2005 (II)

Janeiro Julho
Atalaia XVIII - Primeira observação do ano Atalaia XXII - O cometa, a supernova e outros
Pátio 187 - Maccholz em (muito) contexto Pátio 202 - Terra no afélio
Pátio 188 - Maccholz na bisga - o filme Aeródromo XXIV - Conjunção Mercúrio, Vénus e Lua
Atalaia XIX - Cometa P/Tsuchinshan (62P) AstroVide
Fevereiro Pátio 203 - Messier 27 em Ha-RGB e Véu em H-alpha
Atalaia XX - À caça no meio dos predadores Atalaia XXIII - O Véu e a Hélice em h-alpha
Atalaia XXI - Sol em h-alpha Pátio 204 - A gigante e as anãs
Pátio 189 - Testes ao luar Pátio 205 - O ovo e a tromba do elefante
Março Agosto
Pátio 190 - "Swing-by" da sonda Rosetta Astrofesta 2005 - Lamas de Mouro
Pulo do Lobo IV Pátio 206 - Vénus e Júpiter I
Pátio 191 - Pátio RGB Setembro
Pátio 192 - Pátio RGB (parte II) Pátio 207 - Vénus e Júpiter II
Abril Pátio 208 - NGC 457 e NGC 436
Vale da Lama I Vale da Lama III
Pátio 193 - Júpiter e Lua Pátio 209 - Sol e Lua
Pátio 194 - Júpiter e trânsito do Europa Pátio 210 - Sol II
Maio Sol III
Pátio 195 - Sol Outubro
Serra da Estrela II Noites Transmontanas I
Pátio 196 - Conjunção de Júpiter com a Lua Noites Transmontanas II
Pátio 197 - LRGB III Noites Transmontanas III
Aeródromo XIX - Vénus Eclipse Anular
Junho Pátio 212 - Marte e sua prole
Pátio 198 - Messier 13 Pátio 212 - Marte Próximo
Vale da Lama II Novembro
Pátio 199 - Sol em H-alpha Vale da Lama IV
S.Pedro de Moel XII - Conjunção Vénus e Lua Dezembro
Castelo de Vide Atalaia XXIV
Pulo do Lobo V Pátio 214 - Takahashi P2-Z "Patrol"
A Lua e o Castelo
Aeródromo XX - Conjunção de 3 planetas
Aeródromo XXI - Conjunção de 3 planetas II
Aeródromo XXII - Conjunção de 3 planetas III
Aeródromo XXIII - Conjunção de Mercúrio e Vénus
Pátio 201 - Messier 57 Ha-LRGB

Atalaia XXII - O cometa, a supernova e outros

2005.07.02
Atalaia (Montijo 38º44N 8º48W)

Noite de Verão limpa mas algo clara e com pouca transparência, turbulência por vezes alta e também algum vento, circunstâncias que quando combinadas tornam a tarefa de observar e registar um pouco mais complicada.

O cometa de período curto (5.52 anos) 9P/Tempel 1 vai receber um presente de 370 kg a 10 km/segundo pelas 05:49 and 5:55 UTC do dia 4 de Julho, a sonda "FlyBy" mais o"Impactor", a "Deep Impact" conjuntamente com telescópios terrestres e espaciais, vão tentar perceber como são constituídos os cometas, que se crêem serem de matéria primordial do sistema solar. Infelizmente o momento do impacto não vai ser visível em Portugal visto o Sol já ter nascido. O cometa nessa altura estará a 0.89396083 UA (133,734,637 km) da Terra, e há quem julgue que poderá chegar a magnitude suficiente para ser visível facilmente com binóculos e até a olho nu (algo que não acredito muito), isto apesar de neste momento brilhar com magnitude de 9.7.

A imagem abaixo é uma animação do cometa durante um período de 32 minutos, a pouco mais de 30 horas do impacto. A julgar pelas as magnitudes das estrelas na imagem (a mais brilhante tem 8.8), não me admira nada não o ter conseguido observar com o 90mm, é muito mais ténue do que a magnitude de 9.7 parece indicar, mas realmente as condições de observação também não eram as melhores.

cometa periodico 9P/Tempel 1
cometa periodico 9P/Tempel 1 2005-07-02 22:10
Takahashi Sky-90 f/4.5 (407mm) + ATIK-1HS 2.9" 60%
exp: 32 min. (16x120 seg.) mag. 5

Não é todos os dias que se tem oportunidade de observar visualmente (e registar) uma supernova. Esta é uma supernova do tipo II e está no seu estágio inicial estando ainda obscurecida por poeira dos braços da galáxia, e provavelmente não ficará muito mais brilhante, ficando assim apenas acessível a grandes aberturas visualmente ou pequenas aberturas com câmaras CCD. A supernova sn2005cs, como é formalmente designada, foi descoberta em 27 de Junho, há apenas 5 dias atrás.

Supernovae são descobertas às muitas dúzias por ano, mas menos frequentemente em galáxias tão conhecidas e brilhantes como a Messier 51. Apesar de não ter sido óbvia, foi fácil visualizá-la embebida num dos braços espirais interiores da Messier 51 usando o Obsession 15" do Alberto. Foi a primeira vez que vi um supernova "ao vivo".

Messier 51,NGC 5194
Messier 51 & NGC5195, " Galáxia Remoínho" + supernova sn2005cs
Takahashi Sky-90 f/5.6 (500mm) + ATIK-1HS 2.3"
exp: 60 min. (120x30 seg.)

Mais uma tricromia "iluminada", desta vez do enxame aberto Messier 11 na constelação de Escudo. As estrelas algo "obesas" não deixam de denunciar a turbulência que se fazia sentir, sendo estas o resultado das exposições que escaparam das pequenas rajadas de vento que por vezes se sentia.

Messier 11, NGC 6705
Messier 11 "Patos Selvagem"
Takahashi Sky-90 f/5.6 (500mm) + ATIK-1HS 2.3"
exp: 39 min. - l+rgb (34x20 seg.) + (3x28x20 seg.) mag. 5 turb

E finalmente antes de passar ao "modo visual" fiz mais uma visita digital a um dos enxames globulares preferidos visualmente - o Messier 15 em Pégaso.

Messier 15,NGC7078
Messier 15
Takahashi Sky-90 f/7 (640mm) + ATIK-1HS 1.81"
exp: 14 min. (43x20 seg.) mag. 5 turb

LuaContinuando a seguir as cartas do Karkoschka , dei uma ronda pela constelação de Andrómeda e Triângulo. Desta vez usei o Takahashi Sky-90 a f/9 (com o Extender-Q) e a Panoptic 24mm (34x-2 graus), a Radian 14mm (59x, 1 grau) e uma Nagler Zoom 3-6 (137x-273x).

N0 Messier 110, Messier 32, Messier 31, Messier 33, Messier 76, NGC 752, NGC 891

A Messier 31 e as suas galáxias satélites, Messier 32 e Messier 110 estavam todos visíveis e suficientemente enquadradas nos 2 graus da Panoptic 24mm. A Messier 31 atravessava o campo da ocular de um lado ao outro e as dimensões e formas das restantes bem ajustadas. A galáxia do Grupo Local Messier 33 em Triângulo, não passava de uma grande e ténue nebulosa redonda.

A nebulosa planetária Messier 76 a 59x pode-se descrever como tendo forma rectangular, sendo até um objecto bem fácil de encontrar e de observar apesar da sua magnitude 10. O enxame aberto NGC 752 é extremamente grande e é constituído principalmente por estrelas relativamente brilhantes mas muito espaçadas, precisando um pouco mais de campo para o fazer sobressair das estrelas de fundo.

E finalmente o novo desafio para o Verão, a galáxia "edge-on" NGC 891 que não consegui sequer vislumbrar, pois tendo um brilho de superfície perto de 14 necessitar de céu bem escuro e muita persistência.

Por a Lua a nascer anunciava o fim da noite estando a menos de 3 graus de altitude aquando a imagem (2:44 UTC), tendo por companhia a estrela 36 Tauri de magnitude 5.5 que distava apenas 16 minutos de arco do limbo da Lua e ainda as Plêiades alguns graus acima - uma bela paisagem.

Terminei a noite no planeta Marte, no qual já possível observar sem dificuldade a calote polar e também algumas diferenças de albedo. A ver também as imagens e relatos desta noite no atalaia.org .


Pátio 202 - Terra no afélio

2005.07.05
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)

Foi hoje às 4:55 da madrugada. O Sol mais pequeno do ano.

Terra no afélio
Periélio 2005-01-02 e Afélio 2005-07-05

E já agora uma imagem de corpo inteiro do dia de hoje.

Terra no afélio
Terra no afélioTerra no afélio
2005-07-05 12:30 UTC
M:3 S:3

Aeródromo XXIV - Conjunção Mercúrio, Vénus e Lua

2005.07.08
Aeródromo da Gândara do Olivais (39.77N 8.82W alt. 52m)

Hoje ao fim do dia

Conjunção Mercúrio, Vénus e Lua

AstroVide

2005.07.09
Barragem do Póvoa - Castelo de Vide

Fui este fim de semana a Castelo de Vide atender a mais um AstroVide , onde se realizaram palestras, um jantar convívio e uma noite de observação num local que embora suficientemente escuro para um evento deste género, foi algo incomodado pelas luzes de viaturas de visitantes, curiosos e também de campistas que por lá se encontravam.

A noite rondou os 6 de magnitude limite no zénite, sem humidade nem vento. A turbulência oscilou entre a forte e a média e a temperatura esteve amena até bem perto do fim da noite. Apesar de encontros com público não serem boa ocasião de fazer observações, não foi impeditivo de se poder rever alguns objectos, isto em parte graças a passar despercebido por ter estado estacionado nas redondezas de um Merak 18" e de um Obsession de 15", que obviamente atraem mais atenções.

O telescópio utilizado foi o meu velho (5 anos) dobson Brightstar Spacewalker 200mm f/6, que até levou com uma colimação com laser e tudo com cortesia do Alberto, apesar de entretanto a montagem ter adquirindo alguma vontade própria. As oculares utilizadas foram a Panoptic 24mm (50x, 1.4° ) e a Nagler 9mm (133x, 0.6°) e a Nagler Zoom (200x-400x). O guia foi o costumeiro Atlas do Karkoschka.

Abaixo está a lista dos objectos observados com muita conversa pelo meio:

N18 Messier 57, Messier 56, NGC 6826

E21 Messier 71, Messier 27

N14 Messier 13, Messier 92 (e a NGC 6207)

E19 NGC 6210, NGC 6572, NGC 6633, IC 4756, Messier 26, Messier 11, NGC 6712

E20 Messier 23, Messier 20, Messier 8, Messier 21, Messier 24, Messier 16, Messier 18, Messier 17, Messier 28, Messier 69, Messier 25, Messier 22, Messier 70, Messier 54

N16 Messier 102 (NGC 5866), NGC 5907, NGC 6503, NGC 6543

E23 Messier 15, NGC 7331

N0 Messier 110, Messier 32, Messier 31, Messier 33, Messier 76, NGC 752, NGC 891

E24 NGC 7293

Desta lista destaco o globular NGC 6712 em Escudo, de magnitude 8.1 que se encontra perdido nesta área repleta de estrelas da nossa Galáxia, mas ainda se destaca devido a ser bastante comprimido e muito rico em estrelas ténues, dando-lhe um aspecto algo nebuloso. A resolução não ultrapassa algumas dúzias de estrelas.

Enquanto subia pela a carta E20, deparei-me com enxame aberto NGC 6603 na grande Nuvem de Sagitário, à qual se atribui acertadamente o Messier 24, visto ter sido a nuvem que Messier descreveu e não o enxame anterior, mas contudo fiquei intrigado visto não ter referência a este enxame tanto no Karkoschka como no Bright Star Atlas (Tirion, Skiff), por tal fiz um pequeno croqui para mais tarde o poder identificar. Este enxame está talvez fora do alcance da resolução efectiva do 20cm, assemelhando-se inicialmente a uma nebulosa arredondada, aparentando ser maior que os 5 minutos de arco que lhe está atribuído.

NGC 6603

Na carta N16 percebi porque deverá ser extremamente difícil observar a galáxia NGC 5907 com o 90mm, que no entanto não se pode considerar que tenha sido difícil de observar com o 20cm. Apesar de ténue, a sua forma extremamente alongada era evidente e até o pequeno halo se salientou como um "espessamento" da parte central do ténue "risco". Pelo o contrário a NGC 6503 é bastante mais brilhante, mas também mais pequena e com forma lenticular. Mas a melhor definição visual de uma galáxia lenticular talvez seja a NGC 7331 em Pégaso, em cujo o campo tentei fútilmente observar alguma coisa do "Quinteto de Stephan".

À semelhança da NGC 5907, a galáxia "edge-on" NGC 891 está no lote de galáxias propostas por Karkoschka que me fazem pensar a que montanha ou vulcão (de preferência extinto) devo subir para as conseguir discernir com o 90mm, isto apesar do Atlas ter sido escrito para telescópios de 15cm sob céu escuro. Também esta galáxia se pode descrever como um grande e débil "risco", sem ter havido necessidade de usar a visão indirecta. No Obsession 15" atravessava a ocular de um lado ao outro, que embora ainda ténue com halo com forma bem acentuada.

De resto, entre outras vistas, foi a segunda vez que consegui observar a "Helix" (NGC7293) sem filtro usando o 20cm, que embora não possa adicionar muito à descrição de nebulosidade circular de grandes dimensões. Também foi possível observar sem filtro as Véus em Cisne (bem lembrado pelo Filipe). Também se separou a Zeta Aqr nos seus componentes quase gémeos Zeta-1 e Zeta-2 que neste momento tem um valor de separação que varia entre 1.7" e 2" conforme as fontes, sendo portanto, até acessível a telescópios mais pequenos. E finalmente a observação da praxe do planeta Marte que apesar de ainda algo "borbulhante" a 240x, já mostrou bem a calote polar e algumas marcas de albedo.

Poucos foram os telescópios que ficaram até ao final da noite (4:20), tendo os últimos resistentes abandonado o local uma hora depois já com o crepúsculo bem adiantado.


Pátio 203 - Messier 27 em Ha-RGB e Véu em H-alpha

2005.07.14
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)

Depois de uma semana de céu encoberto ao fim do dia, veio uma noite limpa mas não livre daquela neblina leve mas bem presente que desde há semanas parecem insistir durante toda a noite. A transparência esteve bastante má, e a turbulência menos má, a magnitude limite no zénite foi de 4 na melhor das hipóteses. Estas condições tornam obrigatória a utilização de filtros sejam eles de cor ou de linha, mas tornam as imagens feitas nestas condições num exercício meramente pedagógico.

O planeamento de imagens RGB feitas aqui no Pátio tem de ser cuidadoso, porque entre os obstáculos e o domo de poluição luminosa da cidade de Leiria fica apenas disponível uma janela de cerca de 2 horas para objectos a um palmo acima do equador celeste. Neste caso a (l)uminância foi descartada porque simplesmente ficava com ruído de fundo extremamente alto (valores de 80-90) com apenas 30 segundos de exposição. A hora e meia de H-alpha foi registada ainda com a Lua acima do horizonte, tendo registado as cores por ocasião da passagem do meridiano e com a Lua já em baixo, adicionando mais 10 segundos à exposição no canal azul, para compensar a menor sensibilidade do CCD nessa gama de comprimentos de onda.

A aquisição foi efectuada com o K3CCD, alinhamento, subtracção de "dark" e integração (kappa-sigma) com o IRIS, Richardson-Lucy (2 iterações) com o AIP e finalmente correcção de níveis e saturação de cor com o PS.

Messier 27, NGC 6853, PK 60-3.1
Messier 27, NGC 6853, PK 60-3.1
Takahashi Sky-90 f/5.6 (500mm) + ATIK-1HS 2.3" 60%
exp: 135 min. ha-rgb (60x90 seg.)+(2x30x30 seg. + 1x30x40) mag. 4 neb

A imagem abaixo é do segmento Oeste dos remanescentes de uma supernova em Cisne, tendo sido apenas um teste para verificar a inutilidade do redutor de 1.25" de enroscar que infelizmente faz salientar bastante o campo curvo, sendo também extremamente difícil de focar. De qualquer modo foi interessante ter um telescópio a trabalhar a somente f/2.8 e chegar à conclusão que de pouco serve aqui no Pátio em que exposições 90 segundos com filtro H-Alpha aparentam ser o limite máximo antes de começar a perder demasiado contraste.

NGC 6960 "Nebulosa do véu" - segmento Oeste
NGC 6960 "Nebulosa do véu" - segmento Oeste
Takahashi Sky-90 f/2.8 (250mm)+ATIK-1HS 4.7" res80%
exp: 60' h-alpha (40x90") mag. 4 neb

Atalaia XXIII - O Véu e a Hélice em h-alpha

2005.07.16
Atalaia (Montijo 38º44N 8º48W)

Foi uma noite serena de Lua gibosa que nos acompanhou até às duas da manhã, praticamente sem vento, mas com alguma humidade para o fim da noite. Magnitude zenital visual situou-se entre os 5.5 e 6, embora os horizontes estivessem bastante opacos por neblinas/aerossóis e a turbulência mediana .

A Lua neste estado adiantado de iluminação restringe significativamente o número de objectos a observar ou a fotografar. Em ambos casos a utilização de filtros de linha podem resgatar alguns deles ao luar e ao desperdício de iluminação pública mal direccionada.

Os alvos desta sessão eram de grandes dimensões e muito ténues, tendo então resolvido tentar uma combinação de redutores de modo a ganhar mais campo e menor tempo de exposição. O Takahashi Sky-90 foi primeiramente reduzido e corrigido com o seu redutor/corretor específico para f/4.5 após o qual foi aplicado um redutor 1.25" da Atik, que aplicado num "nariz" mais curto, tem o efeito de diminuir o seu factor de redução, resultando então num pequeno "astrografo" a trabalhar a f/3 e com 270mm de comprimento focal completamente planos. Para terminar "optimização de largo campo" o Mário Santiago emprestou-me a sua Atik 2HS que possui um CCD 50% maior.

Uma amostragem destas não inspira grandes cuidados, apenas me restando passar o tempo na conversa e dar espreitadelas fortuitas nos telescópios dos companheiros de céu (estiveram perto uma dúzia de telescópios no local).
E assim foi até perto das cinco e meia da manhã.

A aquisição das imagens foi efectuada com o K3CCD, alinhamento, subtracção de "dark" e integração (sigma-clipping) com o IRIS e tendo sido somente feita correcção de níveis com o PS.

A primeira imagem é da parte Este dos remanescentes de uma supernova em Cisne num campo com pouco mais de grau e meio, e a segunda imagem da maior e mais próxima nebulosa planetária - A "Hélice" ou "Helix " em Aquário tendo ambos os objectos sido visíveis com a Panoptic 24mm e filtro UHC, apesar no caso da "Hélice" não ter subido mais de 30 graus de altitude no horizonte. Como sempre podem ver mais imagens aqui.

A nebulosa "Véu" espalha-se numa quase área circular de 3 graus, sendo os dramáticos restos de uma supernova de uma supergigante que explodiu há cerca de 15000 anos atrás a 2500 anos-luz de distância, tendo se estimado ter chegado a -8 de magnitude. Apesar de muito ténue é possível observá-la com apenas uns binóculos em céus verdadeiramente escuros, e com um detalhe extremamente rico com uma grande abertura filtrada com filtros OIII ou UHC (como já tive a felicidade de algumas vezes poder observar), podendo-se até percorrê-la praticamente na sua totalidade. Das grandes nebulosas, é a provavelmente a que mais oferece para ver, tanto em qualidade como em quantidade.

NGC 6992-5 "Nebulosa do véu" - segmento Este
NGC 6992-5 "Nebulosa do véu" - segmento Este
Takahashi Sky-90 f/3 (270mm) + ATIK-2HS 5.6" 60%
exp: 2x60 min. h-alpha (2x30x120 seg.) mag. 6

Continuando nos objectos grandes e ténues, temos a grande nebulosa planetária "Helix", que se estima situar entre 500 e 700 anos-luz, tornando-a uma das mais próximas do nosso sistema solar senão a mais próxima. Embora ténue devido ao facto de à nossa latitude não subir muito no horizonte e por tal ficar um algo "afogada" na neblina, é verdadeiramente excepcional em latitudes mais favoráveis e céus verdadeiramente escuros como quando a observei nos céus escuros da ilha de La Palma usando apenas um binóculo 8x50. A estrela central (a estrela mesmo ao centro na imagem de magnitude 13.4) debita 120000 kelvin de temperatura e suficiente radiação ultravioleta para fazer ionizar o oxigénio (no "buraco" central), e o nitrogénio e hidrogénio (no anel) que por ela própria foram expelidos (em diversas fases), tendo estes anéis velocidade que variam entre 32 e 40 km/s. Devido à sua proximidade é possível observar detalhes muito em pormenor das estruturas e dinâmica nos grandes telescópios, dando oportunidade aos astrónomos de observar aquilo que vai suceder ao nosso Sol daqui a alguns mil milhões de anos.

NGC 7293, " Hélice" "Helix"
NGC 7293, " Hélice" "Helix"
Takahashi Sky-90 f/3 (270mm) + ATIK-2HS 5.6" res60%
exp: 90 min. h-alpha (30x180 seg.) mag. 6

Curiosamente ambos os objectos representam as duas formas mais visíveis e espectaculares de reciclagem de matéria estelar e planetária. Imagens mais bem apreciadas se acompanhadas com a música "We Are All Made Of Stars" de Moby.


Pátio 204 - A gigante e as anãs

2005.07.29
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)

Noite de condições excepcionais aqui no Pátio, com magnitude zenital perto de 5, tendo a Via Láctea sido quase perceptível a cortar a constelação de Cisne quando a sua passagem pelo zénite. Noite agradável, sem humidade e pouca da habitual neblina, mas com algumas nuvens que felizmente passavam depressa.

A nebulosa "Crescente" é um alvo habitual em astrofotografia devido à sua singularidade estética, mas acho-a mais singular por estar nela presente um objecto bem mais raro - a estrela Wolf-Rayet que lhe deu origem e ilumina. Esta nebulosa foi criada pelos ventos solares de uma estrela Wolf-Rayet (classe de raras estrelas com grande massa) aquando a sua passagem para esta fase. A WR 136 como é catalogada, e a estrela brilhante que está situada no seu centro da imagem e será provavelmente uma supernova daqui a alguns milhões de anos. Este tipo de estrelas são raras (1 em cada 10 milhões) pelo simples facto de possuírem uma grande massa, tal condição resulta num tempo de vida efémero mas no entanto fulgurante como a imagem abaixo tenta mostrar.

NGC 6888, "Nebulosa Crescente"
NGC 6888, "Nebulosa Crescente"
Takahashi Sky-90 f/4.5 (400mm) + ATIK-1HS 2.9" res 60% h-alpha
exp: 120 min. (60x120 seg.) mag. 5

As galáxias elípticas anãs NGC 147 e NGC 185 abaixo retratadas pertencem ao Grupo Local (ver aqui a lista ) e julga-se estar dinamicamente relacionadas (depende do "paper" que se leia), estando situadas a 2 e 1.9 milhões de anos respectivamente (PGC), este par por sua vez são satélites da galáxia de Andrómeda, Messier 31. Estão situadas na constelação de Cassiopeia e a distância aparente dos seus centros é cerca de 1 grau. Estas foram duas das cinco galáxias locais que em Baade conseguir resolver as estrelas e identificar enxames globulares, mas não são de modo nenhum fáceis de observar visualmente, especialmente a NGC 147 que tem um brilho de superfície extremamente baixo (14.5). Daqui do Pátio são objectos inobserváveis visualmente.

NGC 147
NGC 147
Takahashi Sky-90 f/4.5 (400mm) + ATIK-1HS 2.9" res 60%
exp: 15 min. (60x15 seg.) mag. 5
NGC 185
NGC 185
Takahashi Sky-90 f/4.5 (400mm) + ATIK-1HS 2.9" res 60%
exp: 15 min. (60x15 seg.) mag. 5

Pátio 205 - O ovo e a tromba do elefante

2005.07.30
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)

Outra noite de condições pouco vulgares aqui no Pátio, tendo esta também uma magnitude zenital perto de 5, mas com a transparência pior que na noite anterior.

AFCRL 2688, PK 80+6.1Na década de 70 a Air Force Cambridge Research Laboratories (AFCRL) fez um levantamento em alta-altitude de objectos na área do infravermelho, encontrando este objecto que é forte emissor nessas gamas. A imagem revela um objecto alongado, constituída por dois componentes separados em 7 segundos de arco, iluminados por uma mesma estrela (supergigante de classe F) que tem a sua radiação visível bloqueada por um disco de poeira, sendo este disco exactamente aquele que divide a nebulosa. A luz das nebulosas é essencialmente reflectida e está fortemente polarizada (luz oscilando numa direcção), sendo possível fazer variar a intensidade da nebulosa com um filtro polarizador (e grandes abertura).

Originalmente foi classificada como uma nebulosa planetária, daí o número PK. Actualmente é classificada como uma nebulosa protoplanetária bipolar, um estágio intermédio antes da formação de uma nebulosa planetária. Este pode ser um cenário possível de evolução para o nosso Sol quando chegar a vez dele. A alcunha "nebulosa Ovo" não tem a ver propriamente com a sua forma, mas sim com a sua localização na constelação de Cisne, fazendo um triângulo rectângulo com a Tau e a Upsilon Cygni. A sua distância é incerta situando-se entre 3000 e 4000 anos-luz de distância.

A resolução utilizada (1.81"/pixel) foi sinceramente pequena, mas já permitiu observar a natureza peculiar do objecto, mostrando ainda alguns "rabichos" e tudo. A imagem foi feita em lrgb para salientar a diferente cor dos polos, sendo um deles mais avermelhado devido às poeiras do disco como se pode averiguar no quadrado acima aumentado em 2 vezes. Ver aqui a do Hubble.

AFCRL 2688, PK 80+6.1
AFCRL 2688, PK 80+6.1
Takahashi Sky-90 f/7 (640mm) + ATIK-1HS 1.81" res
exp: 60 min. lrgb (4x30x30 seg.) mag. 4.5

A van den Bergh 142 é uma nebulosa de reflexão associada à estrela B3 de magnitude 9 (SAO 33573) que é a estrela mais brilhantes ao centro esquerda da imagem e cuja nebulosa não é muito visível na imagem pois foi feita com filtro h-alpha, mas que no entanto ajuda a encontrar as vizinhanças, que essas sim são famosas devido a um casual combinação de poeira contrastada com hidrogénio ionizado resultando numa estrutura que se assemelha a uma silhueta da cabeça e tromba de um elefante. Esta é uma pequena parte da região perto de IC 1396 em Cefeu que é um autêntico mar de hidrogénio ionizado e poeira.Ver catálogo de Nebulosas de Reflexão de Sidney van den Bergh aqui.

vdB 142 e "Tromba de elefante"
vdB 142 e "Tromba de elefante"
Takahashi Sky-90 f/4.5 (400mm) + ATIK-1HS 2.9" res 60% h-alpha
exp: 120 min. (60x120 seg.) mag. 4.5

Astrofesta 2005 - Lamas de Mouro

2005.08.12
Lamas de Mouro - Melgaço

Este ano a Astrofesta estendeu-se ao longo de 3 dias, com as tardes e inícios de noite preenchidas por palestras, e os finais de noite num campo de observações onde estiveram montados algumas dezenas de telescópios no seu momento mais concorrido. Pode-se ver aqui o programa e actividades que julgo terem todas decorrido sem percalços.

Embora não tenha atendido a muitas palestras, algumas pelo facto já as conhecer, outras por ter andado distraído em conversas, foram interessantes e realizadas num auditório bem equipado e bem adequado à realização deste tipo de eventos. Também marcaram presença lojas de equipamento astronómico como a Galáctica da Marinha Grande e a Brightstar de Mira, com exposição de muitos tipos de material, assim com a loja do Museu da Ciência com livros e "gadgets".

As noites de observação foram em grande parte afectadas pelos fogos que assolavam a região circundante que apesar algo distantes, tornaram impraticáveis grande parte dos horizontes abaixo dos 30 graus. Mas apesar de tudo, houveram sempre alguns (poucos) resistentes que permaneceram no local até pelo o menos à hora do crepúsculo astronómico.

A noite de Sexta para Sábado foi a melhor no que diz respeito à observação astronómica, tendo até observado e dado a observar alguns objectos que se podem considerar difíceis para neófitos, tais com as "Véus" e a "América do Norte" em Cisne, ou a Messier 31 com suas galáxias satélites bem evidentes, tendo ainda tentado em vão capturar alguma perseida lá para o fim da noite. Nesta noite fiquei eu mais dois (os quais já não me recordo o nome) na conversa até cerca das 8 da manhã.

Astrofesta 2005O dia com maior actividade foi o de Sábado , com palestras e apresentações até às 3 da manhã, observações solares, e observações astronómicas até pouco mais adiantado devido à presença de nuvens. Mais uma vez as condições do céu fizeram perder o entusiasmo de grande parte dos participantes, ficando apenas alguns telescópios até ao fim da noite. Mas que ficou ainda teve a oportunidade de ver uma breve passagem da ISS às 4:35 assim com mais umas perseidas.
Graças ao feriado na Segunda-Feira, o evento prolongou-se por mais um dia, que infelizmente não foi muito melhor nas condições de céu, antes pelo o contrário, esteve bem mais nublado que as noites anteriores, mas mais uma vez alguns ficaram até depois das 5 da manhã.

Em todas as noites houve bastante actividade meteórica, com alguns dos meteoros a chegarem à categoria de bólide, tendo um deles na madrugada de Sábado (com as Perseidas no seu pico máximo) deixado um rasto que se notou por uma boa dúzia de segundos. Não foram muitas, mas algumas delas foram bastante intensas. As Perseidas foram apesar de tudo bons momentos nas diversas noites.

O céu no local principal de observação não me pareceu nada mau (magnitude 6 no zénite), mas como já escrevi anteriormente foi muito prejudicado por aerossóis dos fogos em redor, tendo ainda pensado ir até ao segundo local de observações que era mais alto (1200 metros), mas julguei que pouca diferença faria dadas as condições. O local principal era um espaçoso campus "relvado" tendo com vários quadros eléctricos a distribuir 220V para que quisesse lá ligar equipamento, era suficientemente espaçado para até encontrar um local mais recatado para astrofotografia ou observação mais séria, mas estas últimas actividades foram bastante limitadas pela a curiosidade dos visitantes, que de resto é normal e esperado para um evento deste tipo. Tinha ainda o inconveniente de estar perto uma estrada, sendo por vezes o local encadeado pelos faróis dos carros.

Astrofesta 2005
Mosaico feito a partir de imagens de quando andava a tentar caçar as perseidas.
A imagem da direita é da constelação de Perseu, à direita em cima é a Messier 31 em Andrómeda e abaixo as Plêiades (Messier 45) em Touro

Houve alojamento para todos os gostos, desde acampar no Parque de Campismo que se situava a apenas 200 metros do auditório e 350 metros do local de observações, reunindo as condições mínimas e tinha duche quente incluído na diária, havendo para os menos aventureiros várias unidades de hotelaria, pousadas ou casas de turismo rural nas localidades em volta: Lamas de Mouro, Castro Laboreiro, Peneda etc. Não tive oportunidade de experimentar a gastronomia local (não acordava a tempo de almoçar e não costumo comer muito ao jantar), mas não deixei de comparecer a (vários) Alvarinhos de Honra. Este vinho é um bom refresco nas tardes quentes e solarengas, e não há problema desde que se beba em pé...

Foi uma boa oportunidade para visitar a região que tem paisagens serranas imponentes para oferecer , com cavalos, cabras, ovelhas e vacas à solta e no meio da estrada , assim como alguns carros de matrícula estrangeira. Também ouvi que havia para lá lobos (e dos maus segundo os locais) e javalis, mas não tive oportunidade de me encontrar com nenhum deles.

Resta notar a coragem de organizar este evento num local remoto que é sempre uma aposta arriscada, mas que proporcionou condições suficientes para as diversas formas de estar na astronomia, e julgo ter sido razoavelmente bem sucedido em todas apesar da meteorologia e fogos não terem colaborado muito.

Astrofesta 2005
Orion a nascer depois das cinco da manhã - 10 minutos de exposição

Este estava pouco esclarecido acerca da sua função, que é essencialmente guardar ovelhas, não persegui-las :). Este cão e outro da mesma raça, protagonizaram uma perseguição a duas ovelhas, curiosamente uma branca (Joana) e outra negra (Alice) que por lá pastavam, que em certa altura espalharam o pânico na praia e na esplanada. Diga-se que as ovelhas correm que nem desalmadas, e passam por cima de tudo e de todos...Parecia uma cena do National Geographic.

Astrofesta 2005
Um dos bicharocos que por lá andavam à solta
Astrofesta 2005
Um cão Castro Laboreiro (Tibo)
Astrofesta 2005

Pátio 206 - Vénus e Júpiter I

2005.08.31
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)(do vizinho)

Em 2 de Setembro estarão separados apenas por 1°22', mas hoje não resisti a aproveitar o fim de um dia tão límpido

Vénus e Júpiter

Pátio 207 - Vénus e Júpiter II

2005.09.02
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)(do vizinho)

Hoje este par teve a companhia dos foguetes numa freguesia das redondezas.

Vénus e Júpiter II

Pátio 208 - NGC 457 e NGC 436

2005.09.02
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)

Nesta noite o valor do SQM bateu o recorde das últimas semanas - 19.15 - este valor corresponde a uma magnitude zenital de 5 aproximadamente e pode-se descrever como de classe 6 da escala de Bortle. Este aparelho mede o brilho do céu em magnitudes por segundo de arco, unidade também usada para medir brilhos de superfície de objectos como galáxias e nebulosas planetárias.

O NGC 457 e NGC 436 são apenas dois das dúzias de enxames abertos que populam a constelação de Cassiopeia. O primeiro é conhecido por várias alcunhas, como o enxame do "ET", da "Coruja" ou da "Libelinha".

NGC 457
NGC 457
Takahashi Sky-90 f/4.5 (407mm) + Nikon D70 3,95"
exp: 7min. (7x60 seg.) 800 ISO SQM 19.15

Vale da Lama III

2005.09.03
Alpiarça

Depois de um picapau à beira da barragem, pusemo-nos a caminho chegando cerca de uma dúzia ao local por volta das 20:00 horas para aproveitar alguma da luz natural para montar o equipamento, seguindo-se um verdadeiro banquete sob as estrelas providenciado pelo Francisco Gomes e sua família por ocasião do seu aniversário, após o qual e já de barriga bem atestada se iniciaram as observações por volta das 22:30 tendo estas se prolongado praticamente até às 5:30 da madrugada. Deixamos o local (quase) todos um pouco antes das 7 da manhã.A composição do grupo andou ela por ela de observadores visuais/digitais.

As imagens e relato podem ser vistas na página da Atalaia.org . A astrofotografia da minha parte foi abandonar a sua sorte a Nikon D70 com a objectiva de 50mm e o obturador aberto a fazer "estrelas arrastadas" com a duração máxima da máquina que é de apenas meia hora, logo seguida de mais meia hora de "dark" que faz automaticamente.

O local
O local
Almeirim e Santarém a noroeste, mas não muito incomodativa graças ao morro.

Foi uma noite de Lua Nova, significando isso céu escuro de crepúsculo a crepúsculo, que felizmente acabou por acontecer. Céu esteve limpo durante toda a noite com a temperatura a baixar até aos 9 graus depois das três da manhã. A humidade teve níveis muito baixos, tendo também havido pouco ou nenhum vento. Num feliz acaso, as nuvens só surgiram mesmo após ter acabado a noite astronómica - um pouco de sorte na meteorologia para variar.

Entre as 23 e as 5 da manhã os valores obtido pelo o SQM rondaram todos à volta de 20.85 - valor que considero muito bom para o local e altura do ano. A título de comparação o melhor céu no meu pátio é cerca de 5x mais brilhante 2.512^(20.85-19.15) = 4.8). A este valor correspondeu um céu que rondava os 6 de magnitude limite, sendo possível notar com a vista desarmada os globulares Messier 13 e Messier 22 e também bastante detalhe nos braços da Via Láctea, que no princípio da noite se afundava a sudoeste até praticamente ao chão. Os horizontes Norte e Noroeste apresentavam domos de poluição luminosa. A turbulência esteve bastante razoável, mas houve períodos bons e maus ao longo de toda a noite.

Plêiades e Marte
Plêiades e Marte a nascer
O Nascente e Sul pelo contrário, bastante escuro

Tinha preparado previamente uma pequena lista de objectos a observar nessa noite, com especial incidência para os objectos de baixa declinação que também cruzariam o meridiano ao longo da noite. As impressões são baseadas em vistas no meu Dobson de 20cm e outras com o Obsession 15" do Alberto, e também com o binóculo Takahashi 22x60 do Alfonso. Os atlas de apoio foram o Sky Atlas 2000.0 (Tirion) e o Karkoschka.

Em Sagitário

Comecei a sessão pela a constelação de Sagitário, que nesta altura do ano já só possível observar favoravelmente um punhado de horas após o crepúsculo.

O alvo primário tratava-se da galáxia de Barnard (NGC 6822), que por diversas ocasiões, não consegui observar com o Takahashi Sky-90 . Este objecto é extremamente difuso, passando facilmente despercebido, mas uma vez identificado torna-se uma galáxia de visão directa, podendo-se descrever como uma grande nuvem muito difusa com forma elíptica bem alongada. No Obsession 15" destacava-se melhor e até sobreviveu ao filtro UHC, que salientou levemente algumas zonas mais condensadas de H no halo da galáxia. No Takahashi 22x60 não foi visível.

Pouco acima, encontrava-se a planetária NGC 6818, também conhecida como "Pequena Pedra Preciosa" que possui um brilho superfície bastante elevado, praticamente redonda, textura uniforme e de cor azula/esverdeada através do 20cm, facilmente distinta das estrelas a 64x. Na opinião de vários observadores era possível observar a sua anularidade no 15" como um pequeno e esquivo buraco, mas apenas numa das magnificações/filtro experimentadas.

Depois de ter passado a vista pelos algo desamparados globulares Messier 55 (grande) e Messier 75 (muito pequeno, mas de núcleo bem condensado), segui para as constelações que se seguiam no meridiano : Capricórnio e Aquário.

Em Aquário

O Aquário alberga o infame enxame Messier 73, que usando baixa magnificação não deixa se ser um pequeno e curioso asterismo, saltando depois para o pouco impressionante e nebuloso globular Messier 72 e saltando de seguida para a peculiar forma da planetária NGC 7009 "Saturno", que apesar do nome, julgo ser necessária mais abertura para lhe fazer mais juz. Ao pequeno globular Messier 30 em Capricórnio também não se pode adicionar muito para além de algumas estrelas que parecem despontar mais de um monte destas não muito resolvido.

A grande Helix (NGC 7293) foi facilmente localizada sem filtro, mas ficando com o buraco central mais destacado com filtro UHC. Esteve também facilmente visível sem filtro nos Takahashi 22x60.

Em Escultor

Debrucei-me de seguida nas constelações da Baleia (Cetus) e na do Escultor, onde me esperavam mais uns desafios acrobáticos.

Iniciei pela a grande Galáxia do Escultor (NGC 253), que se pode considerar a jóia deste canto do céu. A 64x apresentava-se enorme apesar de pelo o meu esboço que contém estrelas perto de magnitude 12, ter observado pouco mais de metade da sua verdadeira extensão . Podia-se se chamar "Charuto", visto o halo aparentar ser bastante largo apesar de extenso. No 15" era uma impressionante e grossa faixa que atravessava a ocular de um lado ao outro. Esta galáxia é a rainha do grupo de galáxias do Escultor, situando-se a apenas 10 milhões de anos-luz .Este grupo é o que encontra mais próximo do nosso Grupo Local contendo também as galáxias NGC 247, NGC 55 e NGC 300, todas elas de grande dimensão e que vou descrever de seguida.

A NGC 247 também foi um desafio que na realidade nem foi muito grande. Fico sempre desconfiado em galáxias de grande dimensão com brilho de superfície tão baixo (14). Embora muito ténue, a sua forma alongada era notória.

A NGC 55 foi o objecto com declinação mais baixa (-39 graus e 13 minutos) que observei nesta noite. Situada ao dois dedos às 13 horas da estrela alfa de Fénix (Ankaa), até se pode considerar fácil de apontar. É uma galáxia grande, ténue e com forma alongada.

O NGC 300 observei-o primeiramente no 15" e tentei de seguida apontá-la no 20cm, mas deixei-a para outra noite.

Finalmente e para desenjoar de galáxias, apontei para o grande e muito pouco resoluvel globular NGC 288. No 20cm é uma grande mancha redonda relativamente brilhante, que usando a visão indirecta consegue-se fazer saltar meia dúzia de estrelas. No 15" consegue-se resolver dúzias delas mas muito esparsas, aparentado ser muito pouco concentrado. Este globular é um dos mais próximos e conjuntamente com o NGC 362 (na constelação de Tucano) faz o par típico do problema que faz coçar muitas cabeças de astrónomos chamado de "segundo parâmetro". Estes globulares têm a mesma metalicidade, mas um é muito azul (NGC 288) e outro muito vermelho, e ambos têm a mesma idade. Ora esta discrepância permite concluir que existe outro factor desconhecido para além da metalicidade e idade para descrever as propriedades dos enxames globulares, ou no pior cenário, que ainda ninguém percebeu como realmente funciona a evolução estelar...

Entretanto o Alberto estava a fazer uma ronda pelas as galáxias de Escultor sugeridas pelo NSOG, e aproveitei para também dar uma olhadela. Foram elas : NGC 150, NGC 131 e 141 em que a 131 era de visão indirecta, NGC 613 (núcleo brilhante), NGC 148 (pequena e núcleo brilhante), NGC 254, NGC 289, NGC 439, NGC 491, NGC 7507 (núcleo pontual), NGC 7513 e NGC 7755.

Subindo um bom bocado, fui revisitar a galáxia Seyfert Messier 77 na Baleia, que mostrava bem o seu vigoroso núcleo em volta de nebulosidade arredondada, ao contrário da Messier 74 em Peixes, que se via como uma ténue nebulosidade arredondada sem núcleo que salientasse.

Nas vizinhanças

É impossível alguém ficar perto de um telescópio de grande abertura sem sentir incomodado pelos "aahs" e expressões de incredulidade constantemente proferidas :)), daí que muitas vezes interrompia o meu alinhamento para tratar de descobrir que diacho se passava...

O quinteto de Stephan já faz também parte do menu habitual do 15". As 5 galáxias estavam perfeitamente presentes, apesar de ser um bocado difícil separar as duas mais "chegadinhas" (7318 A e B). Ainda tentei ver alguma nebulosidade com o 20cm mas sem sucesso. Tenho de me lembrar de fazer um bom mapa para tentar localizá-la, pois aquela zona tem demasiadas estrelas nesta abertura.

Por muito que os astrofotógrafos tentem, nada bate a visão da "Véu" (do género milagrosa) em tempo real através do Obsession 15" e um filtro OIII : pode não ser mais profunda que as melhores imagens, mas a resolução de tonalidades e sensação de volume certamente o é. Este comentário está a tornar-se um pouco recorrente, mas não perco nenhuma oportunidade de o poder fazer...

A "Crescente" (NGC 6888) também a vi como nunca a tinha visto antes. praticamente a totalidade desta nebulosa foi visível, tendo sido imediatamente reconhecível a forma que lhe dá o nome, com bastante detalhe adicional.

Igualmente impressionante esteve a Messier 17 "Cisne" - foi incrível a quantidade e delicadeza de detalhe (ou "penas") que foi observado, talvez a minha melhor vista até ao momento. No 20 cm filtrado também não esteve de se deitar fora.

Messier 57 - É sempre um dos incontornáveis. Estrelas de 15 magnitude estavam descaradamente visíveis perto do anel, embora tenha tentado sem insistir muito ver as centrais, que de resto foram vistas pelo o Alfonso e pelo o Alberto. O Alberto colocou uma estratosférica magnificação de 1680x, que fez a Messier 57 transbordar do campo da ocular, tendo o seguimento que é altazimutal aguentado muito bem.

"Estrela flamejante" (Flaming Star Nebula) em Cocheiro - Extremamente ténue e grande. praticamente não passava de uma ligeira impressão de nebulosidade num campo algo populado de estrelas brilhantes.

Plêiades Messier 45 - Nebulosidade por todo o lado. Todas as estrelas apresentavam aquela nebulosidade que tipicamente aparece nas imagens à volta das estrelas mais brilhantes e não só na Merope. Foi utilizada uma ocular de "observatório"- uma Clavé de 75mm, que embora não totalmente corrigida para telescópios de relação focal tão curta, conseguiu meter praticamente a totalidade das Plêiades lá dentro. A saída de pupila era tão grande que nem os meus óculos chegaram para corrigir o astigmatismo.

Cabeça do Cavalo - Não conseguir discernir a forma da cabeça de cavalo, mas a sua área rectangular em parte devido a na altura ainda se encontrar bastante baixa.

Nebulosa de Orion Messier 42 - O Trapézio apesar da turbulência devido à sua baixa altitude apresentava 6 estrelas sem qualquer dificuldade. Esta nebulosa filtrada é outro daqueles momentos...

Marte - sem dúvida a melhor imagem que tive oportunidade de apreciar foi a dada pelo o TEC 200mm do Hugo. Não me recordo da magnificação, mas estava seguramente acima de 400x. O planeta estava perfeitamente recortado com muito detalhe de albedo, mostrando ainda a calote polar como um pequeno ponto branco - as cores estavam de uma pureza invulgar.

E para finalizar

Foi mais uma noitada de Sol a Sol com um bom céu, boas companhias, boa e farta comida, e boa bebida, tudo na boa tradição da astronomia amadora da Atalaia.


Pátio 209 - Sol e Lua

2005.09.10
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)

Estes vão ser os dois "grandes" protagonistas que se irão encontrar em 3 de Outubro. Entretanto vou treinando e testando a configuração a usar, e também o processamento de imagens em h-alpha solar.

A grande grupo activo 798 surgiu há alguns dias, depois de ter sido detectadas meia dúzia de grandes erupções ("flares"), neste momento existe grande possibilidade de acontecerem mais alguns, mas desta vez, mais perigosos visto a mancha estar cada vez mais "apontada" para a Terra.

Abaixo estão vários testes de processamento.

Sol 20050910 17:15 UT
Sol 2005-09-10 17:15 UTC
Coronado PST40
Sol 20050910 17:15 UTC
Sol 2005-09-10 17:15 UTC
Coronado PST40
Sol 20050910 17:15 UTC
Sol 2005-09-10 17:15 UTC
Coronado PST40

Apenas 19' separavam a Antares (Alpha Scorpii) da Lua. O par era perfeitamente visível a olho nu.

Lua e Antares 20050910 20:56 UTC
Lua e Antares 2005-09-10 20:56 UTC

Pátio 210 - Sol II

2005.09.11
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)

Vários testes de processamento

Sol 20050911 12:01 UTC
Sol 20050911 12:01 UT
Coronado PST40

Pátio 211- Sol III

2005.09.17
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)

 

Sol 20050917 14:48 UTC
Sol 20050917 14:48 UTC
Coronado PST40
Sol 20050917 Sol 20050917
Sol 20050917
Coronado PST40

Noites Transmontanas I

2005.10.01
Lama Grande - Parque Natural de Montesinho

O Nordeste transmontano ainda tem céus suficientes escuros para satisfazer o astrónomo amador mais exigente. Aproveitando a ida para esses lugares por ocasião do eclipse anular que cuja a faixa central passava pouco abaixo de Bragança, não podia perder a oportunidade de desfrutar céus escuros e a grande altitude.

Depois de uma viagem com mais de 500 kms e após um grande jantar, muitos rumaram para a Lama Grande que situa bem dentro do Parque de Montesinho, perto da fronteira com Espanha. Este local encontra-se a 1400 metros de altitude, tendo sido chamado à atenção por uma astrónomo amador (Felisberto Soares) que conheci na Astrofesta 2005 que costuma para lá ir todas as Luas Novas.

Chegamos numa grande e poeirenta caravana pouco depois da meia-noite, instalando-se uma grande confusão por o local não ter muito espaço para tanta viatura, mas a maior parte acabou por se instalar um pouco por todo o lado que houvesse os horizontes mais amplos.

O céu era excelente - verdadeiramente topo-de-gama. Apresentava uma transparência que apenas a altitude pode proporcionar, embora não tenha medido a magnitude limite, o SQM leu valores que variaram entre 21.40 e 21.45 que é o recorde até ao momento. Estes valores permitiram observar a galáxia Messier 33 em Triângulo com a vista desarmada, e originar potencial confusão no reconhecimento das constelações. Apenas se via "lá em baixo" a abóbada de luz da cidade de Bragança, que de resto não incomodava muito. Apesar do céu escuro, houve bastante humidade para o final da noite tendo então a temperatura baixado para perto dos 0 graus, tendo um termómetros marcado -2 e outro 0 Celsius, bastante frio para o que se está habituado para esta altura do ano. A turbulência também não esteve das melhores.

Noites TransmontanasFoi uma noite para encher a vista - literalmente. Apenas utilizei o meu Dobson de 20cm e o binóculo Fujinon FMT-SX 7x50, com o apoio do Sky Atlas 2000.0 (Tirion)

Sob um céu desta qualidade achei que deveria revisitar visualmente muitos dos objectos mais conhecidos e brihantes, tendo realmente valido a pena, pois foram as melhores vistas que tive até ao momento de qualquer um deles com o meu equipamento. Comecei pelas grande nebulosas e remanescentes de supernova na constelação de Cisne. Todas elas eram imediatamente perceptíveis sem qualquer filtro, embora com o UHC ajudasse a observar as nebulosas em toda sua extensão, tal e qual como nas imagens. A nebulosa "Crescente" (NGC 6888) apesar de não ter discernido a forma de meia-lua era absolutamente notória com e sem filtro. Passear com Panoptic 24 por Cisne foi um sem-acabar de nebulosidade e estrelas. Absolutamente fantástico. As "Véus" apresentavam-se descaradamente contrastadas num fundo escuro e banhado de estrelas, mesmo as suas partes mais ténues como a nebulosidade que se encontra na imensa área entre os dois segmentos. Não dava para acreditar a extraordinária quantidade de nebulosidade que se via nas Plêiades. A minha primeira reacção foi de limpar a ocular, pois julguei que tivesse completamente embaciada! Uma vista absolutamente incrível, nebulosidade por todo o lado, sendo possível ver até os cirros em Mérope. A olho nu era perfeitamente óbvia a "nuvem" que rodeava este enxame.

O que mais me espantou em Andrómeda não foi propriamente a Messier 1, mas sim a Messier 110. Esta galáxia ganhou uma forma e brilho como nunca antes tinha visto - enorme! com um também enorme e brilhante núcleo . A Messier 31 via-se gigantesca, com as duas faixas de poeira sem grande esforço.

O quinteto de Stephan não é objecto para um telescópio de 20cm, mas no entanto posso colocar como observado com um pequeno ponto de interrogação, mas obviamente sem resolver qualquer uma das galáxias.

O resto da noite foi passado com repetidas visitas aos objectos anteriores e a outros como a Messier 27, Messier 57, Messier 42, Messier 81/Messier 82, Messier 33, NGC 7789, NGC 281, NGC 2392, Messier 35, Messier 36, Messier 37, Messier 38, entre muitos outros que ia saboreando à deriva, intervalando com o aquecimento e desembaciamento das oculares que foram bastante vítimas da humidade e frio, aproveitando para fazer visitas pelos vizinhos, que seguramente se maravilharam tanto com eu. Noites destas são excelentes oportunidades para observar objectos normalmente invisíveis e para apreciar em todo o seu esplendor os mais brilhantes e conhecidos.

Saímos do local depois da 5 e meia da manhã a tempo de ir tomar uma grande pequeno almoço no hotel antes de ir finalmente dormir - nada como uns croissants acabadinhos de sair do forno, eu o Luís Evangelista estivemos cerca de 1 hora a comer e a conversar... de manhã deu para verificar que provavelmente tinha trazido quase toda a terra de Montesinho agarrada ao carro.


Noites Transmontanas II

2005.10.02
Gimonde - Bragança

Noites Transmontanas IIEsta foi a sessão de observação na noite anterior ao eclipse, e tal como na anterior foi precedida de mais uma jantarada. O local situava-se uma quinta de turismo rural , Quinta das Covas , onde vários do grupo se encontravam hospedados. Apesar de horizontes impedidos por serra e arvoredo, ainda possuía um céu que se poderia considerar escuro com o SQM a ler valores à volta de 20.90. Bastante menos concorrida, pois muitos optaram por descansar para o eclipse na manhã seguinte, não deixou de ser uma sessão interessante tendo novamente posto o Dobson 20 cm ao serviço. Comecei por observar alguns objectos não particularmente interessantes mas sim desafiadores devido a possuírem um brilho de superfície bastante baixo. Tratava-se de duas galáxias elípticas anãs que são satélites de Messier 31, NGC 147 e NGC185 situadas em Cassiopeia. Estavam simultaneamente visíveis no campo da Panoptic 24mm, mas com a NGC 147 bem mais aparente com visão indirecta, mas ambas apresentavam a característica forma elíptica.

Uma galáxia com brilho de superfície semelhante a NGC 147 trata-se da famosíssima galáxia de perfil NGC 891, que apesar da fama é um objecto complicado para pequenas aberturas. O 20 cm não teve grandes dificuldades embora não fosse de visão imediata, descrevendo-se com um fino risco de nebulosidade com o centro ligeiramente mais gordo. Aproveitei e fiz uma visita a outros objectos em Andrómeda (Messier 76) e em Triângulo (Messier 33 e NGC 752)

Depois fiz uma pausa e visitei o pessoal que por lá tinha montado telescópios, nomeadamente um refrator Televue 85 novinho em folha que conjuntamente com um Nagler 31 com filtro O3 deu a melhor imagem que tenho recordação de ambas as "Véus" a partilharem o mesmo campo na ocular, este telescópio é também uma bela peça de equipamento.

Depois e até cerca das 3 da manhã, andei na conversa e divertido a ver um certo astrofotografo a tentar apanhar seja lá o que conseguisse de um objecto de brilho superfície 19.9 (Galáxia anã de Dragão), após a tentativa ambos fomos dormir algumas horas para o grande evento.


Noites Transmontanas III

2005.10.03
Gimonde - Bragança

Este foi o dia do eclipse anular, cuja as impressões e imagens podem ser lidas e vistas nesta página dedicado ao evento.

A última noite foi novamente passada na Quinta das Covas em Gimonde, não que antes tenhamos percorrido uma boa parte do Parque Natural de Montesinho à procura de lugar mais alto e escuro. Estávamos preparados para uma tradicional petiscada sob as estrelas, mas acabamos por fazê-la bem confortavelmente na casa de turismo rural onde a família Mota estava a passar a férias.

Com a simpática cortesia de desligarem todas as luzes de presença, tivemos um céu suficientemente escuro para passar mais algumas horas de qualidade, tendo o SQM lido valores semelhantes aos da noite anterior (20.90). Turbulência geralmente alta.

Desta vez montei o Takahashi Sky-90 na Takahashi P2-Z, e fiz uma ronda descontraída por cerca de 2 dezenas de objectos com a ajuda do Sky Atlas 2000.0 (Tirion).

Ficaram para a memória a visão da "Pacman" NGC 281 e as nebulosidades em volta da "Bubble" NGC 7635, e de um cristalino duplo enxame Perseu.

Por volta da meia-noite a Adília ofereceu um chá e bolinhos que foi mais que bem vindo, após o qual fizemos mais algumas horas de observação visual e astrofotografia.A noite foi também fria com o termómetro a rondar os 0 graus, mas mais suportável por ter sido bem mais seca, mas devido o dia ter sido bem comprido, todos estávamos já a sentir algum cansaço, começando a arrumar pouco depois das 3 da manhã. Estiveram também o Mota, o Filipe e o Alberto.

Abaixo ficam 4 "instantâneos" astrofotográficamente falando, cada uma delas com uma única exposição de 5 minutos e focados a olho (usando o astigmatismo como gráfico), para servirem de recordação destes céus transmontanos, que espero poder retornar quando possível. As imagens foram "binadas" no Iris.

Duplo Enxame de Perseu (NGC 869/NGC 884)
Duplo Enxame de Perseu (NGC 869/NGC 884)
Takahashi Sky-90 f/4.5 (407mm) + Nikon D70 3,95"
exp: 5 min. (1x300 seg.) 800 ISO SQM 20.90
América do Norte (NGC 7000)
América do Norte (NGC 7000)
Takahashi Sky-90 f/4.5 (407mm) + Nikon D70 3,95"
exp: 5 min. (1x300 seg.) 800 ISO SQM 20.90
Plêiades (Messier 45)
Plêiades (Messier 45)
Takahashi Sky-90 f/4.5 (407mm) + Nikon D70 3,95"
exp: 5 min. (1x300 seg.) 800 ISO SQM 20.90
Nebulosas de Orion (Messier 42/Messier 43)
Nebulosas de Orion (Messier 42/Messier 43)
Takahashi Sky-90 f/4.5 (407mm) + Nikon D70 3,95"
exp: 5 min. (1x300 seg.) 800 ISO SQM 20.90

Eclipse Anular - 3 Outubro 2005

Valverde, distrito de Bragança - Portugal 7:38 e 10:19 (UT)

O dia nasceu perfeito com o céu completamente limpo, pouco ou nenhum vento e com uma temperatura razoavelmente amena. O local escolhido foi um planalto situado perto de Valverde a alguns quilómetros abaixo da cidade de Bragança, situando-se praticamente sobre a linha da perfeita centralidade.

Eclipse Anular
Eclipse Anular - 16 momentos 1600

Alguns do grupo chegaram ao local ainda de noite para ter oportunidade de alinhar as montagens com a polar, chegando outros mais tarde, mas ficando todos prontos e na expectativa bem antes do seu início.

O início do eclipse foi uma surpresa, sendo esta uma característica dos primeiros contactos. De repente o Sol apresentou uma pequena dentada que ia aumentando a olhos vistos - o espectáculo tinha começado.

Após a excitação inicial, foram momentos de expectativa preenchidos essencialmente com a observação do limbo lunar por infelizmente, o Sol não apresentar manchas solares, contudo, apesar de alguma turbulência, foi possível ver a silhueta de crateras e mares, nomeadamente o Mare Orientale cuja depressão e pico central por vezes se salientava devido à Lua se encontrar numa libração favorável, ficando assim entretido até à chegada do próximo momento alto, o segundo contacto. Com telescópios h-alpha como o da Coronado PST, este momento é talvez mais dramático por ser possível observar as proeminências solares a nascer no limbo lunar, como se surgissem do nada, até que finalmente o círculo fechar. Até este momento foi notório o decréscimo de temperatura e o amortecimento da luz ambiente, cuja a melhor analogia que consigo fazer é a de como tivesse a usar óculos de Sol levemente escurecidos.

Apesar da Lua ocultar pouco mais de 90% da superfície solar, a intensidade do Sol continuava a ser extremamente forte, sendo apenas possível observar directamente sem filtro por uma fracção de segundo para se notar que realmente o Sol se encontrava ocultado. Logo de seguida, aconteceu a quebra do anel com o terceiro contacto, que à semelhança do segundo, ficaram as proeminências solares novamente como que suspensas a surgirem do nada, embora, estas neste limbo fossem menos proeminentes. O tempo decorrido entre os dois contactos foram cerca de 4 minutos de intensa excitação e deslumbramento, incluindo a extraordinária visão de um perfeitamente delineado anel de fogo. Fiquei praticamente com olho colado no PST, alternando com a obtenção de algumas imagens.

eclipse
Eclipse no seu máximo 9:54 UTC

Após a quebra do anel, a normalidade foi sido reposta lentamente até ao quarto e último contacto (ou antes "descontacto"), que mais uma vez em h-alpha, foi possível observar as proeminências a reaparecer. Na meia hora seguinte levantou-se o vento devido à repentina diferença de temperatura.

Eclipse Anular
Eclipse Anular - Contacto II, Máximo e Contacto III 2500

No final ficou a agradável satisfação de ter presenciado um momento único, tendo tudo corrido da melhor maneira possível e também na melhor das companhias.

São raros os eclipses cujo o caminho central tenha passado ou passará em território continental português. O último eclipse foi simultaneamente total e anular (híbrido), cujo o caminho passou entre o Porto e Aveiro em 17 de Abril de1912 mas com apenas 1 a 2 segundos de duração na fase da totalidade.

Por curiosidade, a última vez que Portugal continental teve a visita de um eclipse total anular foi a 1 de Abril de 1764, mas o próximo será em 26 de Janeiro de 2028, passando no entanto a faixa central ao largo de Faro. O próximo eclipse total será em 12 de Agosto 2026, apesar da faixa de ocultação entrar apenas 4 kms numa pontinha de Portugal a norte de Bragança. Por ser tão raro tendo sido este talvez o evento astronómico mais aguardado do ano.

Embora tenha dado primazia visual ao evento, ficam as imagens e animações que tive oportunidade de registar para mais tarde relembrar, partilhando por este meio com todos os que se fascinam com estes momentos de rara beleza.

Eclipse 08:38 - 10:19 UTC
Eclipse 08:38 - 10:19 UTC
Animação com intervalos ~10 minutos
Mare Orientale ?
Mare Orientale ?
Proeminências solares imediatamente antes de contacto II (8:52 UTC)
Proeminências solares imediatamente antes de contacto II 8:52 UTC
Proeminências solares imediatamente após o contacto III (8:57 TUC)
Proeminências solares imediatamente após o contacto III 8:57 UTC
Proeminências solares (9:34 UTC)
Proeminências solares 9:34 UTC
Vistas do local e equipamento
Vistas do local e equipamento

Circunstâncias locais - Valverde, Bragança, Portugal *

Posição Duração Máximo de Eclipse
Latitude Longitude   UT g
+41 42 +6 47 4' 5.7" 8 54 53.4 0.974


1ºContacto 2ºContacto 3ºContacto 4ºContacto
7 38 52.6 8 52 30.6 8 56 32.7 10 18 2.7

* fonte : Institut de Mécanique Céleste et de Calcul d'Éphémérides Observatoire de Paris - Bureau Des Longitudes

Equipamento utilizado:

AVISO IMPORTANTE
Nunca olhar para o Sol através de algum telescópio ou binóculo sem o filtro apropriado, pois pode causar instantaneamente danos graves e irreversíveis tais como a cegueira total ou parcial

Algumas ligações relacionadas

Luís Carreira, Outubro de 2005


Pátio 212 - Marte e sua prole

2005.10.23
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)

Já se torna impossível não reparar naquela brilhante "estrela" laranja que surge a Leste nas horas decentes do serão . Marte faz mais uma aparição infelizmente não com a proximidade de Agosto de 2003 mas desta bem mais altaneiro, sendo a luminária planetária mais em destaque nestas semanas que se aproximam.

A partir desta data o planeta terá um tamanho aparente maior que 20", permitindo observar visualmente um pouco mais que uma pequena bola com algumas marcas de albedo e polo esbranquiçado. Na altura da imagem Marte segundo o Guide8 apresentava um tamanho aparente de 19.98", uma fase de 98.53% e encontrava-se a 70,038,514 km aqui do Pátio. O meridiano central é 312.92 e o Norte é para cima e sentido F-P. A altura em que estará mais próximo da Terra será em 30 de Outubro às 3:24 UTC distando 69,416,763 km. O seguinte momento alto será por ocasião da sua oposição a 8:00 UTC de dia 7 de Novembro (70,315,737 km).

Apesar das condições atmosféricas com muita nebulosidade e quando limpo apresentava bastante dispersão atmosférica, houve cerca de uma hora e meia de grandes abertas e alguma calmia que felizmente coincidiu com a passagem do planeta pelo o meridiano local.

Por essas alturas empreendi na caça dos seus minúsculos e elusivos satélites, Phobos e Deimos, apesar de não ter bem a certeza de serem visíveis com apenas 90mm. Usando a magnificação de 270x (Nagler Zoom a 3mm) passei cerca de uma hora à procura daquilo que provavelmente não passaria de um breve pisco. E julgo ter tido sorte na observação de Phobos que me pareceu piscar cerca de 3, 4 vezes a cerca de um diâmetro marciano. Apesar de estar a apenas um diâmetro de Marte de distância, é seguramente positiva a sua observação, pois a pouca distância era possível observar sem grande dificuldade a TYC 1232 248 de igual magnitude 11. O Deimos não posso afirmar como observação positiva, este satélite tinha menos uma magnitude de brilho (12) sendo ligeiramente mais complicado de observar devido ao luar e por estar perto dos limites da abertura. Para melhor visibilidade é geralmente usada uma barra ou quadrado de obstrução aplicado na ocular para cobrir o planeta que já em médias abertura é insuportavelmente brilhante. Felizmente ambos os satélites se encontravam no mesmo lado do planeta, sendo possível por o planeta fora do campo retirando assim grande parte do brilho.

Os pequenos satélites de Marte Phobos e Deimos apenas foram descobertos em 1877 por Asaph Hall usando o refrator de 26" de US Naval Observatory em Washington DC. Na mitologia grega Phobos e Deimos são filhos de Ares (Marte) e Afrodite (Vénus) significando Medo e Pânico respectivamente.

Phobos tem 13.1 x 11.1 x 9.3 km de dimensão e um período orbital de 0.318910 dias (7 horas e 39 minutos) a uma distância média de 2.77 raios de Marte (9377.2 km), completando assim uma rotação em menos que um dia marciano (24 horas e 37minutos), nascendo assim 11 em onze 11 horas, mostrando pelo caminho mais de metade das suas "fases lunares". Deimos por outro lado apresenta as dimensões de 7.8 x 6.0 x 5.1 km e um período orbital de1.262441 d (30 horas e 18 minutos) a uma distância média de 6.92 raios de Marte ( 23463.2 km)). Ambos têm um formato bastante irregular e são mais "escuros" que a nossa Lua, muito semelhantes a asteróides e presume-se que tenham sido "capturados".

Marte 20051023 02:02 UTC
Marte 20051023 02:02 UTC
Takahashi Sky-90 f/49 (4450mm)+Toucam 0.26"

Nesta longitude de Marte é possível observar a Syrtis Major, a grande cratera Hellas, estando a Meridiani Sinus a cruzar o meridiano.A norte observa-se nuvens, nevoeiros causados pelo derretimento da calote polar e a Sul a pequena calote polar a surgir.

Para determinar as efemérides (em especial as maiores elongações) destes satélites ver a página Ephemeris Generator do JPL - Nasa. No "body" escrever "phobos" e em "Output Quantities and Format" por um visto em "12. Angular separation/visibility". Abaixo ficam as elongações máximas de ambos satélites. oeste é no lado direito do planeta (em imagem não invertida). o valor dist" é a separação do centro de marte - subtrair 10 para distância do limbo. Em Phobos 10 minutos à volta do valor indicado é quase imperceptível.

Podem ver neste applet em java da Sky and Telescope

Phobos

Tempo UTC Mag Dist " Q
2005-Oct-25 04:21 10,94 27,468 o
2005-Oct-25 19:39 10,94 27,494 o
2005-Oct-25 23:30 10,94 28,031 e
2005-Oct-26 03:18 10,94 27,507 o
2005-Oct-26 22:28 10,94 28,070 e
2005-Oct-27 02:16 10,94 27,537 o
2005-Oct-27 21:25 10,94 28,101 e
2005-Oct-28 01:13 10,94 27,558 o
2005-Oct-28 05:04 10,94 28,109 e
2005-Oct-28 20:22 10,94 28,122 e
2005-Oct-29 00:10 10,94 27,570 o
2005-Oct-29 04:01 10,94 28,128 e
2005-Oct-29 19:19 10,94 28,133 e
2005-Oct-29 23:07 10,94 27,572 o
2005-Oct-30 02:59 10,94 28,137 e
2005-Oct-30 22:05 10,94 27,566 o
2005-Oct-31 01:56 10,94 28,137 e
2005-Oct-31 21:02 10,95 27,549 o
2005-Nov-01 00:53 10,95 28,126 e
2005-Nov-01 04:49 10,95 27,396 o
2005-Nov-01 20:00 10,95 27,523 o
2005-Nov-01 23:51 10,95 28,106 e
2005-Nov-02 03:39 10,95 27,513 o
2005-Nov-02 19:04 10,95 27,362 o
2005-Nov-02 22:47 10,95 28,073 e
2005-Nov-03 02:36 10,95 27,475 o
2005-Nov-03 21:45 10,96 28,035 e
2005-Nov-04 01:33 10,96 27,427 o
2005-Nov-04 05:24 10,96 28,019 e
2005-Nov-04 20:43 10,96 27,985 e
2005-Nov-05 00:31 10,97 27,369 o
2005-Nov-05 04:22 10,97 27,966 e
2005-Nov-05 19:40 10,97 27,925 e
2005-Nov-05 23:28 10,97 27,302 o
2005-Nov-06 03:19 10,97 27,904 e
2005-Nov-06 22:25 10,98 27,225 o
2005-Nov-07 02:16 10,98 27,832 e
2005-Nov-07 21:23 10,99 27,140 o
2005-Nov-08 01:13 10,99 27,750 e
2005-Nov-08 05:02 10,99 27,109 o
2005-Nov-08 20:20 11,00 27,046 o

Deimos

Tempo UTC Mag Dist " Q
2005-Oct-25 00:03 12,03 69,358 o
2005-Oct-26 21:28 12,03 69,574 e
2005-Oct-28 03:43 12,03 69,666 e
2005-Oct-30 01:08 12,03 69,689 o
2005-Oct-31 22:32 12,04 69,668 e
2005-Nov-02 04:48 12,04 69,592 e
2005-Nov-02 19:55 12,04 69,510 o
2005-Nov-04 02:12 12,05 69,362 o
2005-Nov-05 23:35 12,06 69,096 e

Pátio 212 - Marte Próximo

2005.10.30
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)

Hoje foi o dia em que Marte esteve mais próximo da Terra até 2018. A hora exacta foi 3:24 UTC distando 69,416,763 km. A imagem abaixo foi registado menos de 20 horas depois já tendo se afastado para 69,425,326 km. Estava 99,65% iluminado e apresentava um tamanho de 20.16" com um brilho de -2.3 magnitudes.

Também desta vez tentei observar Phobos que distava 16" do limbo marciano pelas 22:05, mas sem sorte. Mesmo com a Toucam não descortinou sinal de nenhum dos satélites. Visualmente era aparente a forma geral das marcas de albedo como na imagem abaixo, mas nada mais. A turbulência esteve bastante alta nas duas horas de aberta . O SQM lia em média 19.0 .

Na imagem mostra no hemisfério Sul a grande faixa escura conhecida por mare Cimmerium e no hemisfério Norte uma zona mais clara na Elysium Mons correspondente a nevoeiro/neblina nesta área. O meridiano central era 206 graus. O Norte está para cima.

Ver o Mars Profiler da S&T

Marte 20051030 23:33 UTC
Marte 20051030 23:33 UTC
Takahashi Sky-90 f/49 (4450mm)+Toucam 0.26"

Vale da Lama IV

2005.11.05
Alpiarça

kembleFim de semana de crescente lunar, que no final de dia aconteceu uma bela conjunção com Vénus, que também apresentava uma fase crescente, mas mais avançada, com um curioso efeito de fase cujo o brilho atenuava gradualmente até ao terminador da "noite" venusiana.

Quando cheguei ao local perto das 18 horas, já lá se encontravam vários companheiros da Atalaia com os telescópios montados e prontos para mais uma noite de observação. Entretanto já o Paulo Barros estava a fazer as brasas para mais uma petiscada com castanhas, febras, entremeadas e chouriça, tudo isto regado com uma água-pé da mesma cooperativa do famoso abafadinho olho-de-lebre, que escorregou como uma pomada, uma cortesia de Mário Santiago.

A noite começou com o céu completamente limpo, mas com bastante humidade que começou a sentir-se bem cedo. Sem dúvida, uma das noites mais húmidas dos últimos meses, e se não fossem os Kendricks, não teria sequer tido hipótese de ter começado. Por estes aquecedores quase no máximo, fez infelizmente a bateria apenas durar até às duas e meia da madrugada, mas ainda chegou para meia dúzia de horas de observação e fazer alguns esboços.

O céu em termos de escuridão, esteve semelhante à última vez com uma média de leituras à volta de 20.80 mag/". A turbulência variou entre mediana e alta, e a temperatura chegou ao grau positivo no termómetro do SQM que não é muito de fiar.

Durante toda a noite, sucederam-se diversos "flashes" das Taurídias, presumivelmente provenientes de partículas do cometa periódico curto 2P/Encke. Foi um verdadeiro fogo de artifício, só que invertido, tendo algumas delas acabado com brilhantes explosões e originando por vezes longos e grossos rastos. Grande parte do pessoal andou todo o serão entretido a capturar imagens que se podem ver aqui.

Tendo ido de improviso, não tinha propriamente preparado uma lista de objectos a observar, estive essencialmente rondado objectos à volta do meridiano central, mas desta vez usei o Takahashi Sky-90.

Os atlas utilizados foram o Sky Atlas 2000.0 (Tirion) e o Bright Star Atlas (Tirion, Skiff). As oculares utilizadas foram a Panoptic 24mm (34x) e a Nagler 9mm (91x).

A sessão começou por dar um pequeno toque na colimação do Takahashi Sky-90, que estava ligeiramente fora (os anéis estavam mais brilhantes num dos lados), que foi coisa para 5 minutos, mas tendo aproveitado no processo, para ver a linda e contrastante dupla amarelo-azul Almach (Gamma Andromedae) .

Depois de ter passado pelo o globular Messier 15, e pela a planetária Helix, revisitei a constelação do Escultor para uma observação mais cuidada e para fazer um esboço da área desta grande e brilhante galáxia. Só quando passei para o objecto seguinte, é que notei que a tinha esboçado com o filtro UHC colocado na ocular, que tinha sido usado para observar anteriormente a Helix. É perfeitamente normal as galáxias quando observadas através de pequenas aberturas sejam, bem, muito ténues, daí não ter estranhado muito, mas apesar de filtrada, a luz ainda foi suficiente para fazer o esboço abaixo.

Para além todos os esboços parecerem estar a precisar de um "flat", e também precisa de mais jeitinho. O papel (mesmo o espesso) e a humidade não ligam muito bem, mas os próximos só podem ficar melhores. O acto de esboçar qualquer coisa, faz com que meia hora se passe num instante, mas uma coisa é certa, ficamos a conhecer o objecto de uma maneira bem mais aprofundada.

M15, NGC 253, M77
M15, NGC 253, M77
Takahashi Sky-90 f/9 (800mm) Pan24 (34x), Nag9 (91x)

A NGC 55 também teve uma visita sub-decimétrica, mas encontrava-se numa posição que já requeria alguma acrobacia, estando já na altura pouco acima da copa das árvores, de qualquer modo era ainda detectável grande parte do seu tamanho e forma, embora notoriamente mais ténue que a galáxia anterior. Também novamente ficou por ver a NGC 300.

O objecto seguinte tratou-se da pequena galáxia Seyfert (núcleo activo) Messier 77 em Baleia (Cetus). A sua descrição visual é bastante aproximada do esboço baixo. Núcleo muito brilhante e pontual com um ténue halo arredondado em volta. Um pouco mais acima encontra-se a verdadeira dor de cabeça da maratona de Messier - Messier 74 - Julguei que talvez não tivesse sorte com tão pouca abertura, pois tem 14 de brilho de superfície e uma magnitude total de 9.5, mas foi bem mais fácil do que estava à espera, embora não tivesse sido imediatamente detectada. Pode-se descrever como uma pequena e redonda e muito ténue, mas no entanto era óbvio um tamanho aparente maior que a galáxia anterior.

Ainda em Peixes tive oportunidade de observar no Obsession 15" polegadas um grupo NGC 507 de galáxias na parte mais a norte de Peixes já entre o Triângulo e a Andrómeda. Três foram facilmente visíveis.

O objecto seguinte tratou-se de uma nebulosa planetária que me despertou a atenção, depois de a ter primeiramente observado no Obsession, que diga-se, de ter sido uma das melhores imagens que tive de um objecto desta natureza. A NGC 1501 era praticamente redonda e de brilho muito uniforme (a cor não me recordo defini-la), mas ligeiramente menor no centro dando-lhe um aspecto anular mas não tão pronunciado como na Messier 57, no seu meio, brilha uma intensa e algo açambarcadora estrela central (do tipo WC estrelas gigantes quentes a perder massa vertiginosamente), que apesar de brilhar a apenas 14.4 de magnitude, esteve de facto incontornável. É um excelente objecto para grandes aberturas e não parece sequer precisar de filtro. Está situada a 4800 anos-luz. Não conhecia este objecto, e é seguramente mais um a revisitar apesar de apenas entrar no Herschel 400 e "Finest NGC" de Dyer.

M36, NGC 1501 ,NGC 1502
M36, NGC 1501 ,NGC 1502
Takahashi Sky-90 f/9 (800mm) Nag9 (91x)

Também na despercebida constelação da Girafa (Camelopardalis), que curiosamente deve o nome não propriamente à figura do bicho, mas sim por esta zona ser um "deserto" de estrelas dai o "Camelo" segundo Bartschius que a delineou, fica a curiosa Cascata de Kemble (a primeira imagem), segundo o padre franciscano Lucian Kemble, astrónomo amador e divulgador canadiano. Esta cadeia estende-se por quase 3 graus, sendo um interessante objecto binocular ou para telescópios com muito baixa magnificação . Esta cadeia termina no pequeno mas curioso enxame aberto NGC 1502, que é dominado por um par de estrelas gémeas muito brilhantes, rodeadas de outra dezena delas espalhadas aleatoriamente. Infelizmente este enxame não conseguiu ficar na imagem no início do relato, que foi registada em condições deploráveis daqui do pátio.

Para a memória futura, fica a Messier 42 e Messier 43 em technicolor no Obsession: verde e dourada respectivamente - o detalhe estava incrível.


Atalaia XXIV

2005.12.10
Atalaia (Montijo 38º44N 8º48W)

Noite a pouco mais de uma semana do solstício de Inverno, que apesar de fria (perto dos 0 graus) foi seca. O SQM leu 20.30 após a Lua se pôr, com uma magnitude visual limite por volta de 5.5. Pouca transparência e algumas neblinas altas, mas praticamente apenas perceptíveis em alguns AVIs do pessoal que se entretinha a capturar imagens da Lua. A turbulência esteve geralmente alta.

A Lua já tinha passado o seu Quarto Crescente há dois dias, e apenas se encontraria abaixo no horizonte depois das 3 da manhã, tendo desse modo sido para mim uma noite essencialmente de confraternização na Atalaia-B. Apesar de pouco ter observado deu para matar saudades dos amigos e do céu que já por não aqui visitava há quase 3 meses.

Antes de ir para a Atalaia, passei pelo Toys'R'Us do Rui Tripa, para ir buscar a minha já saudosa Atik 1HS, e como é tradição não saí de lá sem me safar de comprar qualquer coisita, tendo desta vez adquirido uma fita aquecedora Kendrick para o Quickfinder que já por diversas vezes teria dado bastante jeito.

Estive algum tempo na companhia do Licínio e o seu Maksutov-Newton de 8" f/6. Fiquei bastante impressionado com a performance óptica deste telescópio, assim como do seu peso (com anéis e acessórios é coisa pra 20 kg!). Esteticamente as imagens em visual eram indistintas das de um refrator graças a uma minúscula obstrução de 20% sem aranha que em pouco afecta as imagens das estrelas, estando estas muito bem corrigidas até ao bordo com as mais diversas oculares, mas infelizmente o luar não permitiu revelar muito além disso. Ficaram as vistas de vários enxames, (Messier 37, Messier 38, Messier 35 entre outros) e da planetária NGC 2392 ("Esquimó").

Andei durante toda a noite saltitar de telescópio, onde vi um Saturno no Obsession 15", a Lua num Celestron C11 (a primeira vez que sequer vi um ao vivo) mas que ainda faltava estabilizar um bocado, as imagens planetárias a serem registadas e cozinhadas no local pelo Gregório e Mário, as imagens CCD Filipe e do Zé Ribeiro e dos infatigáveis ("a noite só acaba qunado nasce o Sol") Paulo Barros e João Nuno. Muitas e variadas actividades.

Por volta das 3 da manhã, já a Lua quase a desaparecer, fiz um périplo pela a constelação da Ursa Maior, seguindo as sugestões da carta N10 do Karkoschka : foram elas Messier 108, Messier 97, Messier 109, Messier 40 e Messier 101, com o par Messier 108/Messier 97 no mesmo campo mas algo ténues, assim como a galáxia barrada Messier 109 que é bastante incomodada pela gamma UMa. Também nesta carta está 78 UMa que se trata de uma binária (verdadeira) com apenas 1.4" de separação, que era o valor do ano 2000 (em 2015 terá apenas 1.1"). O derradeiro teste de poder separador para o Takahashi Sky-90 , que infelizmente nesta noite não foi possível de conseguir.

De seguida passei para o meu par de galáxias preferido Messier 81 e Messier 82, do qual fiz uma demorada observação e um esforçado esboço.

Messier 81 & Messier 82
Messier 81 & Messier 82
Takahashi Sky-90 f/5.6 (500mm)nag9 (55x)

Por esta altura mover o telescópio e mudar de oculares era uma operação dolorosa devido ao frio que se fazia sentir. O termómetro marcava 0 graus, mas felizmente não houve praticamente nenhuma humidade senão teria sido perto de insuportável.

Da carta E8 passei pelos enxames Messier 50 em Unicórnio (Monoceros) o impressionante Messier 47 e Messier 46 com a planetária contextual NGC 2438 que esteve bem visível com filtro UHC, sendo apenas detectável sem este.

Na carta E9 e continuando em Unicórnio, encontra-se a grandiosa nebulosa "Rosette" (NGC 2237-39, 2246) e o enxame que reside no seu interior NGC 2244. Com filtro UHC, a sua forma geral era notória, incluindo a parte central mais escura.

Saímos um pouco depois das 6:30 da manhã.


Pátio 214 - Takahashi P2-Z "Patrol"

2005.12.17
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)

Noite de testes de "hardware"

P2ZDesta vez, fui experimentar se a Takahashi P2-Z se aguentava com mais uns quilos em cima. Depois de muitos furos numa placa de alumínio, lá consegui arranjar uma configuração que ficasse razoavelmente equilibrada nos dois eixos. Também novo, é um contrapeso de 4 quilos em aço inoxidável para contrabalançar esta tralha toda. Esta peças foram feitas pelo o meu torneiro particular - o meu pai - que até lhes deu um acabamento todo profissional, o contrapeso é todo estriado para não escorregar das mãos resultando ainda num efeito estético todo catita. O pequeno FC-60 ficou montado numa versão despida da Teegul Space Patrol para servir de montagem de guiamento, que usando os seus manípulos de ajusto fino permite alinhar os dois telescópios sem qualquer dificuldade. Exceptuando o bloco do motor AR, é bastante semelhante em funcionalidade e aparência às montagens de guiamento da Takahashi TGM-1 e TGM-2.

Tudo isto somou pouco menos de 6 quilos em cima da montagem. Estava curioso de descobrir se a montagem aguentaria tanto peso, apesar do fabricante especificar que pode apenas carregar até 6 quilos de carga, mas provavelmente não se aplica a dois telescópios lado a lado. Infelizmente, esta configuração apenas ficava equilibrada em ascensão recta em nas posições +-30 graus em volta do meridiano central. Para além dessas inclinações, o conjunto caía desamparado, não muito seguro para o meu gosto tendo em conta o valor da carga que está em jogo. No entanto, nesse intervalo a montagem executava o seguimento sideral, sem aparentemente qualquer esforço e com a exactidão costumeira. No eixo de declinação também havia algum desequilíbrio não se podendo soltar sem segurar primeiro, mas não sendo este eixo motorizado basta que fique bem fixo.

Abaixo fica uma "frame" de 2 minutos não guiada a 2.3" de resolução da Messier 42/Messier 43 que de resto era a única nebulosa capturável nas condições locais.

Messier 42/43
Messier 42/ Messier 43
Takahashi Sky-90 f/5.6 (500mm) + ATIK-1HS 2.3"
exp: 2' (1x120s) mag. 3 h-alpha

Pareceu-me resultar numa configuração possível mas demasiado esforçada para eclipses e observação solar.

Com a Lua quase cheia, a magnitude limite era 3 ou até pior, com muito fumo e ainda mais poluição luminosa do recém inaugurado supermercado a apenas 100 metros :((. A Atik saturava a branco com apenas 20 segundos de exposição não filtrada! com filtro h-alpha acima de 120 segundos já tinha perdido 1/3 da dinâmica da câmara. A turbulência local também esteve do pior, mas no entanto apanhei frio que me fartei :). Infelizmente o pátio está cada vez pior.

Abaixo fica uma péssima imagem de Saturno, só mesmo para ilustrar o esforço.

Saturno 20051218 02:06 UTC
Saturno 20051218 02:06 UTC
Takahashi Sky-90 f/41 (3720mm) + Toucam 0.31"60%
exp: 2' (1/5"x600)