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Os efeitos culturais, sociais, económicos, ambientais e científicos de uma melhor iluminação
A poluição luminosa, tem muitos efeitos, a vários níveis e não só ao nível cientifico da Astronomia. Existem implicações culturais, sociais, económicas e ambientais inerentes ao problema da iluminação desmedida e estúpida.

Os nossos antepassados contribuíram para a história mundial, com as suas descobertas, pesquisas, sistematizações e estudos. Um desses importantes legados está a perder-se, devido à poluição luminosa. O legado das constelações e sistematização dos céus, está ameaçado pela expansão desmedida e descuidada da iluminação nocturna. Hoje em dia, numa cidade como o Porto, é muito difícil observar-se as constelações. Podem contar-se pelos dedos das mãos, as estrelas que se vêm no centro da cidade. Eu moro a 6 quilómetros do Porto, e consigo visualizar algumas das constelações, mais evidentes (Canis Major, Canis Minor, Ursa Major, Orion e mais algumas) mas de facto, constelações como o Cancer, Piscis, não consigo, devido ao clarão da cidade do Porto. Para ter acesso a céus minimamente decente, tenho de fazer quase 30 quilómetros para o interior. AINDA assim, o clarão do Porto é perfeitamente visível. A agricultura nasceu com base no conhecimento do céu. Para os nossos antepassados, era obrigatório conhecer as constelações, para se saber quando semear e quando colhêr. Hoje em dia, isto seria impossível!

Hoje em dia, as nossas crianças não sabem o que é olhar para o céu e dizer “WOW!” ao ver a Via Láctea, no Verão, atravessando o céu desde a constelação de Sagitarius até à Cassiopeia, não sabem as constelações, porque não as vêm. Com isto perdem-se conteúdos históricos e folclóricos relacionados com as estrelas e constelações. Socialmente isto implicará, uma perda de cultura geral, que seria mais fácil de adquirir se as estrelas estivessem lá para servirem de companhia, e acompanhar a passagem de histórias populares, de pais para filhos, sobre as estrelas. É uma perda cultural e social, desta forma. É só a minha opinião. Perde-se o romantismo do céu estrelado também. Mas quem quer contemplar o céu estrelado no meio da cidade? Pois...Mas o problema é que os efeitos estendem-se ao longe. Não se fazem sentir só no perímetro da cidade.

Ambientalmente, também existem preocupações. E há vários pontos por onde pegar no impacto ambiental nocivo que a poluição luminosa tem. Vou começar por um muito prático. Como já se falou, a poluição luminosa fica cara ao contribuinte, pois paga-se luz que não se usa, para não falar que aumenta em muito, os consumos, logo, as necessidades energéticas, logo aumenta a necessidade de produção energética. Em Portugal existem várias centrais termoeléctricas, espalhadas um pouco por todo o território. A maior parte destas centrais funciona através da combustão de carvão e de fuel-oleo, combustíveis fósseis, altamente poluentes. Existem vários países, que possuem outros tipos de central termoeléctrica, as centrais nucleares, que usam urânio como combustível, material muito mais perigoso que o carvão ou o fuel-oleo. O problema das centrais nucleares, não é tanto o seu funcionamento (esqueçam Chernobyll, estou a falar de centrais nucleares seguras), mas sim os seus detritos. Se uma destas centrais tiver de aumentar a produção de energia, vai aumentar o número de lixos nucleares que é preciso “fazer desaparecer”.

As combustões de carvão, fuel-oleo nas nossas centrais termoeletricas, vão lançar fumos e gases para a atmosfera, contribuindo para o aumento do famigerado efeito de estufa. Ora são repercussões muito sérias do aumento de produção energética, que por si só, já é muito importante. Mas ainda há a questão dos habitats naturais das espécies animais noctívagos. Aquando da construção da Ponte Vasco da Gama em Lisboa, depois de muitos estudos e alguns protestos das organizações ambientais, a iluminação escolhida foi idealizada de forma a minimizar o extravio de luz para os lados, ou para cima, de modo a proteger as espécies que ali têm o seu habitat. Com isto, não perdeu nada em eficácia, e atrevo-me a dizer que se ganhou em economia, pois os candeeiros estão orientados para onde realmente interessa. De facto existem muitos habitats do morcego comum, em zonas perto das cidades, que viram as suas populações diminuir drasticamente depois da instalação de painéis de informação iluminados, por projectores, de baixo para cima. Isto é mau, claro.

Bem a questão cientifica é, no fundo, a que me diz respeito mais directamente. Eu, como astrónomo amador que sou, irrito-me profundamente com todas as aberrações que vou vendo por aí fora. É muito chato, ter de fazer montes de quilómetros, para ir para um local, longe de tudo, ver as estrelas e fazer observações astronómicas. E eu sou amador, que observo o céu por prazer e “carolice”, mas imaginem de quem quer fazer ciência a sério...O Observatório Astronómico do Porto, no Monte da Virgem, em Vila Nova de Gaia, tem o seu maior telescópio, um reflector de 75 cm de abertura, o maior em Portugal, está parado a ganhar pó e ferrugem, pois não há condições para o utilizar, devido à poluição luminosa do Porto, Gaia e outras cidades limítrofes. Digam-me se não é desperdício? Claro que é. Existem vários casos de observatórios que tiveram de fechar as suas cúpulas e nunca mais as abriram, pois as condições não permitiam e assim, tiveram de fazer um enorme investimento para a mudança de instalações, para um local melhor. Mas esta operação só está acessível a alguns, muitos quando fecharam, fecharam mesmo. É uma grande injustiça. Seria quase como eu, que sou programador, de repente me visse privado do monitor do meu computador de trabalho, ele estava lá, junto com o meu software e ferramentas de programação, perfeitamente funcionais, mas não me serviam de nada, pois eu não os via para trabalhar com eles. Com o astrónomo, astrofísico ou cosmólogo, acontece o mesmo, só que as suas ferramentas são as estrelas e os planetas, e o seu monitor o céu. A poluição luminosa, priva-os do seu monitor, impedindo-lhes o acesso às suas ferramentas de trabalho.

Se ainda assim, estive aqui a gastar o meu latim (que até pode nem ser o melhor, é normal ?) e não os convenci, vou passar a um argumento que, geralmente, costuma dar frutos. O argumento económico-financeiro. O dinheirinho, os “carcanhóis”, os “ferrinhos”, o “pilim”, a “massa”, enfim, aquilo que faz “girar” o Mundo. Vejamos. Vocês são donos de uma empresa de serviços de TIs (Tecnologias de Informação – é o caso que melhor conheço). Estão a iniciar actividade e claro, querem posicionar-se no mercado. Vão ter de empregar colaboradores, de modo a terem massa critica de produção e desenvolvimento. Se contratarem 10 pessoas, que vão trabalhar 8 horas por dia, em que cada uma delas, passa 4 horas em trabalho efectivo, supondo que cada uma delas aufere um vencimento de 1000 €, no final do mês vão ter de pagar a estas pessoas 1000 x 10 €, ou seja, 10 000 €. Agora imaginem este cenário: uma vossa concorrente, a iniciar ao mesmo tempo que a vossa empresa, emprega 5 pessoas, a trabalhar 8 horas por dia, em que cada uma delas tem realmente 8 horas de trabalho efectivo, ganhando cada uma 1000€ de vencimento. No final do mês, essa empresa terá um custo com vencimentos de 1000 x 5 €, ou seja, 5000 €.

O que temos na prática? Que diferença existe? Simples: A vossa empresa, tem gente a mais a trabalhar para a necessidade, não sendo produtiva ao máximo. Por sua vez, a vossa concorrente, tem apenas 5 colaboradores, em vez dos vossos 10, que são mais produtivos, e distribuindo todo o trabalho por essas 5 pessoas, consegue-se ocupa-los durante mais tempo, cumprindo o trabalho na mesma, com uma redução de custos para metade. Economia na hora de pagar ordenados, esse dinheiro de sobra, pode ser canalizado para investimentos na melhoria da empresa.

No caso da iluminação pública passa-se um caso idêntico. Os modelos usados hoje, são altamente “improdutivos”. Geram demasiados gastos. Com uma redistribuição de “trabalho” e uma redução de colaboradores, passaríamos a ter modelos bem mais produtivos. Passemos à realidade...

Hoje em dia, é comum verem-se lampiões com lâmpadas de potências de 350 ou 400 Watts, de vapores de mercúrio, ou de vapores de sódio de alta pressão, em que se calhar, mais de metade da luz emitida perde-se no espaço, gerando um desperdício de luz, que se traduz num desperdício energético, que levará ao aumento de produção de energia, produzindo um aumento do custo da iluminação pública e uma degradação do ambiente. Agora cortemos no número de colaboradores (potência) e re-estruturemos a nossa organização (iluminação) e façamos uma re-distribuição do trabalho (equipamentos). Temos vários aspectos a ser levados em conta, agora. Temos as potências das lâmpadas que temos de diminuir, para serem mais económicas. Temos a iluminação que não pode pior. Temos, finalmente, os equipamentos que nos devem ajudar a atingir os objectivos, ou seja cumprir com os dois pontos anteriores. De seguida vou apresentar um quadro, com uma relação de lúmens por Watt, de vários tipos de lâmpada, de modo a dar uma ideia da sua eficiência. Aqui fica então o quadro:

Tipo Lúmens/Watt
Incandescente 20
Mercúrio 54
Sódio a alta pressão 125
Sódio a baixa pressão 183

Por este quadro, podemos ver que a lâmpada mais eficiente, logo mais económica, é a de vapores de sódio a baixa pressão. O que acontece é que as mais usadas são as de vapores de mercúrio, que têm vindo a ser substituídas pelas de vapores de sódio a alta pressão, mas pior é quando estas se juntam...É preciso passar a usar lâmpadas de sódio a baixa pressão, pois são mais eficientes, logo mais económicas, pois não é necessária tanta potência.

Alguns dos equipamentos de iluminação usados hoje em dia, são autênticas aberrações. São projectores para o ar directamente, lampiões esféricos, etc. Estes são para morrer, pois não têm remédio. Mas existem outros equipamentos que podem ser reconvertidos e aproveitados, tornando-se em equipamentos inteligentes e eficazes. De facto, há várias formas de fazer isto, que serão abordadas mais à frente.

Os novos equipamentos, que felizmente começam a nascer na fábrica inteligentes, aparentemente já têm em conta este problema. No Porto, em quase todas as obras começadas para a Porto 2001, muitos dos equipamentos de iluminação são inteligentes, anti poluição luminosa. São candeeiros planos, que apontam a 90º, para baixo, impedindo que a luz se evada para cima. E já começam a utilizar as lâmpadas de vapores de sódio a baixa pressão, o que é um bom indicador. Mas são poucos, comparativamente com a base já instalada de equipamentos e é sobre esses que é necessário actuar.

Conclusão...Com a escolha de equipamentos de iluminação inteligentes (re-distribuição do trabalho da nossa empresa) consegue-se uma melhor iluminação pública, com objectividade e eficiência (re-estruturação da nossa organização/empresa) e consequente diminuição da potência das lâmpadas, pois já não há energia a ser desperdiçada para o espaço, sendo toda a luz disponível enviada para onde interessa, ou seja, o chão (diminuição do número de colaboradores necessários na nossa empresa).

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