2007 (II)

Janeiro Julho
Sra. do Monte X - Cometa C/2006 P1 (McNaught) Pátio 251 - Duplas Binoculares
Capuchos XII - Cometa C/2006 P1 (McNaught) II Astrovide
Pátio 240 - Cometa C/2006 P1 (McNaught) III Pátio 252 - Vénus
Pousados IV - Uma noite polar Agosto
Fevereiro Vale da Lama IX
Pátio 241 - Mira, a Maravilhosa Setembro
Março Pátio 253 - Livros
Atalaia XXVIII - Eclipse Lunar Total Atalaia XXIX
Pulo do Lobo VII - Maratona de Messier II Outubro
Abril S.Pedro de Moel XIV - Cometa C/2007 F1 (LONEUS)
Atalaia XXVIII Pátio 254 - Cometa 17P/Holmes
Pátio 242 - Lua Humorada Pátio 255 - Cometa 17P/Holmes II
Maio Pátio 256 - Cometa 17P/Holmes III
Pátio 243 - Ocultação de Saturno Pátio 257 - Cometa 17P/Holmes IV
Junho Novembro
Pátio 244 - Sol Pátio 258 - Cometa 17P/Holmes V
Pátio 245 - Vénus e a Colmeia Pátio 259 - Cometa 17P/Holmes VI
Pátio 246 - Vénus e a Lua Pátio 260 - Cometa 17P/Holmes VII
Pátio 247 - Solistício, ISS e a Atlantis Serra da Estrela IV - Vale das Éguas
Pátio 248 Pátio 261 - Leónidas 2007
Pátio 249 - Vénus e Saturno Dezembro
Pátio 250 - Vénus e Saturno II Pátio 262 - Marte
Pátio 263 - Marte em Oposição e Conjunção

Pátio 251 - Duplas Binoculares

2007.07.04
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)

Aqui no pàtio, as noites posteriores a grandes períodos de céu nublados têm a característica de serem relativamente transparentes. Na melhor região do céu, a magnitude limite chegou a atingir a magnitude 5, que é uma condição um pouco invulgar por estes lados. Peguei então numa cadeira e no Fujinon 16x70, e pus-me a observar duplas que fossem adequadas para este instrumento.

16,17 Draconis

Sistema binário verdadeiro (visto partilharem o mesmo movimento próprio ) separado em 90" de duas estrelas bem quentes (B9V e B9) a cerca de 400 anos-luz. Este par é interessante em todos os binóculos. A sua grande separação e por ser constituído por estrelas brilhantes com brilhos e tonalidades semelhantes (5.5 e 5.4 respectivamente) não são uma visão rara mas no mínimo curiosa, fazendo sempre parar o varrimento binocular do céu.

25 (Nu) Draconis

A separação deste par é praticamente a definição de 1 minuto de arco (62") sendo um dos vértices da cabeça do Dragão, também conhecido por Kuma ((Starnames, Their Lore and Meaning, de Allen não faz referência a este nome, mas menciona que é uma das quatro camelos fêmea para os nómadas ), sendo este talvez o mais brilhante perfeito exemplo de um par gémeo de estrelas brancas com magnitudes de 4.89 e 4.86 respectivamente, sendo ambas do espectro Am. O "m" é por possuir linhas de absorção metálica bem largas, característica que indica que possuem uma rotação lenta, sendo esta encontrada em binárias próximas deste espectro cuja desaceleração é provavelmente causada por efeitos de maré num efeito muito semelhante ao que se passa no sistema Terra-Lua (Kaler, Stars and their spectra). Está a 100 anos-luz de nós e à semelhança do par anterior é também um verdadeiro sistema binário.

Nu Draconis
Nu Draconis

31 Psi Draconis (Dziban)

Dupla bem mais apertada (30") que as anteriores, cuja diferença de magnitude dificulta ligeiramente a sua resolução . Estrelas 4.555 F5IV e 5.532 G0V respectivamente ambas situadas a 72 anos-luz.

Epsilon Lyrae

Esta é a famoso duplamente duplo sistema de estrelas, situada numa das mais emblemáticas constelações de Verão - a Lira. Tentei resolver a olho nu, mas sem chegar a grande certeza se o alongamento era real ou produto do astigmatismo. No binóculo, é um belo par de estrelas bem folgadas, mas obviamente não resolvido nos seus mais pequenos componentes. Os 70mm de abertura do binóculo são mais que suficientes para resolver os 2-2.5" que separam cada uma das epsilon, mas com 16x é praticamente impossível (com o meu refrator 60mm pelo menos a 71x e a custo). Apesar de ser tradicional usar esta dupla para testar a capacidade de resolução de pequenas ópticas, na realidade qualquer abertura superior ou igual a 60mm com o mínimo de qualidade faz saltar os quatro componentes, isto é, se a turbulência não atrapalhar e desde que se utilize o mínimo de magnificação, que nas noites mais estáveis pode começar em 50x. Se se orientar a imagem da ocular fazendo um recta sem inclinação, a epsilon-1 é a mais fácil de resolver com as estrelas uma ao lado uma da outra (PA=347), sendo uma delas notoriamente menos brilhante. A epsilon-2 as estrelas estão praticamente uma por cima da outra (PA=80).

As 4 estrelas estão situadas a 160-162 anos-luz (49.8 parsec), sendo um sistema binário composto por sua vez por dois sistemas binários. A separação destes dois sistemas é cerca de 3.5' correspondendo à nossa distância a 0.165 anos-luz (10458 UA)*. Esta é uma distância que se pode considerar um pouco menos que inconsolavelmente inatingível (a sonda Pioneer 10 em 24 anos apenas se afastou quase 95 UA da Terra, encontrando-se neste momento no "corno" Oeste da constelação de Touro a brilhar a umas míseras 52 magnitudes). Com esta separação o período orbital entre as duas epsilon nunca será a inferior a meio milhão de anos...

* 49.8x210 (distância ao objecto em parsecs) x (segundos de arco) = 10458 UA/206265 = 0.05 pc = 0.165 anos-luz

A Epsilon-1 é composta por duas estrelas anãs F de 4.67 e 5.81 que têm um período de 1655.6 anos estando separadas neste momento em 2.53" (126 UA) que é cerca de 3 vezes maior que a órbita média de Plutão. Por outro lado a Epsilon-2 é composta por duas estrelas novamente anãs espectro A de 4.59 e 4.80 e têm um período de 724 anos estando separadas neste momento em 2.36" (117.5 UA).

Este aparato será decerto mais incrível do que o da 16 Cygni. Para termos um planeta humanamente habitável teria que ter uma órbita equivalente à de Júpiter numa das estrelas (estas estrela tem o dobro da massa do Sol) ficando assim com um segundo Sol a brilhar como 500 luas cheias. As estrelas da outra epsilon brilhariam 1 grau separadas com a intensidade de um quarto de Lua... a resultante mitologia local seria deveras interessante.

Ainda passei de relancei pela as Zeta e Beta da Lira, sem conseguir discernir a parceira da Beta.

13 Cygni

Este é o folgado e bem brilhante par (300") que se pode observar no campo da 16 Cygni e da planetária NGC 6826 (pisca-pisca). A mais brilhante é uma anã F4 a 60 anos-luz a brilhar a 4.49 e a menos brilhante é uma gigante 10 vezes mais distância com mais duas magnitudes.

16 Cygni

Revisitei este sistema de duas estrelas amarelas de magnitude semelhante (~6) ao nosso Sol que foi mencionado num relato do passado mês, está separado por 40", resolvido sem grande dificuldade.

Beta Cygni (Albireo)

Se existem verdadeiras estrelas mediáticas, julgo crer que poucas o são mais que este par. Merecidamente o primeiro par de estrelas telescópico que iniciou muitos na beleza colorida das estrelas. Com a vista desarmada poucos se terão apercebido que as estrelas possuem cores que vão do azul mais intenso até ao vermelho vivo. Os binóculos e telescópios, que são essencialmente concentradores de luz, fazem estimular os sensores de cor nossos olhos que quando a trabalhar em modo de visão nocturna só "vêem" tonalidades cinzentas. Quanto mais brilhante, maior a probabilidade de se poder ver cor. A Albireo é tão brilhante e colorida que praticamente qualquer abertura pode servir, mas a 16x de magnificação já mostra um belo e contrastado par de estrelas ouro e azul.

Estando no lugar da cabeça de uma das constelações mais reconhecíveis, a do Cisne, é extremamente fácil de encontrar, mesmo estando no meio de uma cidade, visto a magnitude integrada resultante da contribuição das magnitudes 3.05 e 5.12 ser 2.9. O catálogo Hipparcos dá as distâncias de 386 ± 26 ano luz para a gigante vermelha K3II e 376 ± 28 anos-luz para a anã branco-azulada B8V, cuja a diferença de 10 anos-luz está confortavelmente dentro do intervalo de incerteza, podendo ser um sistema binário ou simplesmente duas estrelas na mesma linha de vista. Com este brilho e quase a 400 anos-luz de nós, são obviamente estrelas muito brilhantes, como grande parte das estrelas mais proeminentes do nosso céu, brilhando respectivamente 700x e 100x mais que o nosso Sol, que teria aquela distância uma ténue magnitude de 10.13, quase no limites do binóculo de 70mm. Um par a nunca perder.

Beta Lyrae
Beta Lyrae

Seleccionei as quatro duplas para testar os limites de resolução, sendo sucessivamente mais "íntimas".

K Herculis (Marfik)

Par óptico 5.3 mag. G8II e 6.5 mag. K1III separadas por 28"

63 Serpentis (Alya. Alga)

Apenas separadas por 22.3", a diferença de magnitudes torna-as tão complicadas de resolver com a bem mais apertada dupla abaixo mencionadas: as componentes são uma estrela A5V de 4.5 e a companheira do mesmo espectro com 5.4 magnitudes.

100 Herculis

Outro par aparentemente óptico de estrelas gémeas A3V com 5.81 e 5.84 magnitudes, separadas por apenas 14".

95 Herculis

Espantosamente resolvida com apenas 16x! Com uma separação de apenas 6.3",as magnitudes semelhantes de 5.0 (G8III) e 5.1 (A5III) permite que se consiga ver as duas estrelas distintamente, embora não propriamente separadas. Não chegou no entanto para distinguir as suas cores. Apesar de partilharem o mesmo movimento próprio não parece haver movimento relativo entre elas.

IC 4756 e NGC 6633

Quando andava a perscrutar o céu pela a dupla anterior deparei com este par de enxames fronteiriços da Serpente e de Ofiúco. É um belo alvo para este binóculo. O IC é enorme, muito homogéneo mas rico, o NGC mais pequeno com cerca de metade da dimensão do anterior, mais concentrado, mas ambos com uma estrela brilhante com vizinha. Podem-se ver simultaneamente nos 4 graus de campo disponibilizados pelo o binóculo, embora não propriamente com muita sobra. Estes enxames estão quase à mesma distância a 388 pc e 312 pc respectivamente. Acho intrigante de somente em 1922 o IC 4756 ter sido reconhecido com enxame aberto, sendo este também chamado "Graff cluster" em honra do seu descobridor (Star Clusters, Archinal/Hynes). Um par binocular a revisitar em melhores céus.


Astrovide

2007.07.14
Barragem da Póvoa - Castelo de Vide

Cometa Linear c/2006 VZ13
Cometa Linear c/2006 VZ13

Depois de uma grande proliferação há alguns anos atrás, as astrofestas têm vindo gradualmente a desaparecer, bastando apenas uma mão (com alguns dedos amputados), para contar todos os eventos que decorreram ou vão decorrer este ano, isto, excluindo a Astronomia no Verão, que são actividades geralmente realizadas, e apropriadamente, em locais onde as pessoas estão e não em locais apropriados. Embora não consiga arranjar grande explicação, o facto é que a astronomia amadora feita no seu meio ambiente tem cada vez menos oportunidades de se mostrar ao público em geral.

Mas uma coisa é para mim certa, o principal ingrediente para uma astrofesta é um céu escuro, e muitos telescópios com os respectivos donos.

Seja-se astrónomo amador experiente ou um ocasional visitante, nada causará maior assombro do que a nossa Via Láctea em todo o seu deslumbramento, assim como tudo o que os telescópios ou binóculos irão acrescentar a essa experiência vivida em directo. Estar sob um céu escuro, é uma experiência cada vez mais inacessível e rara para a grande maioria da população - e o mais triste é que muitos nem o sabem, nem o que também estão a perder.

Também as actividades que podem ocorrer durante o dia, tais como palestras, lojas da especialidade, e simples tertúlias nos intervalos, podem ser uma mais valia para um dia bem passado com a astronomia, sobretudo com toda a troca de conhecimentos, novidades e confraternização que respectivamente daí advêm.

O Astrovide costuma ter sempre cada um destes ingredientes, (excepto infelizmente um bar/snack com luzes vermelhas), tendo este ano notado a ausência das lojas, que para mim são como miúdos numa loja de brinquedos, pois um crescido é um sempre um miúdo, só o preço dos brinquedos é que muda...

As palestras deste ano foram variadas, desde o Filipe a mostrar com consegue fazer as imagens e toda aquele virtuosismo e criatividade técnica que já nos habituou, passando pela experiência de décadas do José Ribeiro que neste momento é um colaborador em projectos internacionais, à descrição do processo de descoberta científica do Carlos Santos usando alguns dos maiores telescópios do Mundo, até à descontraída da história da Astronáutica contada pelo jovem autóctone José Leite. No intervalo, os participantes (e qualquer transeunte) tiveram a oportunidade de observar o Sol através de um espectrómetro de alta resolução do José Ribeiro, que mostrava o arco-íris com as diversas linhas de absorção correspondentes aos diversos elementos que constituem o Sol e também a atmosfera que se interpõe - demonstração que julgo ter sido inédita por cá. Tive pena que sessões com um planetário portátil que estava previstas não tenham acontecido.

Messier 8, Messier 20 & Messier 21
Messier 8, Messier 20 & Messier 21
Reparar no par de estrelas e pequena nebulosa de reflexão (IC 4678 ou GN 18.03.5) às 11 horas de Messier 8

Já na barragem da Póvoa, e depois do jantar ao ar livre todos seguiram para um local elevado na sua margem.

A noite esteve perfeita. Não havia a Lua, nuvens, nem bicharada inoportuna, estando uma temperatura amena até bem tarde (estive de t-shirt até perto das duas horas da manhã). O SQM marcou um máximo de 21.45, que é um valor excelente para uma noite de Verão. Em quase todo o céu a magnitude foi superior a 6, apenas interrompida por algumas luzes de automóveis, devido ao local se encontrar perto de uma estrada. A única circunstância a lamentar foi a falta de civismo (e educação) de alguns (presumo jovens) campistas que por lá estiveram acampados, que até à minha saída perto das 4 da manhã, insistiam em por música(?) com grande volume e até apontar focos de luz.

Marcaram presença dois telescópios de grande porte, por sinal ambos Obsession , o 18" do Anselmo e o 15" do Alberto, que conjuntamente com o "divã" binocular, uma engenhoca do Carlos Seabra, granjearam grande parte da atenção dos presentes. Como tinha o meu próprio equipamento para assistir, não me desloquei muito do meu canto, ficando sem grande ideia de quantos telescópios e pessoas que por lá estiveram, mas o local pareceu-me bastante composto e animado.

Trouxe comigo o costumeiro equipamento para fazer os meus instantâneos astrofotográficos (a Takahashi P2-Z e o Takahashi Sky-90 ) e ainda os dois binóculos Fujinon 7x50 e o 16x70. Durante a cronometragem dos 5 minutos de cada uma das exposições, passeava no céu de binóculos com a ajuda do Karkoschka, tendo percorrido diversas cartas com bastante êxito.

Nessa noite, também foi a a estreia dos Fujinon 16x70 sob um céu escuro. Este binóculo apesar de já ser um modelo clássico, é aquele pelo qual todos os outros binóculos se comparam, e poucos favoravelmente dentro desta abertura, segundo a opinião generalizada. Independentemente da sua fama, superaram todas as minhas expectativas, e como assim dizer, abriu-me os dois olhos para o Universo. O "hype cyberespacial" neste caso, é perfeitamente justo.

Comecei a observação pelo o cometa mais brilhante do momento, o Linear C/2006 VZ13 que está a caminho do Boeiro, aparentando este brilhar mais que os 9.8 magnitudes previstas, apresentando uma grande coma, mas no entanto sem cauda visível tanto nos binóculos, como no 90mm.

Durante toda a noite obtive vistas espantosas da Messier 31 e satélites em Andrómeda, do duplo de Perseu, da Messier 33 em Triângulo, Messier 101 e Messier 51 em Cães de Caça, dos inúmeros enxames de Cassiopeia, e de toda a amálgama de nebulosas, enxames, globulares e nebulosas escuras que povoam os braços da Galáxia desde o Cisne até à base do pote de Sagitário. E ainda houve tempo para passar pelos Messier 30 de Capricórnio, os Messier 72 e Messier 73 e até a Hélix de Aquário, terminando a noite já nas Plêiades e no bem vermelho planeta Marte. Foi um verdadeiro festim binocular.

Já para o fim da noite, resolvi fazer uma imagem de um alvo particularmente complicado de observar em céus menos que escuros. A galáxia de Barnard (NGC 6822) possui um brilho de superfície extremamente baixo (14.4), pelo que a sua observação é um bom indício de uma noite escura e transparente. Durante toda a hora que demorou a ser exposta, tentei vê-la com o binóculo, mas só ficou a ligeira impressão que talvez houvesse lá qualquer coisa, algo insuficiente para ser uma vista positiva. A galáxia em si não é particularmente um alvo interessante, salvo o desafio em a conseguir observar (ou antes detectar), mas é o se pode arranjar mais parecido com as Nuvens de Magalhães aqui para os lados do nosso hemisfério. A nebulosa planetária NGC 6818 que está bem presente como uma bolinha azul no topo da imagem.

NGC 6822 & NGC 6818 (full frame)
NGC 6822 & NGC 6818

Pátio 252 - Vénus

2007.7.27
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)

O minguante de Vénus está cada vez mais fino, assim como a sua altitude ao fim do dia, causando neste "pôr-de-Vénus" um colorido psicandélico, que na altura da imagem se encontrava com apenas 12 graus iluminados. Devido turbulência da atmosfera parece ter uma iluminação maior e ao seu efeito refrator causa a coloração.

Vénus
Vénus

Vale da Lama IX

2007.08.14
Vale da Lama - Alpiarça

Mais uma noite passada sob céu ribatejano, onde ainda consegue sem dificuldade mostrar os braços da Via Láctea. A noite astronómica começou com algumas nuvens mas limpou definitivamente ainda antes da meia-noite. A magnitude limite rondava os 6 no zénite, com o SQM a marcar cerca de 21.10, tendo havido alguns períodos de maior humidade e turbulência.

Desta vez, tivemos a companhia de um jornalista (Ricardo Nabais) e um fotógrafo (José Santos) do semanário "Sol" que estiveram connosco até perto das duas da madrugada (!). A reportagem saiu na revista Tabu da edição de 18 de Agosto e descreve (a meu ver bem) o que é uma noite típica passada sob as estrelas com estes e outros companheiros. Os meus parabéns à equipa de reportagem, que prestou um bom serviço à astronomia amadora na sua vertente mais "outdoor". E as meeelgas ? para cima de duzentas... para cada um.

Esta foi também a noite anterior à do pico previsto para as Perseidas, mas como é habitual algumas delas não se fizeram rogadas e escolheram ter um brilhante final um pouco antes. Apesar de não ter andado a contá-las, a cadência foi significativa durante toda a noite, tendo algumas delas feito um espectacular espalhafato.

Entretanto no telescópio, apenas observei um (1) objecto: NGC 7331 na constelação do Pégaso.

A sua descrição visual é de uma pequena e alongada nebulosidade obrigatoriamente solitária através da abertura utilizada. Tendo consultado o MSA (carta 1142), verifiquei que para além do famoso Quinteto de Stephan ainda se podiam encontrar duas galáxias um pouco pindéricas no generoso campo da Nikon D70 (quase 4 graus na diagonal). Passei cerca de 3 horas a expo-la.

Depois de "revelar", surgiram quase cinquenta galáxias...

NGC 7331
NGC 7331 e Quinteto de "Stephan"

Por vezes não existe outra alternativa senão atarraxar engenhocas atrás do telescópio para se conseguir obter alguma coisa interessante em observação. Galáxias em visual não é o prato forte para um telescópio de 90mm, por muito que insista...

A constelação do Pégaso já se encontra afastada dos braços poeirentos da Via Láctea, proporcionando uma boa janela para o restante Universo. È uma das áreas que passa no nosso zénite, que permite observar fotões já velhinhos de galáxias longínquas.

O Quinteto de "Stephan", também conhecido por Hickson (HCG) 92 do qual são membro as galáxias NGC 7317, 7318A, 7318B, 7319 e 7320B/C é um dos mais estudados grupos compactos de galáxias, com centenas de "papers" a referi-la. Estas galáxias estão neste momento em interacção, havendo vestígios de colisões recentes e anteriores. O Quinteto é um interessante desafio visual para quem possua um telescópio com abertura superior ou igual a 15", tendo já observado este grupo neste mesmo local no Obsession 15" do Alberto (Vale da Lama III).

A NGC 7331 é a rainha absoluta visualmente (mas só de aparência, porque não parece ter muitas galáxias suas súbditas) estando a "apenas" 22 milhões de anos-luz. As galáxias que parecem ser sua satélites, na realidade pertencem a um pequeno grupo de galáxias situado entre 250-350 milhões anos-luz mais atrás, e há quem sugira que esteja relacionado com o Quinteto. A NGC 7320 por outro lado está à mesma distância de NGC 7331 (20 milhões de anos-luz), com grande probabilidade de não pertencer fisicamente ao grupo Quinteto que está situado uns longínquos 250 milhões de anos-luz mais atrás.

O grupo compacto de meia dúzia de galáxias UZC-CG 280 (Updated Zwicky Catalog-Compact Group), onde estão incluídas as galáxias NGC 7345 e 7342 e a PGC 069385 (esta última curiosamente é mais brilhante por estar mais próxima, sendo uma elíptica com "jets" como a Messier 87) que está situado perto das duas estrelas amarelas/vermelhas de magnitude 6, está a uns impressionantes 350-400 milhões de anos-luz da nossa Galáxia.

A imagem resulta de 12 exposições de ~5 minutos (uma delas com 6 minutos por distracção), num espaço de três horas por causa da conversa e dos petiscos. Com este alinhamento arrítmico, não há "dark frame" que safe o ruído térmico, de resto como está bem demonstrado na imagem abaixo, embora não esteja muito mau para uma câmara fotográfica de trazer por casa.

De resto andei entretido a vaguear pelo o céu com o binóculo 16x70, e a olho nu a ver as Perseidas a cair.

Ler o relato no www.atalaia.org , a do Hugo e o artigo na revista Tabu do semanário Sol


Pátio 253 - Livros

2007.09.20
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)

(em construção)

Últimos livros a chegar aqui ao Pátio.


Atalaia XXIX

2007.10.13
Atalaia (Montijo 38º44N 8º48W)

Grande e bem frequentada noite de Lua ausente na Atalaia, tendo havido mais de 30 comparências entre os habituais, os menos habituais e estreantes. Céu praticamente limpo com uma temperatura agradável para a época, sem vento mas com alguma humidade, exigiu alguma roupa mais acolhedora a partir do meio da madrugada. A magnitude limite rondou os 5.5 nas áreas mais escuras.

Não podendo no momento carregar telescópios, apenas trouxe comigo o binóculo Fujinon 16x70, Karkoschka e o MSA , tendo abusado da cortesia de quem levou os seus bem mais volumosos telescópios.

A primeira vista da noite, foi a de um crescente lunar dourado com pouco mais de 5% de iluminação, a mergulhar numa pequena aberta no densamente nublado horizonte a Oeste, que não permitiu no entanto observar o cometa LONEOS (C/2007 F1), na altura a passar pela a Cabeleira de Berenices com uma provável magnitude de 7.6.

Crescente Dourado
Crescente Dourado

Entretanto o local começou a encher até quase ter ficado lotado. É francamente animador e ao mesmo tempo espantoso contemplar tal concentração espontânea aqui neste que se pode considerar o maior e mais frequentado local de Astronomia Amadora de Portugal, e quem sabe, da Europa :)). Mas certamente será difícil encontrar em qualquer lado, um grupo com actividades tão díspares que vão desde exoplanetas e cometas de magnitude 19 até observações comentadas com binóculos.

Montei o binóculo 16x70 num tripé, e pus-me a saltar de alvo em alvo, que passaram pela a galáxia de Andrómeda e satélites Messier 32 e Messier 110, as Plêiades (Messier 45), o Duplo Enxame de Perseu e Orion e suas redondezas. Todas estas obras-primas assentando como uma luva no campo deste binóculo. A nebulosa de reflexão Messier 78 em Orion esteve particularmente óbvia, assim como a galáxia do Triângulo Messier 33. O alvo-desafio da noite foi a galáxia mais brilhante do Pégaso, NGC 7331 (mag. 9.5, brilho de superfície 13.2, dim. 10.5'x3.5') que foi o centro das minhas atenções fotográficas há dois meses atrás, dando que fazer durante um quarto de hora com muita ajuda da carta 1142 do MSA .

No Obsession 15" do Alberto, tive oportunidade de observar a nebulosa planetária NGC 1514, que tem como estrela central uma brilhante estrela de magnitude 9.5, rodeada por uma considerável nebulosa com uma forma arredondada e textura irregular, notando-se algumas "falhas" de brilho. Também em Taurus, estivemos a tentar observar, sem chegar a grande conclusão, a nebulosa variável de Hind, que varia com com as estrelas variáveis que as iluminam. O trapézio de Orion mostrava 6 das suas estrelas sem qualquer dificuldade.

Vénus e Saturno partilhavam o campo do 16x70, sendo perceptível a fase no primeiro e as "orelhas" no último tendo sido este o meu final da noite por volta das 4:30 da madrugada.

Como sempre muitas coisas se passam por lá que eventualmente irão parar à página da noite em www.atalaia.org.


S.Pedro de Moel XIV - Cometa C/2007 F1 (LONEUS)

2007.10.20
S.Pedro de Moel

Hoje fui à praia de S.Pedro de Moel, apanhar um pouco de maresia e ver um cometa. Cheguei cedo para poder admirar uma vez mais o pôr do Sol, que por vezes pode ser realmente diferente. Hoje quase que ia acontecendo um flash verde.

Um flash verde quase a libertar-se
Um flash verde quase a libertar-se

Apesar de achar que já estar mais junto ao pôr do Sol, este cometa passou muito perto da Arcturus, um pouco mais de 3 graus abaixo, que mesmo com a ajuda de um conveniente farol estelar a marcar a sua posição, não foi fácil de detectar, só às 18:55 é que tive observação positiva com o binóculo 16x70, mas não tendo dele sinal no 7x50. Com apenas uma estrela de 6.3 magnitudes para comparação nas redondezas, pareceu-me ligeiramente mais ténue, com uma pequena coma não maior que 3-4 minutos de arco e sem apresentar qualquer cauda. A sua baixa altitude e a neblina costeira que se ia formando não ajudou muito a sua observação, nem a sua captura (imagem abaixo o resultado de imagens de 8x30 segundos) que mal mostra a sua extensa cauda, e a sua pequena cauda de iões.

Cometa LONEUS c/2007 F1
Cometa LONEUS c/2007 F1

Este cometa foi descoberto a 19 de Março deste ano com apenas 19.5 magnitudes pelo o programa LONEUS do observatório de Lowell para detecção de asteróides e cometas com risco potencial de impacto com o nosso planeta. Neste caso o mais próximo que ficará da Terra é 0.72 AU (cerca de 108 milhões de quilómetros).


Pátio 254 - Cometa 17P/Holmes

2007.10.25
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)

A constelação de Perseu tem uma nova estrela. É extraordinário, especialmente porque este cometa deveria ter uma magnitude de 16.9, cerca de 14 magnitude mais ténue (500000x mais brilhante!). Hoje está a 1.63 AU (244,194,387 km) da Terra e a brilhar quase tanto como a Mirfak (Alpha Persei). O seu aspecto pouco convencional é porque é uma "pega de caras", ou seja, o cometa parece estar a dirigir-se quase na nossa direcção, mas na verdade, a sua orbita é na cintura de asteróides situada entre Marte e Júpiter, estando quase em oposição, daí esta perspectiva invulgar. De qualquer modo, este é um evento extremamente raro pela sua magnitude, embora seja vulgar cometas terem "outbursts", não é nada vulgar ficarem visíveis ao olho nu de um dia para o outro.

Mesmo no binóculo 7x50, é impossível confundir este cometa com uma estrela. Visualmente, apresenta uma cor dourada, com um pseudo núcleo central extremamente brilhante ligeiramente descentrado da coma, sem sinal de qualquer cauda. Não consegui ver visualmente, mas a imagem abaixo revela uma ligeira auréola verde, típica de cometa - não fosse a cor seria muito semelhante uma nebulosa planetária com um estrela central anormalmente brilhante.

Estar hoje a Lua Cheia (ainda por cima no perigeu), ou viver no meio de uma cidade é completamente indiferente - é visível a olho nu em qualquer lado.

Cometa 17P/Holmes 23:32 UTC
Cometa 17P/Holmes 23:32 UTC

Equipamento: Takahashi Sky-90 +Extender-Q (675mm f/7.5) Nikon D70 , imagem : 6x6seg ISO 200

Cometa17 P/Holmes
Cometa17 P/Holmes

Pátio 255 - Cometa 17P/Holmes II

2007.10.27
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)

Este cometa tem sofrido grandes alterações nestas últimas 48 horas. A olho nu assemelha-se a uma estrela ligeiramente difusa, mas apesar de ter aumentado de tamanho tem mantido o seu brilho aparente (uma boa demonstração da definição de brilho de superfície). A sua cor já não é dourada como na observação anterior, apresentando uma tonalidade geral para o branco levemente esverdeado. Possui um pseudo núcleo quase pontual e uma coma interior já algo desviada do centro.

A imagem é uma comparação de hoje e de quinta-feira.

Cometa 17P/Holmes 23:12 UTC
Cometa 17P/Holmes 23:12 UTC

Equipamento: Takahashi Sky-90 +Extender-Q (675mm f/7.5) Nikon D70 , imagem : 8x30s ISO 200

Pleaides e Lua 22:00 UTC
Pleaides e Lua 22:00 UTC

Também esta noite, a Lua chegou a ocultar algumas estrelas das Plêiades, mas com esta fase tão brilhante, pode-se considerar uma conjunção muito iluminada, bastante mais interessante no binóculo 16x70.


Pátio 256 - Cometa 17P/Holmes III

2007.10.29
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)

Passadas mais 48 horas, o cometa duplicou de tamanho, e mudou a sua tonalidade, mas curiosamente continua a ter o mesmo brilho aparente.

Cometa 17P/Holmes 21:18 UTC
Cometa 17P/Holmes 21:18 UTC

Equipamento: Takahashi Sky-90 +Extender-Q (675mm f/7.5) Nikon D70 , imagem : 9x30s ISO 400.


Pátio 257 - Cometa 17P/Holmes IV

2007.10.31
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)

Passadas mais 48 horas. Já me estou a interrogar se daqui a 48 horas o cometa caberá no fotograma...

Cometa 17P/Holmes 21:36 UTC
Cometa 17P/Holmes 21:36 UTC

Equipamento: Takahashi Sky-90 +Extender-Q (675mm f/7.5) Nikon D70, imagem : 4x30s ISO 400


Pátio 258 - Cometa 17P/Holmes V

2007.11.02
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)

Cometa 17P/Holmes 21:36 UTC
Cometa 17P/Holmes 21:36 UTC

Equipamento: Takahashi Sky-90 +Extender-Q (675mm f/7.5) Nikon D70, imagem : 4x30s ISO 400


Pátio 259 - Cometa 17P/Holmes VI

2007.11.04
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)

Cometa 17P/Holmes 23:32 UTC
Cometa 17P/Holmes 23:32 UTC

Equipamento: Takahashi Takahashi Sky-90 +Extender-Q (675mm f/7.5) Nikon D70, imagem : 3x120s ISO 400


Pátio 260 - Cometa 17P/Holmes VII

2007.11.06
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)

Cometa 17P/Holmes 21:19 UTC
Cometa 17P/Holmes 21:19 UTC

A imagem abaixo mostra a extraordinária evolução deste cometa no espaço de duas semanas.

Cometa 17P/Holmes
Cometa 17P/Holmes
Dias 25,26,28 e 31 de Outubro, e 2,4,6 e 10 de Novembro

Equipamento: Takahashi Sky-90 +Extender-Q (675mm f/7.5) Nikon D70, imagem : 4x120s ISO 400.


Serra da Estrela IV - Vale das Éguas

2007.11.10
Penhas Douradas - Serra da Estrela

A Serra da Estrela uma vez mais, proporcionou uma noite inesquecível.

Estou cada vez mais a tornar-me aficionado do ar de montanha, ou melhor, de ter menos um quilómetro e meio de atmosfera por cima da cabeça. As Penhas Douradas é um dos locais mais altos de Portugal Continental, que apesar da sua altitude e de se situar praticamente no meio da Serra da Estrela, não o torna infelizmente imune ao avanço implacável da poluição luminosa. Ficamos no Vale das Éguas, sendo uma zona relativamente plana que até tem um pequeno bosque. Ignorando o baixo horizonte, ainda se pode considerar um céu escuro, mantendo ainda os momentos de silêncio e solidão que apenas lugares como este podem oferecer.

local

Nas noites anteriores, a meteorologia esteve um pouco incerta, mas valeu a pena arriscar, pois salvo algumas nuvens passageiras já para o final, o céu permaneceu limpo durante toda a noite. O SQM marcou 20.90, que não se pode considerar um valor excelente, mas terá sido provavelmente uma leitura influenciada em parte pela a reflexão das nuvens que rodeavam a Serra, mas no zénite era 6.5 magnitudes sólidas. Houve alturas de turbulência forte, talvez por passagem de nuvens altas de outro modo invisíveis. A temperatura rondou os 3-4 graus, sem humidade, mas por vezes soprou uma brisa que podia tornar-se desagradável.

Estiveram comigo, o Alberto, o Filipe e a Rute, e o Zé Ribeiro e a Fátima.

Cometa 17P/Holmes e Melotte 20 (associação OB3 de Perseu)
Cometa 17P/Holmes e Melotte 20 (associação OB3 de Perseu)

O cometa Holmes tem sido nestas duas últimas semanas, a sensação da nossa abóbada celeste. O desenvolvimento do "mega-outburst" deste cometa tem sido muito interessante de seguir, e acredito que no mínimo virá ser considerado um dos mais estranhos e espectaculares acontecimentos no nosso sistema solar nas últimas décadas.

Neste momento, está a aproximar-se da Mirfak, que, para além de ser a estrela mais brilhante da constelação de Perseu, também domina o enxame Melotte 20, uma associação mais ou menos esparsa de estrelas quentes do tipo O e B a pouco mais de 500 anos-luz de nós. As suas estrelas são todas muito novas e alvo de muitos estudos sobre a evolução dos enxames galácticos.

Talvez fosse por estar sob um céu escuro, mas o cometa Holmes pareceu-me ter uma magnitude integrada mais brilhante que a alfa de Perseu. Ambas as vistas dadas através do binóculo 16x70 e do Obsession 15" eram espantosas, o primeiro pelo contexto, mostrando um campo muito semelhante ao da imagem acima, e o último, pela grandiosidade e imponência. Foi uma das visões mais estranhas que tive.

Fartei-me de lhe tirar imagens. Durante as exposições, ia pegando no binóculo e fui dizendo um até breve às constelações que passaram o meridiano a Sul a horas decentes durante o Verão. Não me restam muitas dúvidas que um bom binóculo com um céu escuro são literalmente um casamento feito céu.

Este foi até à data, o céu mais escuro em que estive com este binóculo, e fiquei bastante impressionado com as vistas verdadeiramente telescópicas que proporcionou. É também o instrumento ideal para ajudar a cumprir o penoso tempo ao serviço do obturador da máquina fotográfica.

Cometa 17P/Holmes 20:49 UTC
Cometa 17P/Holmes 20:49 UTC

A transparência oferecida pela altitude, permitiu observar sem qualquer ajuda de filtros o grande entre-parêntesis formado pela a nebulosa "Véu" e a "America do Norte" ambas na constelação de Cisne, onde percorrer o braço da Galáxia foi mesmerizante. A Messier 31 quase rasgava completamente o campo de 4 graus do binóculo. Alguns desafios foram fáceis como o par Messier 97 / Messier 108 e a Messier 109 na Ursa Maior ou a "Helix", a Messier 1 em Touro incluindo ainda as pequenas planetárias Messier 57 e a "Saturno" NGC 7009 que se apesar de muito pequenas a 16x apresentavam-se obviamente nebulosas. Muitos outros ficaram aqui por relatar.

O Obsession 15" presenteou-nos com a "Cabeça do Cavalo" (pessoalmente talvez uma das melhor vistas de sempre), 6 das estrelas do trapézio de Orion, outra vista memorável da Messier 42/ Messier 43 e redondezas, Messier 2 resolvido até ao núcleo, isto apesar da noite não ter sido ideal para grandes resoluções.

Vulpes Vulpes
Vulpes Vulpes

Como é habitual, houve a grande petiscada à luz das estrelas, com pão, queijo, presunto, carnes e doces da região, a que não ficou alheio um predador situado logo abaixo de nós na cadeia alimentar local. Pareceu-me que já nos conhecia de outra altura ...

Segundo o Guia Fapas de Mamíferos, esta é uma Vulpes Vulpes, ou raposa vermelha, que é vulgar encontrar-se em qualquer sitio vagamente habitado de Portugal, sendo geralmente um animal muito arisco, mas esta era bastante atrevida, não se fazendo nada rogada, e com uma subtileza notável, ia-nos subtraindo de toda a comida que tinha restado na mesa, tendo sido apenas denunciada pelo o barulho que fez num saco pendurado na mesa com garrafas vazias.

Estivemos no cimo da Serra mais de 12 horas, e houve tempo para simplesmente ficar sentado a olhar o céu por longos períodos, e posso afirmar que a actividade meteórica não foi muito intensa, mas algumas Leónidas decidiram entrar mais cedo e também alguns meteoros esporádicos.

IC 2118 - "Cabeça da Bruxa"
IC 2118 - "Cabeça da Bruxa"
Luminância

A imagem é um dos resultados de 21 exposições de 4 minutos a 1600 ISO usando uma Nikon D70 e o Takahashi Sky-90 a f/4.5 em cima duma Takahashi P2-Z . Esta nebulosa é extremamente ténue, e mesmo com 4 minutos a f/4.5 ISO 1600 mal se notava a sua presença.

A IC 2118 é uma nebulosa de reflexão também conhecida por "Cabeça da Bruxa" (o nariz corcovado é aquele apêndice no meio da imagem - falta completar o resto) situada na gigantesca mas esguia constelação Eridanus ("Rio"). Não foi de modo nenhum acessível visualmente, embora com o binóculo talvez suspeitei que pudesse por lá haver alguma coisa, mas longe da forma captada na imagem, os filtros não ajudam em nada neste tipo de nebulosa, bem pelo contrário, precisamos de toda a luz que houver.

Esta nebulosa de reflexão que se pensa ter tido origem na explosão de uma supernova, é em parte iluminada pela supergigante azul Rigel (Beta de Orion) que contribue para sua cor azul, sendo o resto causado por dispersão da poeira interstelar num processo muito semelhante que faz com que o nosso céu seja azul.

A sua distância varia entre os 600-1000 anos-luz conforme a fonte.É de facto uma nebulosa enorme, ocupando em extensão quase a totalidade do campo 3x2 graus do campo disponível da Nikon D70, situando-se ainda numa região com muita nebulosidade de emissão e com uma boa densidade de estrelas, e, como se não bastasse para a confusão, também se podem encontrar algumas galáxias, sendo a mais brilhante e notória a de perfil NGC 1752 no topo esquerdo.

Foi uma grande noite fechada por um fulgurante Vénus. A não perder o relato e imagens no atalaia.org


Outros relatos serranos:


Pátio 261 - Leónidas 2007

2007.11.18
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)

As únicas Leónidas que vi foi no fim-de-semana passado.... Da chuva dos restos deixados pelo cometa 55P/Tempel-Tuttle, só caíram apenas uns pinguitos e julgo que consegui a extraordinária proeza de ter estado um total 4 horas no pátio na madrugada e noite do dia 18, a olhar para o zénite/nascente e não conseguir observar UM ÚNICO meteoro, nem sequer um esporádico... O céu esteve sempre limpo com uma magnitude zenital limite perto de 4, que daria para ver perfeitamente alguns meteoros mesmo que que não muito brilhantes. Mas ficou a vista da Mirfak embaciada pelo 17P/Holmes.

A título de consolo, fica a imagem abaixo que é um teste de focagem com apenas 2 minutos tendo sido feita na Serra da Estrela na semana passada. Consegue-se ver o que julgo ser uma pequena leónida (a orientação parece vir do radiante), que provavelmente teria sido visível a olho nu. É normal a actividade meteórica começar alguns dias antes, e acabar uns dias após os picos de actividade previstos. As Leónidas são meteoros muito rápidos, chocando com a nossa atmosfera a mais de 70 km por segundo (cerca de 250000 km/hora!!), sendo a grande maioria não muito brilhantes e geralmente só as mais brilhantes ficam registadas nas imagens.

Uma lénida em Orion
Uma leónida em Orion

Pátio 262 - Marte

15/12/2007
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)

Marte vai atingir o perigeu no dia 18 às 23:51, ou melhor, a Terra vai galgá-lo, visto ser o planeta mais rápido. Nesta aparição, encontra-se a pouco mais 88 milhões de quilómetros, a brilhar -1.6 magnitudes durante toda a noite , e que na ausência de Júpiter é o planeta superior mais brilhante.

Marte (20071216 01:03 UTC)
Marte 20071216 01:03 UTC
Takahashi Sky-90 f/49 (4450mm)+Toucam 0.26"


Sky90Na altura da imagem, o seu tamanho aparente era significativamente inferior ao da oposição favorável em Agosto de 2003, com apenas 15.85 segundos de arco de diâmetro. É possível notar-se o limbo Oeste ainda não completamente iluminado pelo o Sol. A longitude heliocêntrica (posição angular na sua órbita) é de quase 90º, significando que se encontra praticamente no Equinócio de Primavera (para os marcianos do hemisfério Norte, claro), apresentando o típico "véu" denso branco-azulado no pólo Norte devido ao degelo, formando neblinas que também se podem ver no limbo Oeste como neblinas matinais.

O meridiano central da imagem é 314º, correspondendo sensivelmente às coordenadas da Syrtis Major, que é das maiores superfícies escuras de Marte (albedo), que mesmo um telescópio de 60mm consegue facilmente discernir. A região mais clara às 6 horas trata-se da grande bacia de impacto Hellas com 2100 km de diâmetro e perto de 9 km de profundidade. Na imagem, o Norte é para cima e Oeste para a direita.

O intervalo entre as aparições do planeta vermelho, varia entre 764 e 810 dias, não sendo portanto, de desprezar nenhum destes eventos, mesmo que o planeta tenha quase metade do tamanho quando comparado com uma aparição favorável (chamada também de periélica), em que pode ultrapassar os 25 segundos de arco. Infelizmente, estas oposições surgem num período médio de 15 anos, mas aquelas que são realmente próximas como a de 2003, apenas acontecem de 79 em 79 anos (Meeus, More mathematical Astronomy Morsels).

Desta vez, a sua oposição irá dar-se no dia 24. A oposição (ponto em que a Terra se encontra exactamente entre Marte e o Sol), quase nunca é coincidente com o perigeu (ponto mais próximo da Terra) devido à grande excentricidade da órbita de Marte, que pode causar uma grande disparidade de aproximação entre duas oposições, podendo ser estas tão próximas a cerca de 56 milhões km, e tão afastadas a 100 milhões km. A menor distância não é uma simples subtracção entre os pontos de afélio da Terra e do periélio de Marte, porque tem que se ter em conta a inclinação das órbitas de ambos os planetas, que fazem com que a distância mínima seja um pouco superior.

A título de curiosidade, apenas em 25 Setembro do ano 3818, é que Marte estará mais próximo em 4000 anos, a uns modestos 55.442.451 km, sendo nessa altura até possível observar as bases lá instaladas usando o nosso telescópio orbital particular, mas entretanto, fica acima um exemplo do que se pode obter com um telescópio "smokey-pateo-based" com 90mm de abertura, também este na sua configuração planetária com um aspecto de papa-formigas alienígena...


Pátio 263 - Marte em Oposição e Conjunção

2007.12.24
Pátio (Leiria 39.75N 8.82W alt. 60m)

Um dia cheio de acontecimentos. É hoje que o nosso planeta vai estar precisamente entre Marte e o Sol, e que em modo de comemoração, fez um belo par com uma Lua acabadinha de ficar cheia. Ambos mostravam praticamente a mesma fase, 99.96% e 99.87% respectivamente, ficando a pouco menos de um grau perto das 3 da manhã, com Marte chegando à oposição 14 horas depois. Como habitual, é um evento muito mais espectacular ao vivo.

Marte e a Lua (20071224 0003 UTC)
Marte e a Lua 20071224 0003 UTC

Imagem obtida com uma objectiva 28-80 a 1/4 seg. f/11 com a ajuda de uma colher de pau pequena de fazer refugados a amortecer o brilho da Lua, que estava cerca de 25000x mais intenso que o do seu companheiro avermelhado.


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