transporte até à estação:

Poderia haver acordo com a população de St.Véran por forma a ser garantido transporte até à estação. No Inverno, poderia haver acordo com algum helicóptero.

 

 

Vénus ao fechar da cúpula

Conclusão

 

Só a beleza circundante justifica o percurso de 2000km de Lisboa ao observatório T62 da Associação AstroQueyras. Se aliarmos a isso um céu de altíssima qualidade só com vestígios de poluição luminosa, a 3000m de altitude e duas cúpulas com telescópios de qualidade, temos então todos os ingredientes para uma semana como poucas nas nossas vidas de astrónomos amadores.

 

 

 Panorama dos Alpes (360º) visto do Pic du Chateau Renard

 

 Um bonito, saboroso e aromático ratatouille astronómico.

 

<back>    <home>