Sim!!! Mas... Astronomia, com binóculo?
Então não é preciso um telescópio?
Não percebi! Não. Para começar e até
para se fazer observações interessantes, não
é imprescindível um telescópio.
Assiste-se muito, quase sempre
que um/a novo/a astrónomo/a amador/a decidi começar
a fazer as suas observações astronómicas,
começa logo por pensar em adquirir um telescópio
e, de preferência, um telescópio que tenha muito
poder de amplificação. E depois perguntamos: “E
já conheces as constelações ? Já
te orientas nos céus ?” A resposta nestes casos,
é muitas vezes, a maioria das vezes a seguinte: “Não...É
preciso ?”
Normalmente eu digo, claro
que é preciso. Não é 100% verdade, mas
no meu conceito de astronomia amadora, é imprescindível
conhecer-se bem o céu a olho nu, para se poder tirar
todo o partido deste fantástico hobby. Depois a ideia
da amplificação de um telescópio, de que
é preciso montes de amplificação é
errada, por vários motivos, mas essa temática
deixo para um outro artigo. De facto eu aconselho sempre as
pessoas a começarem devagar, com persistência,
com pequenos passos de cada vez, como me foi aconselhado a mim
por pessoas com mais tempo disto que eu, muito mais tempo...
De facto é necessário conhecer
bem o céu, para se conseguir apontar um telescópio
para os alvos celestes. Com um telescópio computadorizado,
com sistema Go-To, o conhecimento do céu não é
imprescindível e por isso afirmei há pouco a não
totalidade da verdade neste assunto. Considero os sistemas Go-To,
para um iniciado algo que não o ajuda a evoluir, pois
facilmente se fica viciado no premir de botões...
Primeiro é necessário conhecer
as constelações. Saber onde está Orion,
conhecer que Rigel é uma estrela de Orion, saber onde
se encontra a Cassiopeia, o Hércules, etc.. Saber utilizar
as técnicas de alinhamentos e de star-hopping, ou seja,
do salto de estrela-em-estrela. Um bom livro sobre estas técnicas
é o Roteiro do Céu
de Guilherme de Almeida. Um bom planisfério é
uma hipótese a considerar com complemento. Com algumas
horas de observação sistemática e persistente
acumuladas, já estarás à vontade no céu
e podes começar a “complicar”.
Para quem está do “outro lado”
da Astronomia, assume, erradamente, que só com telescópios
potentes se consegue ver alguma coisa de jeito. Eu próprio,
quando comecei em 2000, tinha essa ideia, mas rapidamente vi
que as coisas são bem diferentes. Depois de ler alguns
livros de iniciação, como o Roteiro
do Céu, Introdução
à Astronomia e às Observações Astronómicas,
apercebi-me que não precisava de telescópio para
começar a observar. Um simples binóculo 7x50 ou
10x50 (a parte antes do ‘x’ é o número
de vezes que o instrumento amplifica, a parte à esquerda
do ‘x’ é o diâmetro da abertura da
objectiva, em milímetros) já mostra muitos objectos
de céu profundo interessantes, e às vezes com
uma espectacularidade maior que um telescópio (os enxames
abertos, por exemplo). Mas também podemos observar pormenores
na superfície da Lua (crateras, os mares, etc.) e as
luas de Júpiter (observação difícil
sem um bom suporte para o binóculo).
A primeira visão que tive da Nebulosa
de Orion (M42) foi da varanda de minha casa, com um binóculo
7x50 russo “manhoso” que comprei a um marroquino,
por o equivalente a 15 € (euros). Fiquei contentíssimo
por ter visto o meu primeiro objecto sozinho! Depois daí,
foi começar a observar mais e acabei por ver vários
objectos do catálogo de Messier, as luas de Júpiter,
observei a Lua várias vezes, etc.
De facto o uso de binóculo tem sido
a minha principal forma de observação. Agora uso
um binóculo Proteus 8x56 sempre que vou observar. Não
tenho ainda telescópio e só nos encontros é
que espreito pelos dos colegas que por lá andam.
Depois a Astronomia binocular tem algo que
um telescópio não nos dá, a não
ser com acessórios caríssimos – a visão
stereo. Observar a Via Láctea com um binóculo,
no Verão e percorre-la toda desde o Sagitário
até à Cassiopeia, passando pelo Cisne, é
uma experiência fantástica. Sentimo-nos completamente
mergulhados no Cosmos, rodeados por milhões de estrelas!
Faz-nos lembrar que somos pequeninos, pequeninos, pequeninos.
Estaremos para o Cosmos como um quark está para mim,
como ser humano.
Com um binóculo temos uma maior sensação
de profundidade, uma maior sensação de absorção
pelo Cosmos. Foi das coisas mais fantásticas que experimentei
até hoje. Há inclusive colegas astrónomos
que só usam binóculos. Não um binóculo
7x50, ou 10x50, mas sim os chamados binóculos gigantes,
com aberturas de 80 e 100 milímetros, com maiores capacidades
de amplificação. O colega Alfredo Pereira já
descobriu uma “Nova“ graças a um excelente
conhecimento do céu e à sua perícia usando
um binóculo gigante. Mas neste caso, este tipo de instrumento
custa tanto, ou ainda mais, que um telescópio...
Eu contínuo a usar o meu binóculo
e enquanto o faço, enquanto me decido qual o telescópio
que quero adquirir, vou ganhando prática e “calo”,
com o uso do binóculo. Aos poucos vou tentando observar
objectos cada vez mais difíceis, mais difusos. Vou praticando
os métodos de busca que vão ser úteis no
telescópio, pois basicamente são os mesmos.
Um bom binóculo é um companheiro
para toda a vida de um astrónomo amador. Mesmo depois
de terem o vosso telescópio, vão continuar a usá-lo
nas vossas observações. É um excelente
instrumento para “varrer” grandes áreas de
céu. É excelente para procurar e localizar objectos,
devido ao seu maior campo em relação ao telescópio.
Acreditem que um bom binóculo, lhes
pode proporcionar muitas e boas horas de observação
gratificante. Depois de algum tempo a usar o binóculo,
depois de já se conhecer bem o céu e se saber
orientar pelas cartas e encontrar objectos, pegar num telescópio
e usá-lo, vai ser canja! Um binóculo é
pequeno e portátil e até por isso é um
bom instrumento, mas vai ser sempre útil, pois será,
na fase mais avançada, com telescópio, um complemento
indispensável às observações.
Como podem ver, ter telescópio não
é condição imprescindível para se
começar no mundo da Astronomia. Ter um telescópio
e não o saber apontar, só vai originar a que ele
fique encostado a ganhar pó, e se perca o entusiasmo
e interesse por este hobby. O binóculo, para além
de nos dar belas imagens de campos estelares, por exemplo, é
um excelente instrumento de treino.
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