2024

Janeiro
Pátio 357 - As Sete Princesas, o Vagabundo e a Convidada
Março
Pátio 358 - Lua Cheia Poeirenta
Abril
Sra. do Monte XVII - Cometa 12P/Pons-Brooks I
Pátio 359 - Cometa 12P/Pons-Brooks II
Sra. do Monte XVIII - Cometa 12P/Pons-Brooks III
Sra. do Monte XIX - Júpiter e Urano

Pátio 357 - As Sete Princesas, o Vagabundo e a Convidada

2024.01.06
Pátio (Leiria 39ºN 08º48'W alt. 130m)

O objectivo desta sessão foi testar a colimação do CN-212 e usar a função GO-TO da EM-200, mas acabou por durar mais de 5 horas, porque o céu esteve razoavelmente limpo... Já fazia algum tempo que não observava com o CN-212 na configuração Newton. Montei o aparato na frente do pátio, de onde posso ver a estrela polar, aproveitando para anotar a inclinação da equatorial, para tentar pôr a montagem o mais alinhada quando a uso na varanda virada para Sul, de onde não consigo ver a polar.

Usar o GO-TO revelou-se divertido e eficiente, especialmente útil neste céu absolutamente poluído. Esta função portou-se muito bem, acertando com uma boa precisão, e quando não era na "mouche", era lá perto. Apontei para vários objectos, passando por muitas estrelas brilhantes: O primeiro foi o planeta Júpiter que é sempre um bom alvo, que na altura, estava com o satélite Ganimede quase a iniciar o seu trânsito, passei de seguida para o planeta Urano, que estava lá perto, e por uma lista de objectos de céu profundo: galáxia Messier 33, a Galáxia NGC 891, enxame 752, a galáxia NGC 7331 (não detectada), o enxame NGC 457, galáxias Messier 31,32 e 110, a nebulosa planetária Messier 76 (não detetada), a Messier 34 e finalmente Messier 45. Escusado será mencionar que as vistas foram todas abaixo de mediocre, e alguns objectos nem sequer consegui detetar. Mas promete ser interessante quando estiver sob um céu escuro.

Para referência futura, fiz uma tabela com as ampliações das oculares que uso neste telescópio:

| Ocular f/3.9 820mm 0.55" | magX| campo| pupila | mag. | com a Powermate 2.5x
| Panoptic 24 | 34x | 2.0º | 6.5 mm | 12.5 mag. | 85x | 47.8' | 2.5 mm | 13.5 mag.
| Kasai ortoscópica 12.5 | 66x | 39.3'| 3.2 mm | 13.2 mag. | 164x| 15.4' | 1.3 mm | 14.2 mag.
| Nagler 9 | 91x | 54.0'| 2.3 mm | 13.6 mag. | 228x| 21.6' | 0.9 mm | 14.6 mag.
| Nagler 7 | 117x| 42.0'| 1.8 mm | 13.8 mag. | 293x| 16.8' | 0.7 mm | 14.8 mag.
Takahashi CN-212
Takahashi CN-212 na configuração newtoniana
Em modo visual e fotográfico

Estava eu precisamente no Messier 45, "Plêiades" ou "Sete Irmãs", quando decidi aproveitar para fazer alguns testes fotográficos, sendo um procedimento tão simples como tirar a ocular e colocar a câmara com o corretor de coma incluido no "kit" newtoniano que é também de 2". Este é o tipo de simplicidade que aprecio, permite fazer instantâneos sem grandes complicações.

Este jovem e popular enxame, a 444 anos-luz e com uma idade de apenas 150 milhões de anos, é conhecido desde a antiguidade, e tem muitas estrelas brilhantes com nomes perfeitos para dar a gatos: Atlas, Electra, Maia, Merope, Taygeta, Pleione, Celaeno, e Asterope, todas elas azuis do tipo B, muito quentes e brilhantes. Faz lembrar uma pequena Ursa Maior.

Como este enxame é enorme e tem muitas estrelas, serviu como um bom alvo para verificar a correção do campo com Canon 6dII que cobre nesta configuração uma área de 2.5 x 1.7 graus com uma resolução de 1.44". Não corrige o campo todo, o que era expectável, mas é possível usar os 40-50% do centro da imagem. A colimação estava razoável, mas preciso é apertar tudo, e muito bem ajustado, e sem inclinação, senão resulta em coma (aberração comática) em todo o lado.

É moroso e complicado focar a f/3.82 - tive que usar uma lupa no ecrã da câmara para ajudar, e mesmo assim, não tinha muita certeza. Comparando com o f/4.52 que é a relação focal do Sky-90 com redutor, é necessária 1.4x mais tempo de exposição do que o CN-212, ou por outras palavras, seriam necessário 100 segundos de exposição no Sky-90 contra 60 segundos no CN-212 para ter a mesma quantidade de brilho no sensor, tendo este último, o dobro da resolução.

A imagem abaixo não está na resolução da aquisição, tendo sido "binada" duas vezes - na prática, quadruplicando o tempo de exposição, à custa da resolução. Esta técnica permitiu obter muita da nebulosidade presente na imagem. Também serviu para verificar que a EM-200 permite sem perdas, pelo menos 1 minuto de exposição na resolução de amostragem de 1.44", sem auto-guiamento. Dá para brincar aos astrofotografos.

Messier 45
Messier 45
Takahashi CN-212 f/3.82 (810mm) Canon 6DMkII 5.76" 77'x77' (bin4)
exp: 15 min. (15x60 seg.) 1600 ISO

Antes de seguir para o Messier 1, passei pela gigante vermelha Aldebaran, a Alfa Tauri, para mim, o "olho" do dito Touro, em cuja a constelação passei o resto desta sessão.

Aldebaran
Aldebaran
Takahashi CN-212 f/3.82 (810mm) Canon 6DMkII 1.44" bin4
exp: 30 seg. (1x30 seg.) 1600 ISO

Enviei o telescópio para a Zeta (ζ) Tauri, (Tianguan, SAO 77336), que é uma das "pontas do corno" do Touro, que na altura passava por perto o asteróide (4) Vesta de magnitude 6.7, 99.53% iluminado, que pode, em condições favoráveis, chegar a 5.1. Este asteróide, com um diâmetro de 501±24 km (o segundo maior depois de Ceres), dá a volta ao Sol cada 1325 dias e tem uma rotação de 5.342 horas. Neste momento está a 1.62 AU (242 milhões de quilómetros) e tem um movimento aparentemente de cerca 34" por hora. Está exactamente no centro da imagem.

Descoberto em 29 de Março de 1807 por Olbers, H. W. em Bremen, dando o nome da Deusa virgem do Lar e Terra da mitologia romana. Ver esta página bem completa e referenciada,

Vesta
Asteróide (4) Vesta 2024-01-07 00:14 UTC
Takahashi CN-212 f/3.82 (810mm) Canon 6DMkII 1.44"
exp: 30 seg. (1x30 seg.) 1600 ISO

O remanescente de supernova Messier 1, também conhecida por "Nebulosa do Caranguejo" já foi por diversas vezes relatado e fotografado aqui no pátio, nomeadamente em 2004 na Atalaia, e em 2008 em Fronteira, Portalegre.

A Messier 1 é fácil de encontrar, pois encontra-se perto, a cerca de meio grau, da Zeta (ζ) Tauri atrás mencionada. Estive perto de 2 horas a fazer exposições desta nebulosa mas só se aproveitaram 12... As nuvens altas estragaram dúzias de exposições. E também tentar não me esquecer de pôr a câmara no modo "BULB"...

Esta nebulosa foi pela primeira vez relatada por John Bevis (1695–1771), quando estava a tentar encontrar a "estrela convidada", como os chineses da dinastia Sung lhe chamaram, e registaram em 4 Julho de 1054. Foi tão brilhante como o planeta Vénus, sendo visível em pleno dia durante 23 dias, e 30 vezes mais durante a noite. O Messier também a descobriu independentemente, quando esteve a procurar o cometa de 1758, adicionando-a em 1771 como o primeiro objecto da sua famosa lista de "não-cometas", dando posteriormente o devido crédito a Bevis.

Esta nebulosa é o que resta da explosão solar cataclísmica, por outras palavras, uma supernova, ocorrida bem perto de nós, há quase mil anos, a 2.08 (+0.78−0.45) kpc de distância segundo o Gaia EDR3 (entre 5300 e 6784 anos-luz). Tem um pulsar (PSR B0531+21) de magnitude 16 no seu centro, que está na imagem mas não resolvido, e uma nebulosa com várias massas solares de material ejectado pela a explosão, espalhadas por cerca de 10 anos-luz, expandindo correntemente (ou seja há 6000 anos atrás) a uma velocidade de 1500 quilómetros por segundo.

Os pulsares são estrelas de neutrões densas com 20-30 quilómetros de diâmetro, com períodos de rotação muito rápidos, criando um forte campo magnético e emissão em todo o espectro, que vai do rádio até aos raios gamma. O pulsar desta nebulosa gira a 30.2x por segundo! é um objecto tão extremo e próximo que não admira que tenha tantos artigos científicos, mais de 6000.

Messier 1
Messier 1
Takahashi CN-212 f/3.82 (810mm) Canon 6DMkII 1.44" 20'x20'
exp: 6 min. (12x30 seg.) 1600 ISO

Bibliografia:


Adenda "geek"

Lupa Eschenbach 10x

Eschenbach 10x A Canon 6d que uso na astrofotografia, tem o LCD reclinável que permite visualizar as imagens, sem me obrigar a fazer posições contorcionistas, mas apenas aumenta 10x para verificar a focagem. Não é suficiente para um telescópio a trabalhar a menos de f/4, e ainda menos com o astigmatismo galopante de que padeço, agravado na visão nocturna, porque as pupilas aumentam, exacerbando ainda mais o problema.

Solução: uma lupa. Esta lupa é de 10x é aplanática (não deforma geometricamente), e se a colocar em cima do LCD, parece-me dar uma magnificação de 2x-3x, o suficiente para ter um pouco mais certeza na focagem. Provavelmente qualquer lupa serve, mas esta tem pinta e dá para por no bolso.

Takahashi Telescope Tracer 2000

Aproveitando novamente a máquina virtual do Windows 11 ARM, instalei o Telescope Tracer 2000 (Pegasus 21), um programa da Takahashi feito para o Windows 9x/NT2000/XP. Esta vetusta aplicação usa uma porta série para controlar a montagem EM-200. Já se está tornar um pouco ridículo o comboio de conversores e virtualizações para ligar à montagem - cabo série RS-232 -> conversor para USB -> conversor para USB-C, tudo isto para usar um programa Intel de 32 bits, virtualizado no Windows ARM de 64 bits, que por sua vez é virtualizado no macbook, e finalmente usa uma porta série COM duplamente virtualizada... e funciona sem se engasgar, mesmo com os dois computadores a entrar em pausa!

Também interessante, foi o macbook ter apenas gasto 20% da bateria em cinco horas e com temperaturas relativamente baixas (7-8 graus). Para as saídas de campo, apenas vou precisar de fornecer 12V à montagem, provavelmente usando a ficha de isqueiro traseira do carro como um gigantesco "powerbank".

takahashi TT2000
Telescope Tracer 2000

Pátio 358 - Lua Cheia Poeirenta

2024.03.25
Pátio (Leiria 39ºN 08º48'W alt. 130m)

Lua cheia empoeirada pela as areias do Sahara, registada com a câmara telefoto de 5x óptico do iPhone. O sensor desta câmara é o Sony iMX913 com um tamanho de pixel de 1.12 mícron. Clicar na imagem para resolução total.

Lua 20240325
Lua 20240325 00:26 UTC
Iphone 12MP 5x Telefoto 120mm f/2.8 14.9"
exp: 1/33 seg. 640 ISO

Sra. do Monte XVII - Cometa 12P/Pons-Brooks I

2024.04.01
Sra. do Monte - Cortes (39.68N 8.75W alt. 395m)

cometa 12p P/Pons-Brooks 20240401 195723Já há alguns dias que aguardava ter uma oportunidade de ver este cometa, que neste momento, está iluminado 92%, e com a magnitude estimada em 5.1, portanto visível a olho nu em locais escuros. Na altura da imagem, estava a 1.611 AU, um pouco mais de 240 milhões de quilómetros, e a mover-se 1 grau por dia em RA e -0.6 grau em declinação (está a baixar) aproximando-se gradualmente do Sol, que já brilha um palmo bem aberto abaixo, a ceca de 27.5º.

Com um período de 71.37 anos (26068.8 dias), tem uma órbita muito semelhante ao cometa Halley (75.3 anos), aproximando-se 0.78 AU do Sol (periélio), que será 21 de Abril deste ano, e 33.6 AU no afélio, distância para lá da órbita de Neptuno. Tem uma órbita estável, pois devido à sua grande inclinação de 74.2º, passa muito pouco tempo na eclíptica (plano do sistema solar), daí ser pouco perturbada pelos os planetas.

Estará no seu ponto mais próximo da Terra (afélio) em 2 de Junho, a 1.55 AU (232 milhões de quilómetros), mas não será visível nestas latitudes.

Este cometa foi descoberto em 1812 por Jean-Louis Pons, e redescoberto em 1883 por Robert Brooks. Esta é a quarta vez que nos visita desde a sua descoberta, estando a próxima marcada para o final do século (2095)...

Apesar das condições atmosféricas, no binóculo 16x70, o coma (cabeleira) esteve perfeitamente notório(a), e em alguns momentos, pareceu-me supreendemente grande, pelo que arriscaria estimá-lo um pouco mais brilhante do que a magnitude 5.1. Com a nebulosidade, e por ainda estar no crepúsculo náutico, como bem mostra a imagem de grande campo ao lado, não me foi possível determinar muito mais.

A imagem abaixo foi registada 20 minutos depois, em que se nota, além da expectável cor esverdeada, alguns indícios da cauda. A estrela mais brilhante da imagem, com magnitude 2.0, é a alfa (α) Arietis (Hamal (na tradução direta do árabe "cordeiro") ou Aleixo), da constelação Aries, O Carneiro.

É uma gigante laranja (K2III) a 65 anos-luz, tem 14.7 vezes maior que o nosso Sol e 60x mais luminosa, apesar de ter apenas mais 50% de massa. É uma das poucas estrelas em que foi medido diretamente o seu tamanho, 0.00680 segundos de arco, equivalente a observar um penny (americano) (19.05mm), que é equivalente a mais ou menos uma moeda de 10 cêntimos (19.75mm), a 60 quilómetros de distância. E como é cada vez mais frequente, suspeita-se que tem pelo menos um (exo)planeta.

,
cometa 12p P/Pons-Brooks 20240401 195723
Cometa 12P/Pons-Brooks - 19:57:23 UTC
Canon 6DMkII 200mm f/4 6" 160'x160'
exp: 8 seg. (1x8 seg.) 1600 ISO

Bibliografia e recursos:


Pátio 359 - Cometa 12P/Pons-Brooks II

2024.04.02
Pátio (Leiria 39ºN 08º48'W alt. 130m)

Desta vez, houve uma aberta para um registo mais detalhado. O cometa está cada vez mais baixo, existindo apenas uma pequena janela de oportunidade entre ficar o suficientemente escuro, e o começar a mergulhar na cúpula da poluição luminosa... Foi visível no binóculo 16x70, mas não a olho nu, nem sequer vislumbrei a Hamal, a alfa Arietis, que tem uma magnitude de 2. Clicar aqui para ver uma imagem panorâmica.

A imagem abaixo foi processada de modo a salientar a cauda, que aparenta ter cerca de 1 grau nesta imagem.

cometa 12p P/Pons-Brooks 20240402 2008
Cometa 12P/Pons-Brooks- 20:08 UTC
Canon 6DMkII 200mm f/4 6" 80'x80'
exp: 152 seg. (19x8 seg.) 800 ISO

Sra. do Monte XVIII - Cometa 12P/Pons-Brooks III

2024.04.09
Sra. do Monte - Cortes (39.68N 8.75W alt. 395m)

Desta vez, a previsão de ter o horizonte oeste mais limpo, convenceu-me a usar equipamento um pouco mais "pesado" para ficar com uma recordação mais condigna deste cometa.

Mas o objectivo principal, foi tentar observar o crescente lunar muito fino, após o eclipse solar total que atravessou o México, Estados Unidos e Canadá. Este eclipse, apenas pôde ser observado parcialmente nos Açores, que deve ter sido semelhante aquele que tive oportunidade de registar em 2017, também este parcial, que foi particularmente impressionante.

Os ocasos do Sol na Sra. de Monte, a quase 400 metros de altitude, são por vezes, momentos de rara beleza. E se puder, faço questão de chegar a tempo de os ver.

Embora as cores predominantes sejam o laranja e vermelho, por vezes surgem outras cores que não se está propriamente à espera. Neste caso a cor verde (clicar na imagem), que pode surgir imediatamente antes do Sol mergulhar no horizonte, em que a atmosfera actua como um gigantesco prisma, dispersando as cores. Este fenómeno é observado frequentemente a grandes altitudes e com uma atmosfera estável, oque não foi bem o caso. Esta página da European Southern Observatory (ESO) explica o fenómeno.

por do Sol 20240409 1908
Sol - 19:08 UTC
Takahashi Sky-90 f/4.5 (407mm) + Canon 6DMkII 2.92"
exp: 1/4000 seg. 400 ISO

A Lua ainda estava relativamente próxima do seu perigeu, que foi em 2 de Abril, a 361,270 km, apenas distanciada 13.5º do Sol, e apresentando uma fase de 1,39% iluminada pelo o Sol, correspondente a uma idade de 24 horas e 43 minutos. O brilho da luz da Terra reflectida na parte da noite lunar foi bastante óbvio - na Lua está "Terra cheia", como já tive ocasião de explicar aqui.

Este não foi propriamente um recorde. Em 2006, na S.Pedro de Moel, registei um crescente fino com 18 horas e 15 minutos (0,77%), assim como este minguante em 2004, de 20 horas e 40 minutos (0.9%), que teve honras de publicação na revista Sky & Telescope.

Lua 20240409 1949
Lua - 19:49 UTC
Takahashi Sky-90 f/4.5 (407mm) + Canon 6DMkII 2.92"
exp: 1/4 seg. 400 ISO

O cometa continua a sua visita ao Sistema Solar interior, parecendo-me um pouco maior e mais brilhante no binóculo 16x70. Em relação há uma semana atrás, está 3 graus mais próximo do Sol (24.32º). Está quase a chegar ao seu periélio a 21 de Abril. Clicar na imagem para resolução total.

cometa 12p P/Pons-Brooks 20240409 2016
Cometa 12P/Pons-Brooks - 20:16 UTC
Takahashi Sky-90 f/4.5 (407mm) + Canon 6DMkII 2.92" 80'x80'
exp: 3 min. (12x15 seg.) 800 ISO

E antes de arrumar, fotografei duas estrelas supergigantes de magnitude 0 que tornam o céu nocturno mais colorido: A Betelgeuse (alfa orionis), o ombro direito do guerreiro de Orion, e a Rigel (beta orionis), o seu pé esquerdo.

A Betelgeuse é da classe espectral M1-M2Ia-Iab, com uma temperatura de 3600 ± 25 K, segundo este estudo recente está a uma distância de 168 pc ± 27,15 (~548 anos-luz), tem uma massa de 16.5-19M☉ e um raio de 764 ± 116,62R☉.

Por outro lado, a Rigel (B8Iae), com uma temperatura de 12700 K, neste estudo está a uma distância de 2600 ± 200 pc (~8480 anos-luz), com uma massa solar cerca de 17M☉, uma luminosidade de 123000L☉, e um raio de 72R☉.

Ambas são muito jovens, com uma idade estimada de 8 e 10 milhões de anos respectivamente, e estão a caminho de terminar numa supernova, mais cedo no caso da Betelgeuse (300000-500000 anos), e daqui a 2 milhões de anos para a Rigel, ocasião em que vão poder atingir um brilho de -11 ou -12 de magnitude, mais de 6000x o brilho da Sirius, a estrela mais brilhante do nosso céu. As estrelas de grande massa são raras, porque têm uma vida efémera, mas para compensar, é fulgurante e terminam da maneira mais espectacular.

BetelgeuseRigel
Betelgeuse & Rigel
Takahashi Sky-90 f/4.5 (407mm) + Canon 6DMkII 160'x160'
exp: 100 seg. (5x20 seg.) 800 ISO

Bibliografia e recursos:


Outros cometas aqui no Pátio


Sra. do Monte XIX - Júpiter e Urano

2024.04.22
Sra. do Monte - Cortes (39.68N 8.75W alt. 395m)

Apesar do Cometa 12P/Pons-Brooks já se encontrar demasiado perto do Sol, tentei ainda pela última vez observá-lo no seu periélio que aconteceu no dia anterior, altura em que supostamente estaria mais brilhante. Não tive sorte, nem mesmo com o binóculo.

Mas o que realmente me trouxe à Sra. do Monte. foi uma interessante conjunção dos planetas Júpiter e Urano, que foi registada após o por do Sol, a um pouco menos de 20º deste último. A sua maior aproximação foi no dia 21 às 3:09 UTC, distando apenas meio grau (30'), com pouco mais no momento desta imagem (34').

Não consegui ver o planeta Urano no binóculo 16x70, talvez por o planeta ter uma cor esverdeada/azulada, logo, mais difícil de contrastar com o céu ainda bem azul.

Júpiter brilhava com -2.0 magnitude, com um tamanho aparente de 33.14", 5.95 AU (~890 milhões km), e Urano bem mais modesto a brilhar a 5.8, com um tamanho de 3.43", a 20.54 AU (~3000 milhões km), cerca de 3.6x mais afastado.

Os satélites de Júpiter são a partir de cima, Callisto, Ganimede, Io e Europa. Reparar nas magnitudes muito semelhantes a Urano.

por do Sol 20240409 1908
Júpiter e Urano - 19:08 UTC
Takahashi Sky-90 f/4.5 (407mm) + Canon 6DMkII 2.92"
exp: 1/2 seg. 400 ISO

Enquanto esperava por esta conjunção, o pôr do Sol passou por umas distorções atmosféricas bem interessantes. Ver o filme.

por do Sol 20240422 por do Sol 20240422 por do Sol 20240422 por do Sol 20240422

As alfas dos dois cães celestes, o maior e o menor. Sirius (alfa Canis Majoris) e a Procyon (alfa Canis Minoris).

a Sirius é correntemente a estrela mais brilhante do nosso céu nocturno, com uma magnitude de -1.48, da classe espectral A0mA1Va (sub-gigante branca), com muitas de absorção indicando elementos pesados metálicos, e está situada a apenas 8.60±0.04 anos-luz. Tem um massa solar de 2xM☉ e um raio de 1.7xR☉.

A Procyon, de magnitude +0.34, é da classe F5IV-V+DQZ (sub-gigante amarela), com 1.5x M☉ e um raio de 2xR☉, está a 11.46 ± 0.05 anos-luz.

Estas duas estrelas têm uma particularidade em comum, ambas são orbitadas por um tipo de estrela, anãs brancas, que se designam também por estrelas degeneradas. São elas:

Sirius-B

Prevista existir por Friedrich Wilhelm Bessel em 1844, ao observar alterações do movimento próprio da Sirius, foi pela primeira observada por Alvan Clark em 31 de janeiro de 1862.

A Sirius-B tem uma magnitude de +11.18, sendo 116000x mais ténue que a Sirius-A. Tem uma massa de 1.018±0.011 M☉, um raio de 0.0084±3% e uma classificação espectral DA2, sendo a anã branca mais massiva que correntemente se conhece, com perto do dobro da média. A sua massa está condensada num volume semelhante ao da Terra. A temperatura à superfície é cerca 25200 K. A estrela original estima-se ter sido uma estrela tipo B com 5 M☉, que parece ter contribuído para a metalicidade da Sirius-A quando passou pela a fase de gigante vermelha. Orbita a Sirius-A num período de 50.1 anos numa órbita de 20 AU, vagamente semelhante à do planeta Urano.

Segundo o Stelle Doppie, neste momento é uma boa altura para a tentar observar, pois a separação entre os componentes A e a B está perto do máximo (11.3").

				ANO	THETAº	RHO"
				2023	62.5	11.333
				2024	60.7	11.313
				2025	58.8	11.256
				2026	57.0	11.163
				2027	55.1	11.032
				2028	53.1	10.861
				2029	51.1	10.648
				2030	48.9	10.392
			

Procyon-B

Mais uma previsão de Friedrich Wilhelm Bessel em 1844, órbita calculada por Arthur Auwers em 1862, e observada pela a primeira vez em 1869 por John Schaeberle no refrator de 36" do Lick Observatory.

A Procyon-B tem uma magnitude de +10.80, sendo 28500x mais ténue que a Procyon-A. Tem uma massa de 0.602±0.015 M☉, e um raio de 0.01234±0.00032 R☉, com uma classificação espectral DQZ, indicadora de uma atmosfera dominada por hélio e traços de elementos pesados. A massa original da estrela que a originou era cerca de 2.59+0.22−0.18 M☉, e terminou a sua vida cerca 1.19 milhares de milhões de anos, depois de ter tido uma vida na sequência principal 680±170 milhões de ano.

Segundo o Stelle Doppie, também se encontra numa altura favorável para observação, com uma separação de pouco mais de 5".

				ANO	THETAº	RHO"
				2023	338.3	4.983
				2024	343.4	5.036
				2025	348.4	5.077
				2026	353.4	5.107
				2027	358.2	5.128
				2028	3.1	5.141
				2029	7.9	5.146
				2030	12.8	5.142
				

A Sirius e a Procyon e as suas companheiras estão na minha lista de observação. A separação das estrelas, 11" e 5" respetivamente, não são propriamente o desafio, estando até ao alcance de um binóculo de 50mm, mas sim a enorme diferença de brilho, 116000x e 28500x, que dificulta enormemente a sua deteção.

A Antares-B, outra binária desafiante, mas com uma anã azul, foi até à data a única que consegui observar, tanto visualmente como em fotografia numa saudosa ida em 2009 ao Pulo do Lobo, Serpa.

SiriusSirius
Sirius & Procyon
Takahashi Sky-90 f/4.5 (407mm) + Canon 6DMkII 160'x160'
exp: 100 seg. (5x20 seg.) 800 ISO

Sobre as anãs brancas

As estrelas de baixa massa, como o nosso Sol, quando chegam a uma fase muito adiantada da sua vida, parecem perder o envelope de hidrogénio, resultando num núcleo de carbono e oxigénio envolvido por um envelope de hélio. Tipicamente a massa restante varia entre 0.5 e 0.7 M☉, dependendo da massa inicial da estrela e da abundância de metais na altura. A densidade é tal que os electrões do núcleo se encontram num estado degenerado.

Uma analogia interessante sobre a degeneração dos electrões é a de ser semelhante à claustrofobia humana. O que acontece é que a espaço onde a nuvem de eletrões costumavam "habitar", ou seja a sua célula, é comprimida 10000 vezes. Este grande confinamento causa uma vibração incontrolada do eletrão que se vê num espaço muito mais pequeno para existir, havendo também muitos choques com eletrões adjacentes. Segundo as leis da Mecânica Quântica, este movimento (também chamado degenerado) é imparável e irreversível. Nem sequer baixando a temperatura até ao zero absoluto.

Devido à pressão causada pelos os electrões degenerados, que não muda com a temperatura (neste caso a descer), contra-balanceia com a gravidade e faz com que estrela pare de contrair o seu volume, apenas perdendo muito lentamente o calor do seu interior para a superfície, mas num período que se estima poder durar milhares de milhões de anos para arrefecer completamente.

O interior destas estrelas não é o suficientemente quente para iniciar reações nucleares, mas ainda o quente suficiente para fornecer energia à superfície, daí as suas altas temperaturas, bem superiores à do nosso Sol correntemente. Efetivamente, deixam de ser estrelas porque já não produzem activamente energia, mas sim um remanescente estelar a arrefecer lentamente.

O livro de Kip Thorne, ver bibliografia abaixo, contém um capítulo muito interessante sobre a história da compreensão deste estágio final de estrelas que, no início do século XX, punha os astrofísicos perplexos, pelo o seu estado avançado de evolução e com a elevada densidade observada. Este mistério levou o então jovem Chandrasekhar a calcular que o limite de massa máximo de uma anã branca não podia exceder as 1.4 M☉. Este também é o limite superior ao qual uma estrela pode explodir numa supernova.


Bibliografia e recursos: